A crise energética e a migração para a fontes renováveis
O Brasil enfrenta uma crise hídrica e estamos sentindo os problemas no bolso. Desde junho deste ano – início da estação de seca nas principais bacias hidrográficas – a Aneel tem adotado a bandeira tarifária vermelha de nível 2 na cobrança de energia elétrica. As tarifas são sempre elevadas quando as usinas hidrelétricas – principal fonte de energia do país – não conseguem abastecer toda a demanda, e as termelétricas, que possuem um custo mais elevado e são altamente poluentes, precisam ser utilizadas.
Entretanto, a falta de capacidade das usinas de energias renováveis em abastecer toda a demanda energética não é uma particularidade do Brasil. Com a maior adoção das medidas ESG (Environmental, Social and Corporate Governance), países decidiram reduzir a produção de energia a base de combustíveis fósseis no intuito de diminuir a emissão de carbono e agora sofrem com escassez e alto custo de produção.
A China, maior produtora mundial de dióxido de carbono e outros gases poluentes, anunciou na cúpula das Nações Unidas de 2020 que iria reduzir as suas emissões em mais de 65% dos níveis de 2005 até 2030. Uma das medidas tomadas pelo governo Xi Jinping para o cumprimento da meta foi o corte na produção de energia a base de carvão mineral – maior fonte de abastecimento energético do país.
Desde então, a escassez de suprimentos de carvão, o endurecimento dos padrões de emissões e a forte demanda dos fabricantes e da indústria levaram os preços do carvão a patamares recordes e causaram uma grave crise de energia no país. Autoridades têm começado a adotar apagões programados em Pequim e Xangai – as duas cidades mais populosas – e indústrias têm interrompido a produção em suas fábricas, incluindo fornecedoras de companhias americanas como Apple (AAPL34) e Tesla (TSLA34).
Outro fator que agrava a crise de energia global é o aumento dos preços no mercado de gás natural. Na Europa, onde quase 25% do abastecimento é a gás, a população tem sentido no bolso aumento do custo neste início de inverno, quando a demanda por aquecimento é maior. Os motivos são o baixo estoque de armazenamento de gás; a maior demanda de outras regiões e os altos preços do carbono na União Europeia. Especula-se ainda que a Rússia, principal fornecedora da commodity, estaria reduzindo propositalmente o suprimento para aumentar seu valor.
Apenas este ano, os preços do mercado de gás sofreram alta de 280% na Europa. O problema tem sido tão grave, que legisladores do Parlamento Europeu têm exigido investigações sobre a manipulação de abastecimento vinda da Rússia. O Kremlin rebateu as acusações e ainda afirmou ser tarde demais para medidas urgentes para aumentar as reservas de gás no armazenamento subterrâneo.
Como reflexo, instituições financeiras começam a projetar maior demanda global por petróleo, outra fonte de energia que já começava a ser substituída. O Goldman Sachs projeta o Brent no quarto trimestre de 2021 a US$ 80, patamar não atingido desde outubro de 2018, mas muito próximo dos atuais US$ 79 o barril. Nesta semana, vimos os britânicos correrem aos postos de gasolina e secarem as bombas por receio da escassez do produto no Reino Unido. O mundo migra em massa para energias menos poluentes ou renováveis, mas parece não ter se perguntado ainda se ela dará conta de sua demanda.
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