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João Canhada
João Canhada

A nação do Flamengo e do Barcelona – e criação de tokens próprios em blockchain

Quando mais jovem, eu ouvia que a “nação do Flamengo” era a maior do Brasil e do mundo. No Ensino Fundamental, aprendi o que era uma nação e as diferenças entre Estados e países. Pesquisando pela internet sobre o tema, percebi que as definições de nação diferem conforme a fonte, mas elas estão parcialmente alinhadas com a seguinte:

“Uma nação é um grupo de pessoas que se veem como uma unidade coesa e coerente com base em critérios culturais ou históricos compartilhados. As nações são unidades socialmente construídas, não dadas pela natureza. Sua existência, definição e membros podem mudar drasticamente com base em circunstâncias. Nações de certa forma podem ser consideradas como “comunidades imaginadas” que estão unidas por noções de unidade que podem girar em torno da religião, identidade étnica, linguagem, prática cultural e assim por diante.” ¹

Em certos aspectos, a “nação” de torcedores do Flamengo entra nessa definição — mas não completamente, faltam recursos de coesão e culturais. E o Flamengo não é mais a maior torcida do mundo. Esse título é do Barcelona.

Independente do tamanho, os dois clubes anunciaram a criação de tokens próprios em blockchain. Esses ativos são vistos como a evolução do tradicional modelo de “sócio torcedor”, que utilizava de algumas vantagens do clube para atrair novos sócios, tocedores e recursos financeiros ao time.

Agora, os membros da “nação do Barcelona” podem não apenas ganhar vantagens ao se tornarem sócios, mas usar os próprios tokens entre si exercendo maior integração entre sua paixão e o seu bolso. A evolução deste modelo de negócio abre também espaço para especulações externas de não torcedores, já que tokens em blockchain podem ser facilmente integrados com o mercado financeiro.

O separatismo catalão e as fronteiras invisíveis do futebol

No caso do Barça, a criação de um criptoativo é muito mais que um meio de manutenção econômica. O slogan do time é “Mais que um clube”, isso acontece pois a equipe foi fundada para celebrar os sonhos de independência da Catalunha, uma região semi-autônoma na Espanha.²

A nação catalã não tem moeda própria, um país para chamar de seu e muito menos um governo completamente independente da Espanha, mas conta com um clube e agora um criptoativo.

O token de fan $BAR pode ser adquirido com a moeda Chiliz ($CHZ, disponível na Fobxit): pela primeira vez na história a nação catalã poderá se libertar, pelo menos dentro das fronteiras futebolísticas, do domínio espanhol.

Impossível de ser confiscada, fácil de transportar e rápida de transacionar a criptomoeda é perfeita para movimentos separatistas. Aliás, o próprio Bitcoin foi criado com a intenção de separar o sistema financeiro da dominação do Estado.
O fim dos Estados-multinacionais e como lucrar com isso

Se em 2021 os catalães estão descobrindo o poder das criptomoedas, há 24 anos o Lord William Rees-Mogg, ex-vice diretor da board de governadores da BBC, já tinha lançado o livro “The Sovereign Individual”.

Neste livro, o autor tenta prever as consequências sociais da revolução tecnológica e informacional que estava tomando forma no final da década de 90. Para ele, os Estados nacionais terão maior dificuldade para extorquir seus cidadãos e os benefícios recebidos do Estado também cairão.

A queda na arrecadação estatal é inevitável; e segundo o autor, isso acontece, pois a criptografia é um dos poucos pontos de conflito onde o agressor leva desvantagem.

“A criptografia é realmente especial no século 21 porque é um dos poucos campos em que o conflito contraditório continua a favorecer fortemente o defensor. Castelos são muito mais fáceis de destruir do que construir, ilhas podem ser defendidas, mas ainda podem ser atacadas. Entretanto, as chaves de ECC de uma pessoa comum são seguras o suficiente para resistir até mesmo a atores estatais.” — Vitalik Buterin³

O “Estado-nação facilitou a predação sistemática baseada em território”, os retornos com o uso de violência são altos, mas eles ficam negativos à medida em que os esforços de extorsão digital (achar uma chave privada de Bitcoin, por exemplo) se mostram inviáveis.

Nesse sentido, a balança entre proteção e extorsão ficará desequilibrada, gerando descontentamento e a criação de um novo sistema. Os cidadãos, que hoje são empregados do Estado, se tornarão clientes de companhias e pessoas que oferecerão SasS (segurança como serviço).

As nações continuarão existindo, contudo as pessoas se unirão em clubes baseados em região. Tais clubes terão suas próprias morais, linguagens e provavelmente aqueles que prosperarem estarão focados na estabilidade, eficiência e respeito à propriedade privada.

Os impostos seriam voluntários e pagos para o “banco de lugar nenhum”

O livro recomenda se preparar para a era do Indivíduo Independente, alocando capital nas melhores jurisdições. Em 1998 o Bitcoin não existia, na época a defesa para a extorsão era mudar os recursos de lugar.

Soberania financeira com o “Banco de Lugar Nenhum”

Atualmente, grandes investidores como Michael Saylor, Elon Musk e Ray Dalio já entenderam que a melhor proteção é a criptográfica.

A teses de Michael Saylor, CEO da MicroStrategy é simples:

“Se eu tivesse 100 milhões de dólares em terras na Califórnia, o estado poderia taxá-la e eu não consigo movê-la. Então eu terei que vender em algum ponto e serei taxado. Se eu comprar US$ 100 milhões em ações, fico nas mãos da bolsa valores ou do custodiante e todas as regulações e talvez imposto renda seja cobrado sobre os ganhos de capital, claro, eu posso evitar ganhos de capital se eu não vender. Entretanto, existe o risco de competidores, a companhia acaba ficando não competitiva e eu posso ter que vender, pois ela não tem o monopólio do dinheiro puro.“

Já com o bitcoin, a situação muda de figura, explica Saylor:

“Qual o melhor ativo que eu posso comprar? Energia monetária pura, não há CEO, não companhia, não há Iphone 11 para não gostar. E, a propósito, se a Califórnia mudar seus tributos, então mude para Wyoming. Se ele mudar as taxas então mude para Flórida. Quando eles mudarem vá para Porto Rico e, se você não gostar, vá para Cingapura… A propósito, se eu tivesse meu ouro em Nova York seria um pouco difícil movê-lo para Cingapura, mas, se eu tiver meu bitcoin em um banco em Nova York eu posso movê-lo em 30 minutos por 5 dólares. “

Flamengo, Barcelona e o Bitcoin estão seguindo os caminhos para tornar cada indivíduo do planeta mais livre, independente e soberano sob seu próprio dinheiro. Os bancos de “lugar nenhum” são criptográficos e te dão o poder de escolher o local onde será seu banco, pois você é o seu próprio banco.

 

¹ Definição de nação: https://www.e-education.psu.edu/geog128/node/534
² Barcelona e conflitos com a Espanha:
https://novaescola.org.br/conteudo/2265/como-o-time-de-futebol-fc-barcelona-se-relaciona-com-a-cultura-catala
³ https://unchained.com/blog/blockchain-spectrum/

Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

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