ESG na advocacia: rumo a práticas jurídicas responsáveis e estratégicas
O conceito de Environmental, Social and Governance (ESG) está cada vez mais presente no mundo dos negócios como uma maneira de medir o desempenho de uma empresa em termos não apenas financeiros, mas também em sua contribuição para questões ambientais, sociais e de governança. Organizações que se concentram nessas áreas tendem a ser vistas como mais sustentáveis, éticas e socialmente responsáveis.
A ascensão dos eixos ESG tornou-se um farol orientador para organizações que buscam impactar positivamente não apenas seus acionistas, mas também colaboradores, comunidades locais e a sociedade em geral. Essa perspectiva se estende de forma essencial aos escritórios de advocacia, entidades intrinsecamente ligadas à administração da justiça em um Estado Democrático de Direito.
A construção do ESG nesse contexto fornece um direcionamento específico para a relevância social da advocacia, cujas bases podem ser rastreadas até a Constituição Federal de 1988. Com mais de 1,3 milhão de advogados, o Brasil lidera a proporção de profissionais por habitante no mundo, conferindo um potencial impacto significativo para a implementação de boas práticas por parte desses escritórios jurídicos.
Segundo a 3ª edição do especial Análise Advocacia Regional, o Brasil abriga aproximadamente 1,8 mil escritórios de advocacia. Esses números não apenas refletem o quão competitivo pode ser o mundo jurídico, mas também evidenciam a importância da inovação, do empreendedorismo e da estratégia na dinâmica dos escritórios. Nesse contexto, o ESG surge como uma tendência sólida, ganhando destaque ao fortalecer a confiança de potenciais clientes e parceiros nesse cenário jurídico em constante evolução.
Além dos benefícios genéricos frequentemente associados ao ESG, como a sustentabilidade, sua verdadeira natureza emerge como um instrumento de impacto positivo no negócio e nos stakeholders dos escritórios de advocacia, tornando-se um diferencial estratégico, especialmente à medida que a organização amadurece na definição dos temas ESG mais alinhados com seu contexto.
Diante desse cenário, é crucial compreender como os escritórios de advocacia podem abraçar o ESG em suas práticas diárias.
Os três eixos – ambiental, social e de governança – oferecem um guia para implementação, especialmente relevante para esses espaços jurídicos. Como aplicá-las nos escritórios:
- Ambiental: Embora não haja uma complexa cadeia de suprimentos, a eficiência energética, uso racional da água e gestão de resíduos são pontos críticos. Ações concretas incluem a adoção de tecnologias sustentáveis, como lâmpadas de LED e a conscientização dos colaboradores sobre consumo de energia e água, bem como a correta gestão de resíduos.
- Social: A promoção da diversidade e equidade interna é fundamental, juntamente com a atenção à saúde mental, prevenção ao burnout e combate ao assédio. Além disso, projetos sociais e assistência jurídica a grupos vulneráveis reforçam o compromisso social dos escritórios.
- Governança: Aqui, o foco está no Compliance e na Estrutura Organizacional. O primeiro estabelece um ambiente de conformidade e canais para relatar condutas antiéticas, enquanto o segundo cria previsibilidade nos papéis de liderança e tomada de decisões, impactando diretamente o ambiente interno.
Ao adotar essas e outras iniciativas alinhadas ao ESG, os escritórios de advocacia não apenas se posicionam como agentes de mudança social, mas também fortalecem sua credibilidade e relevância no mercado jurídico. A integração desses princípios não é apenas uma tendência, mas uma necessidade estratégica para a advocacia moderna, marcando um compromisso com um futuro ético e sustentável para todos os envolvidos.
A incorporação dessas práticas representa não apenas um movimento consciente, mas uma estratégia inteligente para enfrentar os desafios futuros, consolidando a posição dos escritórios de advocacia como líderes não apenas no âmbito legal, mas também como agentes de transformação social e ambiental. A adoção do ESG não é apenas uma escolha ética, mas uma decisão estratégica que moldará um futuro mais responsável e inclusivo para a advocacia.
*Lucca Mendes, Mestre em Gestão de Negócios pela Fundação Dom Cabral (FDC). Sócio administrador da Mendes Advocacia e Consultoria. Mestre em Administração – Gestão Contemporânea das Organizações com foco em Liderança em Escritórios de Advocacia pela Fundação Dom Cabral (FDC). Extensão em Empreendedorismo e Inovação na Universidade de Cambridge, Judge Business School (JBS). Extensão em Negociação na Harvard Law School (HLS). Presidente da comissão de estratégia e liderança em escritórios de advocacia da OAB/PA, 2019-2021