Ouse e opte pelo simples na hora de avaliar empresas para investir
Ao longo dos anos tenho observado a evolução das metodologias de análise fundamentalista de empresas com fins de investimentos em ações. Me preocupa o grau de complexidade que se agrega a algo que devia ser mais simples. No final das contas, quem investe em ações para o longo prazo (5 anos) quer identificar uma empresa bem gerida, com estratégias de crescimento bem definidas e que poderão ter suas ações valorizadas em 200%, 300%, 500%.
No mundo real vemos que isso é possível, acontece, mas alguém já recebeu um relatório de análise sinalizando potencial de ganhos dessas magnitudes? O padrão é sinalizar um preço alvo para o final do ano corrente com potencial de valorização entre 20% e 30%. Quando vira o calendário, renova-se outro potencial de 20% ou 30%. Porque não sinalizar um objetivo para os próximos 5 anos?
As vezes tenho a impressão de que muitos estão usando técnicas de avaliação de Fusões e Aquisições ou de “Deals” pontuais para avaliar empresas da bolsa.
Acho que tem que ser diferente. Para investir em ações no longo prazo deve-se fazer um esforço para imaginar como determinada empresa vai estar posicionada em 4 ou 5 anos. Sem menosprezar a avaliação (valuation), o exercício de imaginação vem em primeiro lugar, baseado em uma intensiva análise e investigações de caráter qualitativo. Definida a imagem já devemos saber se vamos comprar ou vender e partimos para a avaliação para termos os parâmetros em números.
No “valuation” observo um certo engessamento dos modelos e pouca ousadia na definição de premissas, o que causa muitas vezes o descarte de oportunidades. Todos sabemos da importância do “g” (growth) em um modelo de avaliação por fluxo de caixa descontado (FCD): na minha opinião é onde ocorrem os maiores equívocos de um “valuation”. Já vi modelos onde a companhia cresce nos primeiros anos a um ritmo de 15%/20% nos primeiros anos e na perpetuidade atribui-se um crescimento (g) de 2%. Apesar de possível, essa situação é estranha e identificaria que essa empresa terá algum tipo de problema na sua perpetuidade e assim não investiria nas suas ações.
Ouso fazer algumas sugestões:
- Sempre optar pelo simples.
- Colocar mais tempo no qualitativo, pois é ele que vai “contar” como aquela empresa vai estar no longo prazo.
- No momento do valuation a primeira sugestão é para adaptar a metodologia de avaliação para cada empresa – as empresas são diferentes, as avaliações têm que ser diferentes.
- Caso opte pelo Fluxo de Caixa Descontado (FCD), seja ousado, principalmente na definição do “g”, para não desperdiçar oportunidades.
Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.