Qual deve ser a proporção ideal de ativos reais na sua carteira?
Montar uma carteira de alta performance, capaz de entregar os retornos robustos mesmo em cenários de crise, não é tarefa fácil nem livre de controvérsias.
Mas se analisarmos a fundo os resultados das estratégias mais consistentes hoje do mercado, não é difícil perceber que os maiores retornos estão em classes de ativos muitas vezes fora do radar da maioria dos investidores.
Prova disso é o gráfico abaixo, que compara o retorno total do principal índice acionário dos EUA, o S&P 500, com o desempenho dos principais fundos de private equity atuantes naquele país, no mesmo período, medido pelo Cambridge Associates LLC US Private Equity.
Observe que os fundos de private equity não só entregaram retornos muito acima das empresas do S&P 500 nas últimas décadas, como também sua volatilidade se mostrou incomparavelmente menor até mesmo nas mais profundas e dolorosas recessões.
Já falamos nesta coluna sobre a importância da não correlação e da fronteira eficiente para investir bem e impedir que o risco de uma classe de ativos se dissemine por toda a sua carteira.
Hoje gostaria de abordar um tema ainda não devidamente explorado pelos investidores brasileiros que desejam ter um portfólio robusto e resistente a crises: os ativos reais.
É natural que uma carteira excessivamente concentrada em ativos tradicionais, como ações e títulos de renda fixa, reflita de forma mais intensa a volatilidade dos mercados líquidos, principalmente em momentos de turbulência político-econômica, como estamos vivendo.
Para administrar melhor os riscos do seu portfólio, sem abrir mão da alta rentabilidade e dos retornos esperados no médio e longo prazo, é crucial alocar entre 15% e 20% dos investimentos em ativos reais, também chamados de ativos alternativos.
Mas o que são ativos reais exatamente?
Os ativos reais são projetos e empreendimentos diretamente ligados à economia real e, por isso mesmo, guardam pouca ou nenhuma correlação com o mercado financeiro.
Esses ativos são ideias para quem tem um horizonte de investimento maior e pode abrir mão da liquidez imediata para buscar retornos mais atraentes em prazos mais alongados. Estamos falando de algo em torno de 15% a 25% ao ano, com risco controlado, em um mercado totalmente regulado pela CVM, como é o caso do investimento participativo, ou crowdfunding.
É bastante comum que os investidores queiram ter exposição a setores dinâmicos e com perspectivas de crescimento exponencial nos próximos anos, como o agronegócio e a energia renovável. Porém, em razão do seu perfil de risco, muitos preferem se expor à volatilidade do mercado financeiro, investindo em ações, por exemplo.
Uma alternativa para esses investidores seria investir diretamente em projetos de alta qualidade, com garantias contratuais sólidas, em um ambiente regulatório seguro e bem estabelecido.
Isso é possível através de captações de crowdfunding, em que um grupo de investidores têm participação direta em projetos bem estruturados, como usinas solares, empreendimentos imobiliários, startups, redes de franquias, ativos judiciais, obras de arte, commodities, entre infinitas outras possibilidades.
O crowdfunding é uma modalidade de investimento alternativo regulamentada pela CVM em 2017 e, desde então, já cresceu mais de dez vezes no Brasil, captando milhões de reais em projetos dos mais variados setores da nossa economia.
Na era da desbancarização e desintermediação dos investimentos, quem está liderando essa frente são justamente as diversas plataformas tecnológicas de crowdfunding que atuam hoje no Brasil dentro dos parâmetros legais da instrução normativa 588 da CVM.
Ao optar por diversificar seus investimentos através dessa classe de ativos, o investidor deve levar em consideração alguns aspectos, como:
- horizonte de investimento;
- Retorno esperado;
- Propensão ao risco;
- Necessidade de liquidez, etc.
Os ativos reais costumavam estar distantes dos investidores comuns. Apenas fundos de investimento estruturados, family offices e grandes fortunas conseguiam realizar operações de private equity e venture capital, investindo diretamente em empresas promissoras, capazes de entregar retornos fantásticos em um prazo relativamente curto.
A emergência do crowdfunding sob o arcabouço legal da ICVM 588 permitiu que qualquer pessoa pudesse realizar esse tipo, de forma bastante acessível, em uma gama enorme de possibilidades, desde royalties musicais até o financiamento da exportação de carne bovina.
Entre os benefícios dos ativos reais, podemos citar:
- Proteção do patrimônio: os ativos reais são muito mais estáveis que os ativos financeiros e costumam se valorizar acima da inflação;
- Retornos acima da média: o investimento direto na economia tende a gerar retornos mais previsíveis e acima dos benchmarks do mercado, como o CDI ou até mesmo o Ibovespa;
- Não correlação: os ativos reais estão lastreados em bens tangíveis e direitos contratuais específicos que não estão expostos aos riscos do mercado financeiro. Isso traz muito mais segurança para investir no longo prazo.
- Baixa volatilidade: por se tratar de projetos específicos, o risco da operação está restrito à execução ou garantias do próprio empreendimento.
Por isso mesmo, nossa recomendação é que os investidores reduzam a exposição do seu patrimônio ao risco do mercado financeiro, alocando até 20% dos seus recursos disponíveis em ativos reais de baixa liquidez, mas com perspectiva de retorno acima da média no longo prazo.
Uma ótima forma de começar a fazer isso é pesquisar melhor as diversas opções disponíveis hoje no mercado em termos de plataformas de investimento, sempre com atenção às teses de investimento adotadas por cada plataforma e os processos adotados para a originação das ofertas.
Espero que nosso artigo de hoje tenha trazido reflexões importantes para seu desenvolvimento como investidor e o ajude a navegar por mares tão revoltos como o que estamos vivendo ultimamente no país.