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Luciano Costa
Juros e Selic. Foto: iStock

Juros e Selic. Foto: iStock

Ponto de inflexão do cenário 

Quando a crise sanitária de covid ganhou força em 2020 e obrigou governos a fecharem comércios, serviços e outros tipos de negócios, surgiram sinais de preocupação importantes em relação ao andamento da economia global. Com estímulos, em grande parte realmente necessários, e a quebra das cadeias produtivas, vimos uma escalada da inflação que há muito tempo não era observada.

Partes do mundo que antes mal sabiam o que era lidar com a alta dos preços precisaram adotar políticas monetárias mais duras a fim de conter os choques para a população, especialmente, as parcelas mais vulneráveis.

Nos Estados Unidos, por exemplo, o CPI, que mede a inflação ao consumidor norte-americano, fechou o ano de 2021 com alta de 7%, a maior em quase 40 anos.

Isto fez com que o Federal Reserve (Fed) tivesse que elevar a taxa básica de juros de 0,25% a.a. atingida durante a pandemia para mais de 5% a.a. atuais com previsão de encerramento de ciclo em 5,25% a.a.

No Brasil, vimos o Banco Central adotar uma postura que chamamos de hawkish com a mesma finalidade: conter o aumento de preços. Por aqui, o IPCA, um dos principais indicadores inflacionários da nossa economia, fechou o ano de 2021 com alta de mais de 10%.

Para conter este movimento, a Selic saiu de 2,0% a.a em meados de 2020 para os mais de 13,75% a.a. atualmente, o que coloca o Brasil como um dos países com maior juro real no mundo.

Neste ponto, é importante destacar que entendemos que a política monetária adotada pelo Banco Central é correta e que os tão esperados cortes na taxa básica dependem de um fiscal mais equilibrado e de um ambiente externo mais benigno, o que, como vou discorrer a seguir, é o que tem acontecido.

Hoje, com os períodos de ajustes quase no fim, observamos o que os economistas costumam chamar de ponto de inflexão.

Em outras palavras, é quando uma linha ou curva passa de descendente para ascendente, ou vice-versa.

Felizmente, o que vemos é uma necessidade cada vez menor de juros mais altos, o que abrirá espaço para que os Bancos Centrais possam adotar políticas monetárias menos duras.

Fed deve pausar aumentos de juros

Nos Estados Unidos, por exemplo, o Fed deve pausar os aumentos de juros já na próxima reunião de junho e os riscos de uma recessão na economia norte-americana parecem cada vez mais distantes.

Isto porque os dados de consumo e de mercado de trabalho por lá estão melhores. Por outro lado, ainda que exista uma discussão sobre um possível calote da dívida pública norte-americana, obviamente, entendemos que se trata de um problema pouco provável como pudemos observar no noticiário recentemente.

Isto porque os Democratas já haviam admitido que ajustes seriam necessários e, tanto um quanto o outro grupo político, não quer tomar para si a herança de terem colapsado a economia do país.

Portanto, chegamos a um momento no qual precisaremos sentar e observar os próximos desdobramentos. Ainda temos uma inflação alta, porém, os efeitos acumulados da política monetária apertada começam a se materializar na economia como um todo.

Caso não surjam novos choques veremos uma queda gradual dos preços e espaço para cortes de juros pelo Fed.

Ainda que a taxa básica não caia antes do final do ano, o mercado já pode começar a trabalhar com a probabilidade de redução ao longo de 2024, o que deve ajudar os preços dos ativos.

É esperar e observar.

No Brasil, ainda que a votação do Arcabouço Fiscal tenha que passar pelo Senado, acreditamos que não teremos grandes alterações e, quando finalmente aprovada, tiraremos uma dúvida importante do cenário.

Em outras palavras, isto ocorre porque a falta de uma âncora com regras claras para as contas públicas acaba por dificultar a previsibilidade dos agentes de mercado e isso, de uma forma ou de outra, acaba bagunçando as projeções e atrapalha o andamento da economia.

No caso do Arcabouço apresentado pelo governo, ainda que persistam dúvidas sobre o cumprimento da trajetória de superávit primário, existem dois pontos favoráveis para um desfecho positivo:

  1. Foi criada uma regra de limite de aumento nos gastos. Desta forma, no ciclo favorável, as despesas podem ser reajustadas em até 2,5% (o teto estabelecido pela regra), e, no caso de descumprimento das metas de resultado primário, há mecanismos de correção.
  2. Maior previsibilidade na trajetória da dívida. Apesar de continuar em crescimento, a velocidade não é tão explosiva quanto se observava anteriormente.

Esses, sem dúvidas, são elementos a serem considerados pelo Banco Central nas próximas decisões de juros uma vez que o cenário, aos poucos, começa a ganhar contornos mais favoráveis.

Em outras palavras, vencemos uma etapa que era a questão fiscal, de como a regra funcionaria e sobre como o projeto ficaria após a aprovação do Congresso Nacional.

Passado este ponto, o que resta é o caminho para um cenário mais benigno olhando para 2024 e 2025 uma vez que muitas incertezas vão, aos poucos, perdendo força.

Com isso, as consequências tendem a ser de um ambiente mais favorável para os preços dos ativos e para uma apreciação do câmbio.

Em nosso cenário base, por exemplo, esperamos um Ibovespa na casa dos 125 mil pontos até o final de 2023 e o dólar na casa dos R$5 por dólar, mas podendo atingir no curto prazo um patamar de R$ R$4,85 por dólar.

Até lá, muitas coisas podem acontecer, boas ou ruins.

Como eu disse mais acima, é esperar e observar.

Bons negócios!

Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

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