O viés de ancoragem: como evitar essa armadilha cognitiva que pode prejudicar seus investimentos
O viés de ancoragem é um fenômeno cognitivo em que os indivíduos se apegam a uma informação inicial (a “âncora”) ao fazer julgamentos ou tomar decisões, mesmo quando essa informação é irrelevante ou pouco informativa.
No contexto dos investimentos, principalmente em renda variável, como ações e FIIs, os investidores frequentemente enfrentam desafios comportamentais que podem impactar negativamente seus retornos. Um desses desafios é o viés de ancoragem, que faz com que os investidores se fixem em uma referência passada, como o preço médio, ao decidir comprar ou vender um ativo.
Por exemplo, se um investidor comprou 1000 ações de uma empresa ao preço médio de R$ 80 e, hoje, elas estão sendo negociadas a R$ 60, isso não significa necessariamente que estejam mais baratas. Vamos entender por que isso acontece.
Os múltiplos, como P/L (Preço/Lucro), P/VPA (Preço/Valor Patrimonial por Ação) e EV/EBITDA (Valor da Empresa/EBITDA), ajudam a avaliar se uma ação está cara ou barata em relação ao seu histórico. Imagine que, quando a ação estava a R$ 80, o P/L era de 15x, indicando que o mercado estava disposto a pagar 15 vezes o lucro anual da empresa por ação. Se a empresa enfrentar dificuldades e seus lucros caírem, o P/L pode aumentar, mesmo com a queda do preço da ação. Se o P/L subir para 30x, isso indica que a ação está mais cara, pois o mercado está pagando muito mais por cada real de lucro, apesar do preço menor.
Fundamentos como crescimento de receita, lucro, margens operacionais e dívida são cruciais para determinar o valor de uma empresa. Se esses fundamentos piorarem, a ação pode se tornar menos atraente.
No passado, a empresa poderia ter tido uma forte expectativa de crescimento. Hoje, ela pode estar enfrentando desafios como concorrência crescente, redução de margens ou incertezas econômicas, o que faz com que o preço atual reflita essas novas condições. Nesse contexto, a ação pode ser considerada “mais cara” porque o mercado está pagando R$ 60 por uma empresa com perspectivas piores do que quando pagava R$ 80.
Se a qualidade dos fundamentos da empresa diminuiu, o preço atual, mesmo sendo inferior, pode não justificar o investimento. Isso reflete a ideia de que uma ação pode estar cara em termos de valor intrínseco, mesmo com um preço nominalmente mais baixo. Vale destacar que o contrário também é verdadeiro: uma ação a R$ 80 hoje pode estar mais barata do que a R$ 60 no passado.
Por que esse viés comportamental pode acarretar consequências negativas nos seus investimentos?
- Ignora as Condições de Mercado: O preço médio de aquisição é uma referência arbitrária que nem sempre reflete as condições atuais. Decisões de compra e venda baseadas nesse valor ignoram fatores importantes, como o desempenho da empresa e a análise dos fundamentos.
- Perpetua Comportamentos Irracionais: Ao focar no preço médio, investidores podem resistir a vender um ativo no prejuízo, esperando que o preço suba novamente para o ponto de equilíbrio. Isso pode resultar em uma má alocação, onde o capital é mantido em ativos com perspectivas desfavoráveis, enquanto oportunidades mais lucrativas são ignoradas.
- Aumenta a Exposição ao Risco: Manter um ativo apenas porque ele está abaixo do preço médio pode aumentar a exposição ao risco, especialmente se o ativo estiver em declínio contínuo de fundamentos.
Como se proteger do viés de ancoragem?
- Foco nos Fundamentos e Perspectivas Futuras: Decisões de investimento devem ser baseadas em análises financeiras e nas perspectivas futuras do ativo, não no preço de aquisição.
- Diversificação: Mitigue riscos diversificando seus investimentos. Isso reduz a dependência emocional em relação ao preço de aquisição de um único ativo com exposição excessiva.
- Educação Financeira e Consciência de Viés: Aprender sobre finanças e psicologia comportamental ajuda a tomar decisões mais racionais, evitando vieses como a ancoragem.
- Consultoria Profissional: Buscar ajuda de consultores financeiros pode proporcionar uma visão objetiva e informada, auxiliando no controle de emoções e vieses.
Em resumo, o viés de ancoragem é uma armadilha psicológica comum que pode prejudicar significativamente o desempenho dos investimentos. Manter o foco em fundamentos sólidos, utilizar estratégias de gestão de risco e buscar diversificação são passos essenciais para evitar decisões influenciadas por essa distorção cognitiva. Investidores que reconhecem e superam o viés de ancoragem estão melhor posicionados para alcançar seus objetivos financeiros a longo prazo.
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