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João Beck
João Beck

O primeiro ciclo de alta dos juros dos últimos 6 anos veio com tudo

Esse é o primeiro ciclo de alta de juros em seis anos – e, para a maioria dos investidores brasileiros, o primeiro da vida. Pelo menos para os que conheceram o universo da bolsa de valores a partir de 2015.

A virada do ano de 2015 encobria um dragão adormecido: a inflação. Que foi suprimida forçadamente por anseios eleitorais utilizando o que se tinha ao alcance através dos preços administrados. Após uma eleição apertada, os preços saíram do cativeiro controlado pelo governo e mostraram seu poder de fogo. A aceleração de preços ultrapassou os 10 por cento anuais.

E no trem da inflação que chega, vem engatilhada uma alta da taxa de juros logo no primeiro vagão. Entre o fim do primeiro mandato e o início do segundo, já com o Ministro da Fazenda Joaquim Levy, houve uma pisada funda no freio da economia.

Passados alguns meses e inflação domesticada, se inicia novamente o ciclo de queda da Taxa Selic que durou até o início deste ano. O primeiro alvo foram os 4,25 % em 2020 e ali ficaria se não fosse a pandemia, diagnosticada com mais dois pontos percentuais extras, levando a taxa de juros para níveis de país desenvolvido a 2% anuais.

Pois bem. Eu chequei no site da B3 quantos CPFs a bolsa registrava em 2015: 557 mil.

Então busquei quantos CPFs temos hoje na bolsa: 3,8 milhões.

Investidor com características de um empreendedor

Ou seja. Para mais de 85% dos investidores, um ciclo de alta da taxa de juros como o atual é inédito, mesmo sendo algo intrínseco em qualquer modelo econômico de um Banco Central que utiliza o arcabouço de metas de inflação e ajuste de expectativas.

Esse ciclo de alta freou o mercado de ações, os títulos Indexados à inflação e uma parcela relevante dos fundos multimercados que se beneficiam de cenários de queda de juros. E frustrou o investidor iniciante que acreditou que aumentando o risco da carteira de investimentos resultaria de imediato numa rentabilidade maior. Mas não é tão óbvio, ou quando ocorre, exige do investidor outras atribuições que ele não se acostuma: paciência, resiliência.

O mercado de ações exige do investidor características de um empreendedor. Como um dono de restaurante, que entende que o retorno de um investimento demora. Que não cria expectativas grandes e, por isso, não se frustra. Que tem margem de segurança para lidar com uma chuva inesperada e espantar os fregueses. E sabe que uma temporada de faturamento baixo não o faz desistir do negócio e vendê-lo.

É esse o teste que 85% das pessoas estão experimentando atualmente pela primeira vez. Muitos não irão chegar vivos do outro lado do rio. E, aos que conseguirem, entenderão que bolsa não é uma competição por quem ganha mais, mas sim um jogo de sobrevivência.

 

Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

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