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Gian Kojikovski
Gian Kojikovski

A pandemia de covid-19 está realmente acabando?

Com exceção da América Latina, quase todo o mundo ocidental vê um crescimento no número de casos de Covid-19 nas últimas semanas. Alguns países, como o Reino Unido, já passaram pela “quarta onda”, enquanto outros, como Alemanha e Israel, caminham para um novo pico.

Diferente das primeiras três ondas, que ocorreram no primeiro e segundo semestre de 2020 e no início de 2021 (com diferenças de semanas entre os países), o crescimento dos casos não vem acompanhado por um aumento de igual ritmo em hospitalizações e mortes. Essa quarta onda é causada principalmente pela variante Delta, muito mais contagiosa e potencialmente também mais mortal. No entanto, as ocorrências fatais foram inversamente proporcionais ao número de vacinados em cada país, ainda que a contaminação seguisse ocorrendo.

Desses dados simples, é possível tirar algumas conclusões:

1) As vacinas, ainda que desenvolvidas em tempo recorde, funcionam e salvam vidas. Podem não ser as melhores, dado o tempo recorde de testes, e talvez tenham que seguir sendo aprimoradas. É possível que mais doses sejam necessárias para cada indivíduo, ou mesmo ciclos anuais por algum tempo, mas as vacinas criadas funcionaram muito bem até aqui.

Se não fosse a Delta, provavelmente não estaríamos vendo novos picos de casos.

2) Se a essa nova variante tivesse se espalhado seis meses atrás, antes da vacinação tomar uma proporção significativa na maior parte dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, a superlotação dos sistemas de saúde que vimos em países como Itália, Estados Unidos e Brasil com há alguns meses seria apenas um treinamento para o que poderia acontecer. Isso porque a Delta é 94% mais contagiosa do que a cepa original, de acordo com um estudo do Imperial College, da Inglaterra.

3) A estratégia de diminuir a circulação de pessoas (e consequentemente do vírus) por um tempo foi acertada, ainda que com alto custo econômico, uma vez que diminuiu a superlotação dos sistemas de saúde. De quebra, menor circulação do vírus faz com que a possibilidade de novas cepas, adaptadas para serem mais contagiosas, também seja menor. Ainda assim, vimos variantes mais eficientes em contaminação surgindo no Brasil, África do Sul, Inglaterra e Índia.

4) A diminuição das medidas restritivas é acertada para o momento em que vivemos, com menos hospitalizações e mortes, que se concentram principalmente em não vacinados. Em julho, 99% dos mortos e 97% dos internados nos Estados Unidos faziam parte do grupo que não tinha tomado nenhuma ou apenas uma dose do imunizante, de acordo com o Centro para Controle de Doenças (CDC).

5) Essa reabertura total, no entanto, pode ser um tiro no pé se uma grande parte dos adultos não se vacinarem. A chance do surgimento de uma cepa mais contagiosa, mortal e resistente às vacinas passa a ser uma questão de sorte. Uma possibilidade pequena, mas que não pode ser ignorada. E aí voltaremos ao início da jornada.

*média móvel de sete dias de novos casos e de mortes no Reino Unido. Aumento de fatalidades não acompanhou o de casos na última onda da doença. O mesmo ocorreu em diversos outros países com alta taxa de vacinação.

Sabendo da mudança no perfil de internações, a Alemanha, por exemplo, mudou o critério para decidir sobre a adoção de medidas restritivas. Antes, o país se baseava na taxa de infecções a cada 100 mil habitantes. A partir dessa semana, o número de internações será o fator-chave. Aliada ao incentivo à vacinação, essa é a melhor forma de equilibrar a retomada econômica com a capacidade de atendimento aos doentes. A tendência é ver outros países seguindo a iniciativa.

Isso não quer dizer que não haverá mais mortes ou novos casos, mas que a Covid-19 deixará de representar um risco sistêmico para a humanidade.

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno

Nota

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