Loki, Doutor Estranho e Inflação
No último dia 09 de junho, a série Loki da Disney+ estreou com um imenso sucesso. Segundo a plataforma, 890 mil famílias assistiram ao episódio piloto. O que representa 17% a mais que o segundo maior sucesso da Marvel na mídia.
O personagem, extremamente popular mundialmente, se autodenomina “Deus da Trapaça” e cativa o mundo com suas sacadas inteligentes e por planos que muitas vezes iludem o espectador.
Embora Loki tenha origem mitológica nos países nórdicos, sua origem se encaixaria perfeitamente ao Brasil. Mesmo vivendo décadas com a hiperinflação, o brasileiro ainda aloca boa parte de seu patrimônio em ativos que rendem abaixo do IPCA.
O interesse dos brasileiros por investimentos segue em ascensão. Saímos de 564 mil contas de pessoas físicas na B3, em 2016, para 3 milhões 345 mil, no resultado parcial de 2021. Só para a classe de fundos imobiliários, no mesmo período, o salto foi de 89 mil para 1 milhão 338 mil.
Esse movimento é uma tendência que já foi observada na Europa e Estados Unidos há 30 anos atrás. O ponto de inflexão foi uma mudança de patamar das taxas básicas de juros, pressionando os investidores médios a buscarem alternativas de investimentos. O Brasil aparentemente está passando por esse momento.
Utilizando a ferramenta Google Trends, podemos capturar uma tendência ainda mais pura. O brasileiro está buscando mais informações sobre investimentos, sugerindo um potencial ainda maior do que os dados da B3 sugerem.
Fonte: Google Trends
Os dados da B3 e do Google animam, mas é a Anbima que nos volta à Loki. Segundo o IBGE, a inflação do consumidor brasileiro, representado no IPCA, está rodando em 8,06% nos últimos 12 meses. Esse patamar supera, com folga, investimentos de perfil conservador.
Quando comparamos com alguns dos ativos mais populares, a Anbima nos traz uma rentabilidade fantasiosa: fundo simples (+1,41%), poupança (+1,57%) e CDB DI (+2,16%).
A inflação, assim como Loki, trabalha o aspecto da ilusão. O brasileiro que não busca informações de investimentos enxerga as rentabilidades positivas, mas não considera que em termos reais (quando descontamos a inflação), o resultado é bem negativo. Os valores investidos não preservam o poder de compra.
Não estamos falando de pouca coisa, dado que essas aplicações somam mais de R$ 2,4 trilhões em patrimônio. O histórico de Selic, rondando os dois dígitos, ajuda a explicar a alocação. Brasileiro se acostumou a retornos maiores na renda fixa. A nova realidade é benéfica para o país, mas envolve essa adaptação no mundo dos investimentos.
Vale um parêntese no grande tema do artigo. O ponto não é condenar na totalidade a existência dos produtos. Cada investidor tem um perfil, objetivos e aversão a risco. Alguns desses ativos podem funcionar para um momento de um investidor, para ser uma finalidade específica.
Fonte: Bacen, IBGE, Elaboração RB Investimentos
A inflação de 2021 deve, pelo menos, rondar o teto da meta de 5,25% a.a., o que levará a Selic para um patamar em torno de 6,5% em breve. No entanto, em 2022 devemos ter uma inflação mais próxima do centro da meta, que no período será de 3,5%.
Um futuro de inflação controlada, permite uma Selic menor, reforçando a importância de prestar atenção no rendimento real das aplicações.
Nos despedindo de Loki, segue um exemplo da equipe Mais Retorno, que ainda acho extremamente atual.
Se você ganhasse uma promoção e eu te oferecesse duas opções de prêmios, qual você escolheria?
- Opção 1: Um milhão de reais agora, nesse exato momento, na sua conta bancária;
- Opção 2: Um centavo, com correção de juros de 100% ao dia, daqui a 1 mês;
Caso tenha escolhido a primeira alternativa, lamento. Você deixou de ganhar, no segundo caso, exatos R$ 10.737.418,24 em apenas 30 dias!
Neste exemplo, estaríamos falando de um Loki do bem, os juros compostos, ou nosso Doutor Estranho. Ao contrário da inflação que nos ilude e provoca uma falsa sensação de ganho, os juros compostos potencializam nossos ganhos.
De qualquer maneira, somos apenas 42% de brasileiros que investem em algum produto financeiro, segundo a Anbima. Buscar informações e análises de especialistas pode parecer pouco, mas já é um passo importante para se distanciar da manada.