Choque do petróleo, inflação e os impactos no seu bolso
A esta altura, todo tipo de acontecimento já foi noticiado sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia. Os impactos desse cenário já atingiram aspectos materiais, a vida e o bolso de milhões de pessoas já foram afetadas e, mesmo que o conflito acabasse hoje, as consequências dele ainda se estenderiam por mais tempo – o que é lamentável.
Esta e outras diversas tensões geopolíticas acabam em algum momento tendo como um dos personagens centrais o petróleo. Embora a origem do conflito entre Rússia e Ucrânia esteja longe de ser motivada por exploração ou comercialização petrolífera, o petróleo acaba aparecendo como instrumento de sanções econômicas dada a grande importância dessa commodity para o mundo.
A Rússia vem sofrendo sanções com relação às negociações dessa matéria-prima, e isso acontece porque o país é um ator principal nesse mercado, tendo diversos países centrais dependentes do seu fornecimento para não enfrentarem um colapso.
De toda forma, é importante entender como o cenário de hoje pode impactar a economia de amanhã. Quero propor que façamos o exercício de imaginar um cenário isolado, no qual o único choque de hoje seja o do preço do petróleo.
O conflito que ocorre no leste europeu pode ser interpretado como um choque de oferta agregada, que captura os efeitos do que está ocorrendo e que tem influência sobre a inflação. É neste momento que as expectativas de inflação começam a subir. Sabendo disso, confira o gráfico abaixo:
No momento em que esse choque ocorre, a curva de oferta agregada, OAt-1, se desloca para cima e vai para a posição OAt. Este é um movimento com exata dimensão do choque.
Importante lembrar que o choque de oferta não é uma variável na equação da demanda agregada e a curva de demanda agregada não se altera com o efeito do choque.
Dessa forma, a economia se movimenta ao longo da curva de demanda agregada, ou seja, se movimenta do ponto A para o ponto B. Esse choque de oferta faz com que a inflação suba de πt-1 para πt. Quando a inflação sobe, o bolso sente.
Nessa circunstância, o Banco Central reage de acordo com a sua política monetária definida, e via de regra eleva a taxa de juros, no nosso caso a taxa Selic. Com a elevação da Selic, há uma redução na demanda de bens e serviços, representada pela curva OAt+1, o que pressiona a produção para um patamar abaixo de seu nível natural representado por Y.
Porém, a produção em um nível mais baixo só é capaz de amenizar a pressão inflacionária até certo ponto. Então, o resultado é uma inflação π+1, um pouco menor do que a provocada pelo choque inicial. Nos períodos subsequentes ao choque, a inflação esperada será mais alta do que se esperava antes dos acontecimentos. Isso ocorre porque, em linhas gerais, as expectativas para a inflação de amanhã dependem da inflação de ontem.
Com isso, a economia se movimenta do ponto B para o ponto C.
E então, no momento em que o choque acaba, a economia não volta imediatamente ao cenário anterior — ao invés disso ela se desloca gradual e lentamente para sua posição inicial, ou seja ao ponto A.
Um ponto primordial aqui é que apesar de ser possível compreender esse fenômeno de maneira isolada com a dinâmica apenas da oferta de uma matéria-prima, o mundo em conflito, caso do atual, passa por diversas pressões ao mesmo tempo, recebendo impacto em diversos tipos de matérias e setores. Além disso, infelizmente (ou felizmente) as coisas não são tão organizadas quanto no exemplo, o que faz com que o nível do choque não seja tão exato como apresentado na teoria.
Porém, entender os impactos de uma adversidade como essa pode te levar a compreender melhor quais os efeitos produzidos a partir desse cenário, como irão repercutir no seu cotidiano e, claro, como se planejar financeiramente.
Nesses momentos, é importante definir quais estratégias você irá utilizar em relação aos seus investimentos. Saber que seu patrimônio e seu bolso podem ser impactados hoje tem potencial de causar uma euforia e pré-disposição a mudanças abruptas – que depois podem causar impacto negativo no atingimento dos seus objetivos.
Então fique atento! Como sempre comento por aqui, ter claro os seus objetivos e pensar no longo prazo é a melhor saída para não depender de especulações, cenários de curto prazo ou market timing.