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Andressa Siqueira
Andressa Siqueira

Quanto mais risco, mais retorno?

Em meus anos de consultoria de investimentos, atendi milhares de clientes diferentes e vi muitos portfólios de investimentos com composições distintas, mas os resultados que poderíamos esperar não eram tão distintos assim.

Claro que, se o intuito for se apegar aos detalhes, podemos afirmar que cada carteira de investimentos é e será única, pois tem suas particularidades como: a proporção de cada investimento, por qual motivo foi adicionado ao portfólio e assim por diante.

Mas o ponto aqui é outro: hoje quero falar um pouco sobre risco. Apesar de que ao final, este artigo terá sido mais sobre retorno do que sobre risco. Vamos nos aprofundar.

O mercado financeiro é um misto de teorias, cálculos, alguns mitos e muitas verdades. A primeira delas é que seus investimentos precisam estar expostos a alguns riscos, mas não aos ruins. A segunda é que a diversificação desagrada a maior parte dos investidores, mas não os bem sucedidos.

Os casos mais crônicos da falta de diversificação você já deve conhecer: concentração de riscos e pulverização de recursos. Mas existem outros em que a diversificação parece estar acontecendo (para exemplificar, poderia ser um portfólio com títulos de renda fixa, multimercados, ações, FIIs), mas isso nem sempre é verdade.

Lembre que a renda fixa e a renda variável são duas categorias de investimentos gerais, e ambas possuem características próprias. De modo que, essas características são capazes de explicar quase todo retorno dos investimentos atrelados a essas categorias.

Sabendo disso, mais importante do que os ativos estarem “diversificados”, são os fatores de risco estarem diversificados. O que nem todo mundo sabe é que em cenários de crise, há uma tendência dos ativos a correlação igual a 1, ou seja, se movem na direção de queda. Daí, a importância de se pensar na diversificação de fatores de risco ao invés da diversificação por ativos apenas.

Por exemplo, os FIIs (Fundos de Investimentos Imobiliários) são citados de forma constante como opção conveniente para diversificação de portfólios. Mas, quando você for analisar a estrutura deste tipo de investimento, vai notar que ele possui elementos atrelados à renda variável e à renda fixa, de modo que seus resultados são explicados pelos mesmos fatores de risco que ações e títulos de renda fixa.

Isso quer dizer que os FIIs na carteira do exemplo que mencionei acima aumentam o peso dos riscos de renda fixa e renda variável. E similar aos casos mais crônicos, você terá aumentando a concentração dos seus riscos e pulverizado seu patrimônio.

Além de não ajudar no fator diversificação, outros riscos particulares ao negócio de imóveis são adicionados à carteira, o problema é que estes são justamente os riscos ruins – os quais não tendem a um retorno positivo e também não são diversificáveis. Na prática, investindo assim, só estamos aumentando o risco e diminuindo o potencial de retorno da carteira.

Adicionar mais ativos a sua carteira pode causar ineficiência

Não é tão difícil encontrar FIIs que podem reduzir a volatilidade global da carteira. Mas, você, ao optar por esse investimento, está deixando de aplicar recursos em ativos que poderiam produzir retornos melhores e mais confiáveis. Explico o motivo: o mercado imobiliário, quando comparado ao mercado de crédito e de ações, é menos eficiente.

Assim, enquanto o mercado de crédito e ações precificam rapidamente novas informações, a precificação dos imóveis está atrelada a avaliações mais subjetivas. Não sendo veloz o suficiente para se ajustar como as ações e títulos de renda fixa. Desse modo, adicionar mais ativos a sua carteira pode causar ineficiência – efeito oposto do desejado.

A melhor alternativa para que você chegue a uma carteira de investimentos verdadeiramente diversificada é contar com um especialista que te auxilie sem conflito de interesses. Mas vou contar agora como pode ser o caminho para que, nos seus investimentos, o risco seja compensado pelo retorno.

O que todo investidor, na verdade, quer é encontrar assimetrias para seus investimentos. Essa assimetria pode ocorrer de diversas formas: imagine uma situação em que o risco de perdas seria menor do que a possibilidade de ganhar muito dinheiro no longo prazo; ou, imagine que há possibilidade de ganhar tanto no mercado em alta, como no mercado em queda.

Para construir uma carteira assim, é importante que primeiro você não crie grandes expectativas com relação aos seus retornos no curto prazo, desconfie de quem disser pode te entregar isso.

Em segundo, a maior parte da carteira deve refletir o prêmio principal, que é a média do mercado. Para fazer isso é importante investir em alguns índices amplos e estratégias passivas, um exemplo são os ETFs de renda variável e os investimentos passivos de renda fixa pós-fixados.

Na sequência vêm: diversificação em posição geográfica e alocação de recursos no exterior. Isso também pode ser feito via investimentos por ETFs internacionais, e você pode complementar com fundos multimercados descorrelacionados.

Para atender ao seu viés home bias (preferência por investir no seu país), duas coisas: escolha fundos ativos de bons gestores que estejam descorrelacionados com os índices amplos, como o Ibovespa; e, invista em uma ETF que capture o crescimento do setor de tecnologia no Brasil. Pois, de acordo com o índice de gestão ativa (IQT), um pouco mais de 40% dos gestores ativos no Brasil conseguem bater o benchmark com consistência – gerando um alpha positivo -, e o segmento de tecnologia superou muito a média de mercado nos últimos anos.

Evite concentração de riscos e evite também adicionar riscos ruins para o seu portfólio. Assim, você poderá ter o maior lançamento de (bons) riscos distintos na sua carteira e consequentemente terá sucesso no longo prazo. Em tempo: nem sempre mais risco é igual a mais retorno.

Nota

Os textos e opiniões publicados na área de colunistas são de responsabilidade do autor e não representam, necessariamente, a visão do Suno Notícias ou do Grupo Suno.

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