Investir em ações: ganhos estão no longo prazo
Num dia desses li uma reportagem sobre três amigos que decidiram empreender. A ideia era comprar um negócio já existente e transformá-lo para que gerasse valor ao longo dos anos. A escolha recaiu sobre uma pizzaria. Analisaram as possibilidades de transformação, fizeram suas projeções e decidiram pelo investimento. O plano de negócios compreendia a renovação do cardápio, do espaço físico, desenvolver o delivery e numa segunda etapa a abertura de novas unidades.
Pois bem, fizeram o negócio no início de 2020 e logo depois veio a pandemia do Covid-19, algo muito prejudicial para as vendas, especialmente para o ramo de restaurantes. Mesmo assim, mantiveram o plano e depois de quase dois anos já colhem excelentes resultados. Até planejam a abertura de duas novas unidades para breve.
Em nenhum momento pensaram em vender ou fechar o negócio recém-adquirido por causa do cenário mais adverso que o previsto. Se tivessem vendido, certamente estariam arrependidos.
Este é um caso real de uma pequena empresa, mas que tem muito a ver com o investimento em ações – afinal de contas, investir no mercado acionário é comprar pequenas partes de uma empresa.
Entretanto não é isso que tenho visto no Brasil. Vejo pouca persistência do investidor. Ninguém compra uma pizzaria hoje para vender no mês que vem, assim como ninguém deveria comprar uma ação hoje para vender rapidamente, ainda mais se tratando de empresas Small Caps e mais ainda realizando um prejuízo no investimento.
Existe um imediatismo muito grande, incompatível com o investimento em ações.
Vejo atualmente muitas companhias que não tiveram qualquer mudança no seu desempenho operacional terem as suas ações desvalorizadas de forma abrupta, um movimento totalmente irracional. Nesses casos, quem vendeu na queda realizou um prejuízo. Quem entendeu que se tratava de algo conjuntural vai verificar que lá na frente (sim. é necessário paciência) uma valorização relevante pode estar por acontecer.
Acredito que grande parte dos novos investidores que chegaram à bolsa, os investidores da “fase dos juros de 2% a.a.”, não sabiam exatamente o que estavam fazendo ou foram mal orientados na busca da rentabilização dos seus respectivos patrimônios. Isso gerou uma frustação com o retorno de curto prazo e por fim tem desembocado na liquidação dos investimentos com prejuízos, em alguns casos até elevados.
Retirar os recursos com perdas e retornar para a renda fixa acreditando que a recuperação de valores perdidos ocorrerá é ilusão: perdas com ações não se recuperam com renda fixa.
Nem todo mundo é apto a investir em renda variável (o tal do perfil do investidor) e mesmo aqueles aptos devem entender que os retornos relevantes estão localizados no longo prazo.
Não ignoro a marca dos 5 milhões de cadastros na B3 (B3SA3) e nem o crescimento do volume de negócios nos últimos 5 anos. Entretanto, acho interessante quebrar esse ciclo vicioso de comprar na alta e vender na baixa que tenho visto. Isso afasta investidores no longo prazo e impede que a bolsa de valores cresça e se desenvolva de forma consistente e sustentável. Sei das questões de psicologia do investidor, mas acredito que os profissionais do mercado também devem ter essa visão de longo prazo e podem exercer papel importante nessa mudança de mentalidade.
Nota
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