Haddad e a dupla face das expectativas
Morgan Housel, renomado escritor americano, introduziu o intrigante conceito da “dívida das expectativas”. Segundo ele, as expectativas funcionam como dívidas: precisam ser cumpridas antes que quaisquer benefícios adicionais sejam percebidos. Essa ideia é aplicável em diversas esferas, seja na vida pessoal, no mercado financeiro ou em outros campos.
Ao ser nomeado ministro, Haddad sentiu a pressão desse conceito. Sua nomeação foi recebida com ceticismo pelo mercado, sem lhe conceder o benefício da dúvida. A PEC da Transição, apelidada de “PEC do Estouro” pelos críticos, reduziu ainda mais as expectativas sobre seu trabalho. Era como se nada positivo fosse esperado dele.
Contudo, Haddad surpreendeu ao lançar um plano. Não era perfeito, mas atenuava significativamente o risco econômico para o país a médio prazo. A mágica das expectativas agiu: os juros caíram, a bolsa reagiu positivamente e um clima de otimismo emergiu, reforçado por dados do PIB mais promissores do que o antecipado. Rapidamente, o ministro passou a ser considerado uma figura central no governo, recebendo elogios até de seus detratores.
Entretanto, o peso das expectativas se fez sentir novamente.
O governo percebeu que, enquanto prometer é simples, cumprir pode ser um desafio ainda maior. O déficit continua a se agravar, e a meta de eliminá-lo até 2024 parece cada vez mais um sonho distante. Qualquer ajuste financeiro passa pelo Congresso, que inevitavelmente impõe suas condições. Para complicar, Haddad enfrenta resistências internas, com algumas vozes clamando por políticas fiscais menos prudentes.
Haddad já experimentou o lado positivo da “moeda das expectativas”. Agora, ele encara o desafio de atender a essas expectativas. A capacidade de Haddad de entregar resultados será rigorosamente testada, e o destino fiscal do Brasil está em jogo.