Não é preciso acertar a maioria
Quando começamos no mundo dos investimentos deparamos a pergunta sobre nosso perfil de investidor. Nesse momento somos convidados a fazer uma análise introspectiva sobre como lidamos com diferentes situações (que envolvem nosso dinheiro).
O ser humano não tem muito costume de aprender ou conversar sobre o risco, tratando-o como algo a ser evitado a todo custo. Será mesmo que risco é algo que devemos fugir? Acredito que risco é um caminho necessário para acessar uma condição que, dentro de uma caixa, não será possível.
Risco pode ser uma variável ao qual a estatística pode calcular, tentar mensurar, mas quando falamos de quanto de risco uma pessoa aceita se expor, entraremos no campo da subjetividade. Descobrir o seu “nível de tolerância ao risco” não é um ponto de chegada. Nossas vidas mudam muito rápido e somos muito suscetíveis a variações em nossas emoções – existe uma chance considerável de que reagiremos de forma diferente a situações bem semelhantes que já vivenciamos.
Ninguém tem a total noção de qual é a sua tolerância ao risco em si. Talvez só a experiência de passar por momentos desfavoráveis somado a uma não tão boa decisão de investimento, que só estava de pé por uma condição pontual.
Importante filtrar a quem dar ouvidos
Muito investidor se vangloria por ter feito um investimento em determinado tempo no passado em um ativo (duvidoso) e que conseguiu uma rentabilidade muito boa. Cuidado com esse tipo de discurso, é bem sedutor para nos estimular a fazer a mesma coisa. Tudo bem que deu certo, porém, se tivesse dado errado, o investidor ficaria fora do “game”. E, como a escola do Value Investing sempre coloca, a longevidade dentro do mercado financeiro é mais do que essencial. Tomar um risco ao qual pode ocasionar uma diminuição drástica do seu patrimônio é uma péssima decisão.
Se seduzir por querer adiantar o processo de chegada ao seu objetivo, com uma visão míope, focar apenas em “Retorno”, pode ser letal. Nessa ocasião o nível de risco adicionado ao seu portfólio jogará a estatística contra o próprio investidor; agora cada vez mais variáveis aleatórias terão que convergir que aquele movimento se mostre assertivo. A busca por investimentos high risk coincide com momentos de bull markets¹, este ao qual o nível de ceticismo do investidor em geral está muito baixo, a escolha se baseia em argumentos e análises muito rasas e, claro, todos passam a ter um estômago mais arrojado.
Você irá errar (mais do que espera)
Estar disposto a perder é um grande primeiro passo. Quando uma pessoa começa a investir, geralmente procura por uma fórmula milagrosa que trará o conforto de nunca (ou quase nunca) perder dinheiro – algo que é impossível. Ou seja, esteja pronto para tomar uma decisão que em algum momento se mostrará equivocada e, por fim, ter que liquidar aquele ativo, mesmo que no negativo.
Por mais estranho que possa ser, um percentual relevante da carteira de um investidor bem-sucedido ao longo do tempo vai se mostrar uma posição perdedora, seja pelo motivo qual for. E um pequeno número de empresas ao qual investiram grandes quantias e mantiveram em seus portfólios por décadas trarão retornos digno de matérias em capas de jornais.
Quando lemos sobre o Oráculo da Omaha, apelido carinhoso dado ao Warren Buffett, nomeado por muitos como o maior investidor do mundo, imaginamos uma carreira de excelentes escolhas na compra de Ações — com a ideia que teve retornos grandes para a maioria dos ativos que comprou, porém o mesmo comenta que durante todas essas décadas no mercado financeiro, o número de empresas que realmente se mostraram extraordinariamente vendedoras se resume a uma dúzia.
Em sua recente carta aos investidores “Fewer Losers, or More Winners”, Howard Marks explorou sobre a ideia do parágrafo anterior. Ele cita sobre uma conversa com David VanBenschoten, chefe do fundo de pensão da General Mills (G1MI34), ao qual o gestor comentou que em 14 anos no cargo o retorno do patrimônio do fundo nunca ficou acima do 27° percentil² do universo dos fundos de pensão ou abaixo do do 47° percentil. Mesmo assim, durante esse período de 14 anos, o fundo ficou no Quarto Percentil!
Marks finaliza comentando que a maioria dos investidores almejam um desempenho de alto nível e com isso acabam dando um “tiro no próprio pé”.
Portanto, é aconselhável considerar sua exposição ao risco de acordo com seu perfil de investidor, capacidade de suportar riscos e situação financeira atual. A adoção de uma filosofia de investimento e a busca por conhecimento através da leitura de livros e artigos podem acelerar o processo de forma prudente e menos arriscada.
¹Bull market – expressão utilizada no mercado financeiro para demonstrar momentos de bonança e otimismo.
²percentil – são medidas que dividem a amostra em 100 partes. Exemplo: se nos referirmos ao Quarto percentil, falaremos de 4% dos dados.
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