Felipe Souto

Você investiria 1 milhão de reais em uma garrafa de vinho?

O mercado de vinhos finos é um dos mais tradicionais e estáveis entre as commodities, além de oferecer produtos de luxo altamente valorizados no mercado secundário.

Quem se detiver um instante observando os impressionantes números do mercado de vinhos finos, pode se perguntar como uma simples garrafa dessa bebida ancestral pode atingir cifras inimagináveis, na casa de centenas de milhares de dólares.

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Entre as garrafas de vinho mais caras do mundo estão as produzidas pela vinícola francesa Domaine de la Romanée-Conti, na Borgonha, que podem facilmente atingir cifras de sete dígitos.

Consideradas como verdadeiras joias, oferecidas por um dos produtores mais reconhecidos e venerados do planeta, as garrafas de Romanée-Conti são sinônimo não apenas de qualidade e tradição, mas, sobretudo, de status, já que nenhum estabelecimento de luxo – como restaurante, cassino, hotel, cruzeiro, entre outros – é digno dessa classificação se não tiver na sua adega um representante máximo do vinho de Borgonha.

Sem dúvida, a demanda crescente por esse artigo de luxo chamado vinho fino nos leva a indagar o que está por trás da sua formidável valorização no mercado secundário e por que tantos investidores estão de olho nessas garrafas como forma de diversificação de portfólio e proteção de patrimônio.

Creio que seria desnecessário dizer que o público de alta renda costuma atribuir grande peso aos ativos reais em suas carteiras, com destaque para artigos de valor material e estético, como obras de arte, joias, imóveis de grandes arquitetos, móveis de design e artigos gerais de coleção, como carros clássicos, entre outros.

São produtos altamente apreciados por indivíduos com grande fortuna, que gostam de frequentar estabelecimentos que cultivem e mantenham em seu portfólio esses itens extremamente seletos e de acesso privilegiado, como o vinho fino.

O que é um vinho fino?

Por definição, para ser alçado à categoria de vinho fino, um rótulo precisa apresentar algumas características importantes, que vão muito além da qualidade da sua safra.

Em primeiro lugar, um vinho fino precisa ser raro, isto é, sua produção deve vir das regiões produtoras mais aclamadas pela crítica e ter uma oferta restrita, até mesmo por conta da natural limitação de extensão das suas terras. Entre as garrafas mais procuradas estão aquelas provenientes de regiões como Bordeaux, Borgonha, Ródano, Champanha, Itália e algumas partes do chamado “Novo Mundo”.

Para receber grau de investimento, um vinho fino precisa ter potencial de se valorizar com o tempo, seja por conta da sua safra primorosa, seja pela baixa disponibilidade de garrafas existentes no mercado.

De fato, cada garrafa de vinho fino aberta significa que uma unidade a menos estará disponível e não será substituída por uma oferta posterior equivalente. Isso está na base da estabilidade de preços e na alta rentabilidade desse mercado, que é conhecido por gerar resultados muito mais consistentes do que os mercados “líquidos”, como ações e títulos públicos, no longo prazo.

É possível investir em vinho fino com pouco dinheiro?

Ultimamente, tenho ouvido muito essa pergunta, de investidores comuns que acreditam que esse mercado só é acessível a investidores qualificados, institucionais ou profissionais, através de fundos de investimento especializados, geralmente fora do país.

A julgar pelos números do mercado de vinhos finos, que movimenta bilhões de dólares todos os anos, não só na comercialização em si das garrafas, mas também em termos de produção de riquezas com impostos, empregos diretos e indiretos, turismo e investimento, certamente seria possível pensar que se trata de um mercado restrito a poucos privilegiados.

No entanto, novas iniciativas no mercado de capitais, como o crowdfunding, estão permitindo que qualquer pessoa que deseja sofisticar um pouco mais sua carteira com ativos reais de alta qualidade, como vinhos finos, possa participar desses mercados alternativos com segurança e grande potencial de retorno.

O crowdfunding foi regulado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em 2017 e, desde então, vem crescendo a passos largos em nosso país ao, de um lado, abrir as portas do mercado de capitais a bons empreendedores, que não encontram nas linhas tradicionais de crédito fontes viáveis de financiamento para seus projetos e, de outro, permitir que investidores comuns tenham exposição a empreendimentos da economia real, graças ao número crescente de plataformas autorizadas operando nesse segmento.

O investimento participativo, como também é conhecido o crowdfunding no Brasil, une investidores e empreendedores com interesses comuns em projetos que antes estavam restritos a poucos privilegiados no mercado financeiro.

O investimento em vinhos finos é um deles. Já há no Brasil diversas empresas especializadas que estão captando recursos via crowdfunding para adquirir garrafas de vinho fino com alto potencial de valorização no mercado secundário, inclusive na Liv-Ex (London International Vintners Exchange), a “bolsa de valores” do vinho fino, com sede em Londres, que oferece liquidez a esse mercado para quem deseja ser investidor.

Portanto, se você quer diversificar seus investimentos com os chamados “passion assets”, não deixe se aprofundar sobre esse profícuo mercado, agora também acessível via captações de crowdfunding.

Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

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