Nubank reporta lucro, mas será que seu IPO sai no valor desejado?
O IPO do Nubank com certeza é um dos mais aguardados da última década no Brasil. Desde que a fintech surgiu como uma alternativa aos cartões de crédito de grandes bancos, se valendo principalmente de tecnologia, interface e suporte ao cliente inovadores no setor bancário até o momento, a marca passou a ser uma das mais populares do país. Com muitos méritos, atingiu recentemente a marca de mais de 40 milhões de usuários.
Depois de anos de questionamentos quanto ao lucro da operação, a resposta parece que finalmente chegou. O Nubank divulgou ter registrado um lucro de R$ 76,294 milhões no primeiro semestre deste ano na operação brasileira, revertendo o prejuízo de R$ 95 milhões da primeira metade de 2020. Foi o primeiro resultado positivo na história do banco, que fechou o ano passado completo com perdas de R$ 230 milhões, representando um recuo de 23% na comparação com 2019. Vale lembrar que o número se refere somente à Nu Pagamentos, que é a operação brasileira, e não reflete números de outros países ou de verticais que estão alocadas abaixo da Nu Holdings, a holding da instituição.
Aproveitando a onda do bull market mundial e do excesso de liquidez global, a startup contratou um sindicato de bancos para abrir seu capital na Nasdaq ainda neste ano. A princípio, o maior banco digital do Brasil pretendia arrecadar mais de US$ 3 bilhões em sua listagem e ter uma avaliação de mercado entre US$ 75 bilhões e US$ 100 bilhões – maior do que qualquer empresa da B3. É mais do que Itaú, XP e BTG somados.
O número, que pode soar grandioso demais para uma empresa surgida há 8 anos, acaba parecendo um absurdo quando olhamos para o resultado da empresa. E não é do fato da empresa dar lucro ou não que estou falando aqui. Essa discussão é quente, mas é menos importante nesse caso. O importante de entender, nesse caso, qual seria o mercado possível – ou Total Addressable Market – que o Nubank almeja para buscar esse valuation?
Não consigo imaginar que grandes investidores e fundos de investimento não tenham se feito essa pergunta, embora não seja comum ouvir sobre isso nos fóruns da internet que discutem investimentos ou no Twitter – onde se fala muito mais da comparação com o Itaú do que qualquer outra coisa. Certamente, o Nubank está buscando se capitalizar ainda mais para replicar o relativo sucesso da estratégia de aquisição de clientes que teve no Brasil em outros países latinos – como já faz na Colômbia, México e Argentina. Mas o que mais?
Ainda assim, o valor de mercado buscado parece esticado. O Mercado Livre (MELI34), que tem enorme sucesso como e-commerce e mais de 15 milhões de usuários ativos na carteira digital Mercado Pago, vale os mesmos US$ 75 bilhões almejados pela fintech. Só no segundo trimestre do ano, o lucro do MELI foi de US$ 68,2 milhões.
Mesmo com tudo isso, o roxinho parecia estar conseguindo emplacar o número que queria. Parecia, porque o mercado começou a especular sobre como o atual momento do mercado mundial pode impactar a visão dos investidores quanto a empresas de growth.
O motivo é a deterioração do mercado de capitais, que vai ficando distante das máximas históricas desde o início de setembro, e pode acabar sofrendo ainda mais caso o Federal Reserve tire da manga o esperado tapering – que é o processo de retirada dos estímulos monetários implementado nos últimos semestres. Nesse caso, pode acontecer o insólito: o Nubank apresentou lucro em uma operação historicamente deficitária, mas vai ver seu valor de mercado sair abaixo do esperado no seu IPO. Devemos saber o final da história até dezembro.