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João Beck
João Beck

Você não tem perfil de investidor

“Preciso de rentabilidade por volta de 200% do CDI, mas sou conservador”, diz o investidor.

A frase acima é comum em nossa rotina de assessor. Intuitivamente, ela expressa o desejo de uma rentabilidade alta e a contrapartida de baixa exposição a risco. Incongruente no longo prazo.

Quando se busca rentabilidade, todo investidor é arrojado. Quando se escolhe o risco, todo investidor é conservador. Esse é um pensamento interessante capturado no tweet abaixo.

Portanto, devemos buscar o ponto de intersecção nesse plano cartesiano. É aí que começa o problema. Existe algum perfil de risco registrado na nossa personalidade?

Resposta: não.

E se tivéssemos um perfil de risco definido, os mercados seriam um mar sereno diferente da montanha-russa que conhecemos.

Nosso perfil de risco oscila a todo momento.

Passou pelo trauma de testemunhar um assalto ou uma experiência de quase-morte? Você acorda conservador na primeira manhã..

Venceu seu candidato favorito nas eleições? Assistiu à palestra do Brasil que vira Suíça do economista-chefe da Acme Investimentos? Está feita a conversão para a turma dos arrojados.

Multiplica o efeito por 4 milhões de CPFs na B3 (B3SA3) e você enxerga a psicologia das massas movendo mercados alternadamente para níveis sobrecomprados ou sobrevendidos.

Mas qual, então, o sentido do preenchimento do perfil de risco?

O termo de perfil de risco do investidor (Suitability) que você preenche na corretora é uma exigência regulatória e tem utilidade. É como um termo de responsabilidade para você, investidor, refletir onde está pisando. É o mesmo raciocínio ao assinar o termo de um salto de paraquedas. Preencher o Termo Suitability é uma forma de formalizar a corretora sua ciência dos riscos envolvidos.

Que pesos em cada ativo devo escolher para compor minha carteira?

Vou contribuir com duas – de muitas – opções.

Se comportar como prega o mago, Warren Buffett. “Seja arrojado quando todos estão conservadores. Seja conservador quando todos estiverem arrojados”. É a opção adepta do timing. É um caminho psicologicamente desafiador. Ser contrariado exige um enfrentamento da tese principal do mercado àquele momento. Você se sentirá sozinho, isolado. De toda forma, aumentar a posição em ações e outros ativos de risco quando o mercado está pessimista vai te proporcionar comprar ativos a preços altamente depreciados.

Entender sua capacidade de tomar risco. É diferente do seu perfil de risco. Algumas corretoras no exterior já tratam a ‘capacidade de tomar risco’ como uma informação adicional e separada do perfil de risco. Perfil de risco é mais ligado ao seu comportamento: como você lida com a volatilidade do retorno do seu investimento.

Capacidade de tomar risco engloba fatos concretos relacionados à sua idade, ao prazo do seu objetivo com o dinheiro, ao quanto você já poupou em vida (em que fase de acumulação de capital você se encontra) e quantas pessoas dependem da sua renda (filhos, esposa e outros familiares). São dados técnicos e não comportamentais. Sua capacidade de tomar risco é imutável no curto prazo. Já seu perfil de risco pode mudar no sofá assistindo o Jornal Nacional.

Entendendo sua capacidade de tomar risco, você constrói sua carteira com pesos ideais em renda fixa, multimercados, ações e combina consigo um prazo confortável de rebalanceamento. Semestral, anual ou ainda ajustando conforme for fazendo aportes adicionais e eventuais resgates.

Lembre-se sempre. A melhor carteira é aquela à prova do teste do travesseiro. Perder o sono com investimentos é como bitributar o seu dinheiro. Você já se dedicou e trabalhou duro para ganhar o dinheiro. Investir não deveria lhe trazer as mesmas preocupações que o seu trabalho te impôs.

 

Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

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