A importância de se manter investido
Trabalhar no mercado financeiro há muitos anos me deu a oportunidade de perceber os movimentos dos investidores em diferentes ciclos de mercado. É notável que uma parcela relevante dos investidores tenta se antecipar aos movimentos do mercado e compram e vendem ativos com base em suas percepções econômicas de curto prazo. Ao fazer isso, esses investidores(as) renunciam de uma das principais armas que tem a seu favor – o poder de comprar ativos temporariamente impopulares por preços de barganha e também correm o risco de perder a maravilha dos juros compostos ao seu favor.
Ao passo que o objetivo de qualquer investidor deveria ser de comprar na baixa e vender na alta: é parte da natureza humana se sentir muito mais motivado a vender ativos à medida que seus preços caem. Assim como a compra contínua de ativos valorizados pode eventualmente transformar um mercado em alta em uma bolha, a venda generalizada de coisas que estão em baixa tem o potencial de transformar as quedas do mercado em colapsos. Bolhas e colapsos ocorrem, provando que os investidores contribuem para os excessos em ambas as direções.
A capacidade de geração de alpha (retornos superiores) consiste principalmente em tirar proveito dos erros cometidos por outros. Claramente, vender coisas porque estão em baixa é um erro que pode dar grandes oportunidades aos compradores. A venda de ativos deveria ser sempre acompanhada de uma análise de custo de oportunidade. Isto é, dado que eu venda ativo A hoje, onde alocaria os recursos de sua venda? Existe alguma outra oportunidade com uma relação risco/retorno melhor hoje? Como essa oportunidade se encaixa no meu portfólio? Este racional é o que chamamos de seleção relativa e pode ser muito útil na tomada de decisões de investimento.
Tentar vender algum ativo na expectativa de uma baixa temporária também gera riscos desnecessários ao seu portfólio. Charlie Munger, vice-presidente da Berkshire Hathaway (BERK34), ressalta que vender para fins de market-timing na verdade dá ao investidor duas maneiras de estar errado: o declínio pode ou não ocorrer e, se ocorrer, você terá que descobrir quando é a hora certa de voltar.
Virtualmente todos os países e as empresas têm tendência de crescimento no longo prazo e isso gera retornos positivos em longos períodos. Um dos índices de ações dos EUA mais antigos, o S&P 500 produziu um retorno médio composto estimado nos últimos 90 anos de 10,5% ao ano. Contudo, um estudo recente do JP Morgan mostrou que, no período de 20 anos entre 1999 e 2018, o retorno anual do S&P 500 foi de 5,6%, mas seu retorno teria sido apenas 2,0% se você tivesse ficado de fora dos 10 melhores dias (ou aproximadamente 0,4% dos dias de negociação), e você não teria ganho nenhum dinheiro se tivesse perdido os 20 melhores dias.
Levando em consideração que o mercado tem uma tendência de alta no longo prazo e essa tendência é materializada em movimentos curtos e esporádicos, o investidor estará verdadeiramente protegido e fadado a ver seu patrimônio crescer ao manter seu capital investido em longos períodos de tempo.