O prêmio do desconforto
Logo que nos interessamos pelo assunto “Investimentos”, a primeira frase que nos deparamos é: monte uma carteira adequada para o seu perfil e sinta-se confortável para o longo prazo!
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Essa é uma premissa básica que eu gostaria de concordar – porém, na prática isso não acontece na maioria das vezes. Não pelo fato de que a carteira não esteja adequada para o perfil, mas pela parte que cita seu conforto em relação aos investimentos.
Disclaimer: Se você entende que não tem perfil para renda variável e sua carteira está alocada 100% em títulos pós-fixados, tudo bem, você está isento nessa discussão. Para os demais, vale a reflexão que vou trazer.
Explico: Em uma pesquisa recente (14/08/23) da XP Investimentos com seus Assessores, observamos o comportamento dos clientes em relação à Renda Variável:
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Note que, desde o início do ano, o ímpeto dos clientes por alocação em Renda Variável se manteve baixíssimo, chegando a míseros 9% dos clientes pensando em comprar mais ativos da bolsa brasileira.
“Fenômeno” explicado pela performance do Ibovespa, que foi deplorável até final de abril, conforme imagem abaixo.
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Contudo, com a alta da bolsa brasileira a partir de maio, os anseios dos clientes mudaram totalmente. Repentinamente, mas não surpreendente, em junho, os investidores mostraram um enorme apetite para alocação em Renda Variável.
Em outro gráfico, reforçamos a mesma visão de que os investidores estão mais propensos a alocar em ativos de risco (Fundos imobiliários e Fundos de Ações) e menos interessados nos títulos de Renda Fixa, seja via Fundos ou Tesouro. Isso mesmo antes de qualquer sinalização de queda da taxa de juros.
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Essa correlação indica que, para nos sentirmos confortáveis com nossos investimentos, queremos sempre estar investidos na classe que está performando melhor nos últimos meses.
Porém, essa estratégia não é a vencedora e com certeza esse comportamento não vai gerar resultados acima da média. Por motivos óbvios, pois você estará copiando exatamente o que a média está fazendo e, além disso, estará sempre “chegando atrasado” e comprando mais caro do que se tivesse vencido seu desconforto e comprado nos meses anteriores.
Se você quiser sempre seguir a manada, até vai poder ter uma conversa mais prazerosa com seus amigos, dizendo que está investindo nos ativos que mais subiram e que você está com uma performance invejável no último mês. Mas o destino cobra, e vai chegar a hora em que você vai descobrir que fugiu totalmente da sua estratégia, que desbalanceou seu portfólio, que comprou diversos ativos sem saber o real motivo de estar investindo neles, e aí provavelmente será tarde para retomar a rota correta, pois provavelmente você já terá perdido dinheiro pela ilusão do seu conforto psicológico.
Lembre-se que a “carteira ideal” para você não é a que mais subiu no último mês, mas aquela que vai fazer você alcançar seus objetivos de longo prazo. Aquela que seu estômago consegue tolerar o nível de volatilidade. Aquela que vai te manter no jogo por décadas.
Por isso, retomo o parágrafo inicial, com a frase ‘Monte uma carteira adequada para o seu perfil e sinta-se confortável para o longo prazo!’ e digo: tenha cuidado com essa ilusão, pois na sua jornada de investidor, você provavelmente irá ficar muito mais desconfortável com sua carteira, do que “feliz da vida” por estar acertando tudo, e isso quer dizer que você está no caminho certo.
Com o passar do tempo, vivenciando diversos ciclos de mercado e experimentando diferentes sensações, você vai conseguir descobrir a estratégia que realmente funciona pra você e assim ter a confiança em seguir desconfortável por diversos momentos!