Cooperativismo de crédito ganha força com fintechs e ESG
O crescente interesse dos brasileiros por investimentos e finanças é cada vez mais visível. Com novas tecnologias, como Open Banking, Pix e pagamentos por celular, milhões de pessoas vêm sendo incluídas no mercado financeiro. Nessa realidade, o cooperativismo, uma filosofia nascida no século XIX, ganha ainda mais força.
Isso porque muitos de seus princípios estão alinhados a questões e modelos de negócios da atualidade, como a economia compartilhada.
É da natureza humana sermos cooperativos. A história do cooperativismo, porém, tem um dos seus primórdios na Inglaterra, em 1840, quando tecelões da cidade de Rochdale, cansados de serem explorados ao pagar preços exorbitantes pelo alimento vendido pelo patrão local, se uniram para comprar coletivamente os mantimentos em cidades vizinhas, a um preço mais em conta.
Esse sistema de ajuda mútua também foi replicado em outros locais da Europa, onde posteriormente surgiram as primeiras cooperativas de crédito rural em meados do século XIX. Elas eram destinadas a viabilizar financiamentos para agricultores.
No Brasil, não foi diferente. O modelo de cooperativismo de crédito moderno se inicia com o padre jesuíta Theodor Amstad, que após perceber as necessidades dos imigrantes locais, criou um sistema de auxílio mútuo. Este se tornaria, em 1902, a primeira cooperativa de crédito do país, em atividade até hoje.
Mas o que cooperativas criadas para ajudar agricultores nos séculos passados têm a ver com inclusão e desenvolvimento no século XXI?
Acontece que esse modelo, que existe até hoje, dá suporte a quase 12 milhões de associados no Brasil. No mundo são mais de 1,2 bilhão de pessoas que vivem em torno do cooperativismo. Para muitas pessoas – especialmente moradores de pequenas cidades, pequenos agricultores ou comerciantes – as cooperativas de crédito são a única alternativa de acesso ao sistema financeiro.
O cooperativismo está no foco de políticas públicas como a Agenda BC#, iniciativa do Banco Central para modernizar o sistema financeiro, incentivar investimentos e o crescimento do PIB.
O BC pretende que a parcela de associados na população passe dos atuais 7% para perto de 20% nos próximos anos.
No sistema cooperativo, todo associado é sócio da instituição financeira. Como o objetivo é apoiar a economia local em vez do lucro por si só, as taxas cobradas geralmente são menores que a média do mercado. Ainda assim, os lucros são repartidos entre os associados todos os anos.
Outra característica que faz as cooperativas de crédito serem importantes no desenvolvimento regional é que, pela proximidade e modelo de negócio, o dinheiro captado pelos associados é investido na economia local. Assim, pequenos empresários e agricultores têm acesso a crédito que, muitas vezes, pode ser inacessível em grandes instituições, por pura falta de interesse no negócio.
Um exemplo prático dessa importância acontece no Paraná. Soja e milho são culturas fortes na região, e os produtos são comumente vendidos para outros locais, até para o exterior. Após a instalação de um frigorífico nas imediações, cerca de 1.000 aviários foram financiados por meio da cooperativa de crédito.
Os frangos consomem milho e soja. Se essas commodities fossem vendidas in natura, movimentariam R$ 1,2 bilhão. Já a comercialização da carne dos frangos corresponde a R$ 3,2 bilhões. Além do ganho de valor agregado, a cadeia gera quase 14.000 empregos. São pessoas que vão ao mercado e às lojas da região, fazendo o dinheiro circular localmente.
É por essa visão, buscando o lucro para manter o crescimento do empreendimento, mas pensando sempre no desenvolvimento da região, que as cooperativas são essenciais em um momento em que se discute desenvolvimento sustentável, um dos pilares da filosofia ESG.
Nessa pandemia, como ocorreu em outras crises, o sistema cresceu ainda mais.
Se no início da década de 1980, as cooperativas de crédito atuavam exclusivamente em segmentos de atividades ou categorias profissionais, desde 2009, podem ser acessadas pela população em geral, contribuindo ainda mais para fazer a gestão dos recursos na própria comunidade e, com isso, por meio do ciclo virtuoso da circulação dos recursos financeiros, promovem o crescimento econômico e social, construindo uma sociedade mais próspera.
Elas possuem todos os serviços financeiros digitais – como Pix, cartões, pagamento mobile, acesso pela internet, com tecnologia competitiva no mercado financeiro. O objetivo do cooperativismo sempre foi proporcionar o crescimento dos cooperados, seja a realidade qual for e com olhar e ações que estão em consonância com o desenvolvimento sustentável.