Vale a pena investir em empresas fora da Bolsa?
Pode parecer uma heresia para muitos neste momento falar em outra classe de ativos que não seja nossa velha conhecida renda fixa.
“Estamos entrando na era da Grande Inflação no mundo”, reverberam por aí muitos especialistas cujo ofício, não raro, é manter nosso dinheiro parado no banco ou na corretora rendendo “dois dígitos” sem deixar cair uma gota de suor.
Nosso instinto de preservação costuma falar mais alto diante de tantas incertezas e contradições no mundo da política e da economia. De fato, parece que o ritmo de bobagens que as autoridades mundiais estão cometendo sobrepuja qualquer prêmio de risco oferecido nos mercados.
Meu colega e sócio Rafael Rios tratou desse tema com bastante profundidade em artigo aqui na Suno. Recomendo a leitura.
Mas o que me leva a escrever hoje foi um tuíte publicado por ninguém mais, ninguém menos que o homem mais rico do planeta: Elon Musk.
O bilionário CEO da Tesla (TSLA34) e da SpaceX estava discutindo, num fio do Twitter (TWTR34), os efeitos que a inflação estava tendo no aumento de custos de produção das suas empresas, que fazem uso maciço de commodities industriais, como aço, alumínio, cobre e níquel.
Quem acompanhou a movimentação dos preços desses produtos deve ter se assustado, principalmente quando a Bolsa de Metais de Londres resolveu suspender a negociação do níquel por causa da sua violenta disparada, superando por alguns minutos a marca de US$ 100.000 por tonelada. Tudo isso devido ao medo generalizado de escassez de oferta gerado pela guerra no Leste Europeu.
O tuíte de Elon Musk disse mais ou menos o seguinte:
“Como princípio geral, […] é melhor ter coisas físicas, como uma casa ou ações de empresas que você acha que fazem bons produtos, do que dólares quando a inflação está alta.”
Sem dúvida, o multiempreendedor estava se referindo à importância de ter ativos reais na carteira como estratégia de diversificação e proteção de patrimônio, justamente em momentos de grande risco e volatilidade no mercado financeiro
Quanto ao investimento em “empresas que fazem bons produtos”, o mais provável é que ele estivesse falando de companhias capazes de gerar receita e valorizar o capital dos investidores mesmo em condições adversas.
Estamos falando, portanto, de ativos geradores de renda, que estão inseridos em setores sólidos e resilientes, como agronegócio, energia e mercado imobiliário, e que conseguem fazer pagamentos recorrentes na conta dos investidores mesmo em momentos de crise.
Sem dúvida, não se encontram empresas assim tão facilmente. Ainda mais na bolsa de valores, conhecida pelos excessos nos momentos de euforia e pânico, quando os preços podem atingir patamares além da razão, tanto na alta quanto na baixa.
Mas, se você estiver disposto a abrir um pouco mais a mente e ir além desse sobe e desce constante do mercado financeiro, é possível, sim, fazer parte de negócios extremamente sólidos e promissores, sem se aventurar em promessas vazias e sem lastro na realidade.
Eu me refiro a uma modalidade de investimento que foi regulamentada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), em 2017, e que vem crescendo a passos largos em nosso país: o crowdfunding.
O crowdfunding nada mais é que uma forma de investimento coletivo, em que um grupo de investidores une forças para colocar de pé projetos do seu interesse, ao lado de empreendedores de sucesso que ficarão a cargo da operação.
Nas captações de crowdfunding, você pode investir diretamente em startups com alto potencial de crescimento, por exemplo, seja fornecendo crédito ou até mesmo se tornando sócio da empresa, passando a compartilhar dos seus resultados.
Em razão das regras de risco e liquidez do mercado de capitais nacional, esse tipo de operação estava restrita a investidores profissionais e grandes fortunas, através de fundos de venture capital e private equity.
Para se ter uma ideia de como esse mercado está aquecido, um estudo recente da consultoria Distrito, chamado “Inside Venture Capital”, mostra que apenas nos primeiros dois meses deste ano, o investimento em startups brasileiras já superou todo o volume registrado em 2021, que já foi um ano recorde.
Existem hoje no país diversas plataformas de crowdfunding especializadas em captações para empresas inovadoras que oferecem soluções disruptivas aos maiores gargalos da nossa economia.
Estamos falando de empresas que têm um potencial explosivo de crescimento e ganho de escala, graças ao uso intensivo de tecnologia, e por isso mesmo podem entregar um retorno formidável aos seus investidores, em um prazo relativamente curto.
Além disso, as captações de crowdfunding permitem investir diretamente em projetos que estão na vanguarda da nova economia, como energia renovável, moradia compartilhada e empreendimentos com forte apelo ESG, como florestas comerciais plantadas.
A grande vantagem de ter esse tipo de investimento em carteira é o fato de que são projetos criteriosamente selecionados por uma equipe de especialistas e que não têm qualquer relação com o mercado financeiro, por estarem diretamente ligados à economia real, com garantias contratuais robustas e lastro em ativos tangíveis, como imóveis, equipamentos e bens de capital, entre outros.
Portanto, uma excelente forma de fazer aquilo que Elon Musk recomenda é reservar parte do seu portfólio para empreendimentos desse tipo, que tenham baixa volatilidade, não sofram com o humor bipolar do mercado financeiro e tenham grande potencial de entregar resultados fantásticos em um período relativamente pequeno, entre 3 a 5 anos em geral.
Eu pessoalmente recomendo que os investidores tenham entre 15 e 20% da sua carteira alocada em ativos alternativos, como esses que acabei de mencionar.
Por fim, antes de investir, é muito importante que você esteja atento aos riscos inerentes à operação, que devem ser claramente divulgados na página em que a oferta está sendo feita, sempre por meio de uma plataforma devidamente autorizada e fiscalizada pela CVM.