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Bruno Perottoni
Cotação do dólar - Foto: iStock

Cotação do dólar - Foto: iStock

Quem dá preço ao dólar hoje?

Se você perguntar por aí o que move o preço de um determinado ativo, ouvirá, de bate pronto, que oferta e demanda são as forças responsáveis por isso. Simples e objetivo. Até bastante acadêmico, eu diria. Se escrever isso numa prova escolar, terá uma boa nota. Mas vamos subir um nível e ir um pouco mais além. Te convido para ler este artigo – que será publicado em três partes – numa trilogia para refletir sobre o que faz o preço de uma moeda, ou, o que monta o valor do dólar, carro-chefe do mercado de câmbio no Brasil.

Vez ou outra, especialistas de mercado costumam receber a pergunta: dólar baixou, é hora de comprar? Há anos trabalhando neste segmento, eu penso que além da taxa de câmbio – propriamente dita – existe algo muito mais interessante neste quesito e que vai além do preço do ativo. É algo que costumo chamar de ‘percepção de preço’. Eu explico.

Usando um exemplo mais prático: imagine um importador, de qualquer produto ou matéria prima, hoje, vendo a notícia de que o dólar está cotado a R$ 4,87 e que ficou entre R$ 4,83 e R$ 4,90 nos últimos dez dias. Mesmo sem olhar para uma tela de cotações, é comum que esse empreendedor ache ‘barato’ a moeda estar perto de R$ 4,80 e ‘caro’, se estiver acima de R$ 4,90. Esta será sua percepção de preço.

Assim, se houver uma queda, e a moeda apresentar qualquer valor abaixo da percepção mínima, o momento poderá ser visto como uma oportunidade de compra. Do contrário, qualquer número acima daquilo que foi considerado ‘caro’, poderá ser encarado como uma ‘não oportunidade’, e se ele tiver opção, não comprará nem produto, nem matéria prima e também não fechará câmbio. A recíproca é verdadeira quanto ao exportador, que sempre espera uma alta para poder vender mais, dentro das percepções que ele cria na sua cabeça. Nesse ritmo, o mercado se movimenta refletindo as percepções de seus agentes, seja lá de que lado estejam.

Falando sobre como este exemplo pode ser visto nas telas de análise gráfica, teremos uma linha de suporte, que identifica a percepção dos agentes, mostrando o encontro entre teoria e fundamentos. Logo, se estivermos em uma situação em que muitos negociadores estão considerando o preço da moeda ‘barato’, estaremos diante de um gráfico indicando grande volume de compras. E no que isso resulta para o mercado, na prática? Demanda de dólar, cotações sustentadas, fluxo cambial com as saídas de dólares superando as entradas, e, neste patamar, os agentes têm apetite pela moeda.

Na outra mão, se tivermos uma valorização expressiva do dólar, poderemos ver um fluxo cambial positivo, com entrada de dólares superando as saídas, no qual exportadores estariam nacionalizando recursos, ou investidores estrangeiros vindo em busca de taxas mais favoráveis para uma arbitragem de taxa de juros – uma aplicação financeira que consiste em tomar dinheiro em um país e aplicá-lo em outra moeda, onde as taxas são maiores. Desta forma, a diferença entre as operações torna-se lucro para o investidor.

Agora, note que o ambiente neste exemplo, foi formado a partir da percepção de preços, constituída com base na interpretação de cada agente sobre os fundamentos do mercado. Embora de forma abstrata e conceitual, o exemplo dado aqui objetiva caracterizar a formação de preço sem se ater a questão de valor. Nos próximos dois textos dessa trilogia, pretendo explicar sobre mercado de casado de dólar, passando pelo cupom de casado até chegar na precificação de futuros, fatores que compõem a real métrica do custo do dólar.

Nota

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