Carolina Cabral

A luta incansável por mais lideranças femininas

O setor corporativo precisa se posicionar dentro das comunidades e das sociedades em que vivem. Todos precisam se responsabilizar para sermos capazes de transformar essa realidade

A desigualdade de gênero possui causas históricas, a começar pela formação patriarcal da nossa sociedade. E embora essa palavra – o patriarcado – esteja em voga, poucas pessoas sabem o que de fato ela significa, por isso gostaria de iniciar esse artigo esclarecendo: trata-se de um sistema social que privilegia homens através das principais instituições que formam nossas relações – família, o trabalho, a religião, entre outras. O patriarcado proporciona poder aos homens para se colocarem acima das mulheres e decidir sobre suas posições também. 

Isso pode ser observado fortemente, por exemplo, em núcleos familiares, onde até hoje pais saem para trabalhar enquanto mães ficam encarregadas de cuidar dos filhos, da casa e dos afazeres domésticos em geral – ainda que possuam uma profissão e trabalhem o dia inteiro fora de casa. Se isso acontece ainda hoje, imaginem como era nos tempos mais distantes, quando às mulheres não era permitido nem mesmo estudar.

Destaco neste ponto que entendo o cuidado com a casa e a criação dos filhos como um desafio enorme e que minha crítica não está nisso, mas sim na limitação das mulheres a fazerem somente isso, como se ao homem não coubesse tal responsabilidade. Resumindo, o homem sempre foi privilegiado É como se o tempo do homem fosse mais valorizado que o da mulher. No final das contas, um dos reflexos dessa desigualdade, são as relações abusivas comuns até hoje, seja por dependência financeira e/ou emocional.

Nossa sociedade é machista e para conseguirmos evoluir, é necessário um aculturamento pró-igualdade que é de responsabilidade dos governos, mas também das empresas. O setor corporativo precisa se posicionar dentro das comunidades e das sociedades em que vivem. Todos precisam se responsabilizar para sermos capazes de transformar essa realidade. 

Essa é a razão da luta incansável por mais lideranças femininas.

Uma pesquisa realizada pela Catho em 2021 mostrou que as mulheres em cargos de liderança ganham, em média, 34% menos do que os homens. Outra informação chocante é que, na área de tecnologia, apenas 19% dos cargos são ocupados por mulheres. Obviamente isso não ocorre por falta de profissionais qualificadas. Acredito que um dos principais problemas na contratação de talentos femininos ocorre nas posições de entrada.

Quando as características de homens e mulheres são respeitadas, elas contribuem e se complementam para um ambiente de trabalho mais estruturado, multicultural e inovador. Isso porque a diversidade potencializa resultados: quando trabalhamos em um lugar onde todos são iguais, possuem as mesmas histórias, as mesmas experiências… Não há meios de fazer algo diferente.

Minha crítica é que as empresas, em geral, optam por contratar pessoas que se assemelham com aquelas que já estão ali. Isso é prejudicial por eliminar muitas alternativas que poderiam revolucionar e trazer um novo olhar para dentro das organizações.

Sabemos que as gestões femininas têm como característica a empatia, a resiliência e a autenticidade. Mas não é só isso: temos a capacidade de observar o todo e isso nos dá uma habilidade de integrar melhor as equipes e ter um ambiente de trabalho mais harmônico. Vivemos em um mundo multitarefa e a mulher é reconhecida por ter a capacidade de executar diversas coisas ao mesmo tempo, ou seja, uma característica perfeita para o nosso momento de mundo. Como reflexo, vemos tomadas de decisões mais assertivas, por exemplo.

Para finalizar, reforço que não adianta apenas as empresas “quererem” mulheres em cargos de liderança. É necessário que o ambiente seja acolhedor. E para isso, é importante contar com políticas específicas para essa questão no ambiente corporativo. É mais que um motivo justificável por indicadores: é uma preocupação social.

Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

Carolina Cabral

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