Falar que ser bilionário é imoral virou moda. Por que será?
Na última semana, David Vélez, co-fundador do Nubank, anunciou que doaria toda sua fortuna como forma de filantropia para o The Giving Pledge. O projeto, criado em 2010 por Melinda Gates, Bill Gates e Warren Buffett, tem como objetivo incentivar que bilionários do mundo doem mais da metade de sua fortuna para caridade. Hoje, mais de 200 indivíduos e famílias com mais de US$ 1 bilhão se comprometeram com a causa, apenas uma delas no Brasil, a família de Elie e Susy Horn. Elie foi fundador e é ex-presidente da Cyrela (CYRE3).
Entre os filantropos estão Mark Zuckerberg, do Facebook (FBOK34); os financistas Ray Dalio e Bill Ackman; Elon Musk, da Tesla e Reed Hastings, da Netflix (NFLX34), além dos próprios fundadores do projeto. Agora, Vélez e sua mulher, Mariel Reyes, aumentam a fileira dos interessados em deixar parte da fortuna que acumularam ao longo da vida para criar melhores condições no mundo. O patrimônio de ambos é estimado em US$ 5 bilhões, vindos principalmente da participação acionária no Nubank. De acordo com a carta de adesão que assinaram, o foco da filantropia será nivelar a oportunidade dos jovens da América Latina.
A atitude mais do que louvável deveria ser inquestionável. É uma doação de patrimônio pessoal voltada a melhorar o mundo. No entanto, por incrível que pareça, não faltaram críticas sobre o anúncio nas redes sociais. A frase “ser bilionário é imoral” virou o bordão dessa turma contra boas ações. São pessoas que não entendem como funciona o sistema capitalista que, mesmo com todas as injustiças, ainda é o melhor que temos para o desenvolvimento humano.
O gráfico acima, ajustado pela inflação, mostra como a extrema pobreza relativa ao total da população diminuiu no mundo nos últimos dois séculos. Isso acontece por um motivo simples: a livre iniciativa de empreender. Bilionários, como Vélez e a maior parte dos outros signatários do The Giving Pledge só existem porque criam valor para pessoas que podem consumir seus produtos ou serviços e, assim, pagar por eles. Com isso, geram milhares – em alguns casos centenas de milhares – de empregos. Ou seja, é uma contribuição efetiva para diminuição da pobreza, ainda que o acúmulo de capital possa aumentar a desigualdade.
Além disso, os números exorbitantes mostrados nos principais rankings de riqueza acabam por passar uma desinformação, pois desconsideram que grande parte desses patrimônios bilionários é ilíquido e perderia muito valor se fosse transformado em dinheiro de uma hora para outra. O próprio David Vélez fundou uma empresa que até hoje não dá lucro e só tem esse valor de mercado porque investidores esperam que ele e seus executivos consigam mudar o cenário no longo prazo. Mas qual seria a avaliação da empresa se ele decidisse sair hoje? Os fundos de venture capital que aportaram no desenvolvimento do banco aceitariam isso tranquilamente? Mesmo no caso de Elon Musk, que tem a maior parte de sua fortuna vinda da Tesla (TSLA34), uma empresa listada em bolsa, qual seria a queda no valor das ações se ele começasse a vender suas ações? Sua fortuna seria impactada, com certeza.
Isso quer dizer que não existem problemas no sistema atual? Não. Existem, e muitos. Um deles é que, proporcionalmente, pessoas muito ricas pagam menos impostos. Outro é que, mesmo em países ricos, ainda vemos miséria. Muitos bilionários não têm o mesmo impacto para o mundo que empreendedores como Jeff Bezos, da Amazon, ou outros citados nesse texto. O número de self-made billionaires, no entanto, é cada vez maior. Winston Churchill dizia que a democracia é o pior dos sistemas de governo, exceto por todos os outros. O mesmo vale para o capitalismo, que é o pior sistema econômico, com exceção dos demais.
—
Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno