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Bruno Perottoni
Dólar - Foto: iStock BDRs

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Dólar: quando e como comprar? Dicas que valem para outras moedas também

Pergunta recorrente na vida de quase todo profissional de finanças: quando e como comprar dólares. Muita gente acredita que os traders são os donos dos melhores conselhos sobre compra de moeda estrangeira, aplicações, investimentos e, quase sempre, possuem uma solução mirabolante de algo que renda muito e não tenha risco. A premissa, de certa forma, é verdadeira. Mas não existe milagre. Então qualquer dica que você ler aqui precisa de ponderação.

Dito isso, te conto sobre quando comprar dólar ou qualquer outra moeda. Para explicar esse conceito, costumo fazer uma analogia de que montar uma posição (em qualquer ativo) com uma única tomada de preços é como ir a uma caçada com apenas uma flecha e a obrigação de acertar o único disparo. Existem aqueles que conseguem, mas a estatística e a matemática, quase sempre, são veementemente contra. Outra situação é ter duas ou três flechas para lograr o êxito de trazer a caça para casa com a estatística a seu favor. Então, a mesma relação vale para tomada de posição: tentar acertar com uma única operação, a máxima ou a mínima de um determinado ativo é quase impossível.

Assim, posição, costumo dizer, é algo que se constrói, tijolo a tijolo. Começa com o alicerce da definição de um cenário. Podemos olhar uma posição especulativa com base no contexto macroeconômico ou podemos olhar a nossa necessidade. Para exemplificar, pensemos num viajante ou num importador, qual será uma das necessidades financeiras dele? Comprar moeda estrangeira. Pronto, definiu-se a base da estratégia muito facilmente. Mas quando e como ele fará isso da maneira mais vantajosa?

Se você tem uma viagem ou pagamento em moeda estrangeira para fazer amanhã, a minha notícia não é boa para você: terá que comprar “a mercado”, no preço que o vendedor tiver para lhe entregar e caso encerrado. No entanto, se você planeja algo para daqui três meses, terá então as três flechas da oportunidade para usá-las a seu favor, e com parcimônia, para construir uma posição. Então, nos 90 dias que você terá pela frente, pode escalonar as compras de acordo com o seu fluxo de caixa, ou seja, vai comprando aos poucos. Você também pode deixar o dinheiro reservado e acompanhar as notícias, e naquele belo dia que você abrir o seu portal de notícias e ler “dólar opera em queda“, pode comprar algo se beneficiando de uma oportunidade. É usar a matemática e a estatística a seu favor, é o que os traders chamam de fazer preço médio. Seja uma posição de US$ 1.000 para ir viajar ou de US$ 10.000.000 de uma instituição financeira, quase sempre busca-se seguir essa regra.

Agora, sobre como comprar: num mundo cada vez mais digital é possível achar uma série de aplicativos, inclusive para realizar transações financeiras de várias naturezas, desde pagamentos até operações de câmbio. Dados da consultoria PwC apontam que os volumes globais de pagamentos digitais deverão aumentar em mais de 80% até 2025, com as transações atingindo a casa do trilhão, anualmente. Reflexo direto desse comportamento mais conectado. Seguindo essa tendência, hoje existe uma variedade muito grande de carteiras eletrônicas multimoedas, cada qual com seus atrativos, seus prós e contras. Umas com a interface mais legal, outras com preço melhor, algumas com cashback, cupom de desconto, etc. O mais importante sobre essas ferramentas, e que você precisa saber antes de usar, é: certifique-se que são seguras e respaldadas por alguma entidade regulada no Brasil e/ou no exterior. Com a popularização das contas multimoedas, os brasileiros podem pesquisar, comparar e usar a mais vantajosa. Usar esse tipo de aplicativo para fechar câmbio e adquirir dinheiro estrangeiro é uma das opções mais baratas, fáceis e seguras. Independentemente do valor movimentado. Em algumas, é possível simular o câmbio e assim, dá para avaliar o melhor momento de comprar e fazer o planejamento ideal na construção da posição.

Última opção, que eu considero, na aquisição de dinheiro é ‘comprar em espécie’: é caro e te expõe a riscos. E não só o risco de preço, mas também de segurança pessoal, integridade física, e até econômica. Sim meu caro, triste realidade, mas não me parece razoável sair por aí com um envelope de dólares embaixo do braço. Definitivamente, pode sair mais caro do que você pode imaginar.

E se eu comprar moeda estrangeiro como investimento?

E se eu for comprar moeda estrangeira como investimento? Aqui você vai usar o dinheiro como ferramenta de diversificação de portfólio. O que penso sobre isso? Acho muito válido, a diversificação é a chave da alocação de recursos e mitigação de riscos, mas com cautela. Existe um mundo de possibilidades de investimentos lá fora e grande parte delas podem ser consideradas, mas o caminho para isso também é muito relevante. Primeiro passo é avaliar as despesas operacionais. Hoje, você terá um custo no fechamento de câmbio para fazer seu dinheiro chegar até lá. Terá a variação do preço do ativo, que torço para que seja positivo. Mas pode não ser. E na hora de trazer o recurso ‘de volta’? Terá outro valor do câmbio, além da tributação. Este não é um discurso contra a diversificação, é uma narrativa de ponderação. Faça, mas procure estar bem amparado e fundamentado. Também vale lembrar que existe, ainda, o custo de oportunidade: investir em A é, automaticamente, deixar de investir em B. Avalie.

Quem investe no exterior, diretamente, está colocando em sua carteira um fator de risco cambial, outro do investimento selecionado lá fora e mais um, que chamamos de soberano (que nem sempre é ruim). Ter disponibilidade em alguma moeda estrangeira é sempre positivo. Tome como exemplos os nossos vizinhos argentinos e aprendamos com os erros dos outros, que é menos doloroso. Para quem não pensa em ter um investimento no exterior ou constituir disponibilidade em outra moeda e país, existe ainda a opção de aportar em fundos cambiais locais, que dão ao seu portfólio a possibilidade de se expor ao risco cambial puro. Ou seja: variação da taxa de câmbio, sem estar guardando notas na “gaveta da cômoda”, com uma gestão especializada e risco administrado por profissionais. Vale pensar.

Para concluir, faço um reforço importante: nenhum desses tópicos é uma recomendação do que fazer, é um direcionamento para lembrar do que não fazer (sair comprando papel moeda, por exemplo. A humanidade já evoluiu mais que isso). No mais, quando pensar em câmbio, abra-se para um leque de oportunidades, seja você um viajante, empresário ou investidor, para que tenha técnicas e mentalidade institucionais nas suas tomadas de decisão, para que elas sejam mais fundamentadas, assertivas e vencedoras.

Nota

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