Por mais mulheres no mercado financeiro
Por muitos anos, a sociedade caracterizou profissões femininas ou masculinas, como as áreas de contabilidade, engenharia ou tecnologia – que passaram a ter a presença das mulheres de forma marcante nos últimos anos, contrária a esse estereótipo. Há algumas décadas, as mulheres ainda não tinham autonomia para quaisquer que fossem as vontades mais simples: ter conta em banco, trabalhar fora de casa ou até mesmo empreender. Além disso, falar de dinheiro ainda era algo distante – que dirá participar do planejamento financeiro da família, ou, até mesmo investir na bolsa de valores ou atuar nesse mercado.
A discussão que trago é que, apesar de atualmente a mulher estar inserida no mercado de trabalho, há profissões, como no mercado financeiro e de investimentos, em que ainda não há equilíbrio entre ‘eles’ e ‘elas’.
Sabemos que o brasileiro tem se interessado cada vez mais em investir, e, até pouco tempo atrás, investir em ações e fundos era praticamente exclusividade de milionários. É um cenário novo, que o mercado jamais presenciou e que representa a consolidação e promoção de educação financeira para todo o tipo de investidor, força desse movimento também constatada na avalanche recente de IPOs. Mas então por que um mercado tão aquecido ainda é pouco representado pela presença feminina?
Por mais que a bolsa de valores tenha tido recorde recente de investidoras mulheres (foram mais de 1 milhão de CPFs femininos), elas ainda são minoria na atuação no mercado financeiro em si, seja em cargos de liderança ou carreiras como assessoras de investimentos e planejadoras financeiras. Por isso, o tema ‘Por mais mulheres no mercado financeiro’ ainda vale muito a pena ser discutido, fomentado e incentivado.
Há mais de 20 anos, tenho atuado nesse mercado – conciliando a vida de mãe-solo – e posso dizer que, mesmo com os percalços enfrentados, valeu muito a pena. Entre funções em seguros, corretora, assessora de investimentos e tudo o que envolve a vida e saúde financeira do cliente, posso dizer que por muitas vezes o maior bloqueio das mulheres está relacionado a situações constrangedoras ou falta de equidade principalmente dos colegas de trabalho e/ou ambiente profissional – e não necessariamente na relação com o cliente, que também é um cenário que vive constantes mudança e progresso.
Mercado financeiro é para nós: carreira promissora e de bastante autonomia, liderança
Observo que muitas vezes as mulheres têm receio sobre como será a rotina no mercado financeiro, que precisará ser conciliada com a maternidade, por exemplo. Mas é necessário despertar para as oportunidades e enxergar que esse mercado também é para nós e que pode ser uma carreira promissora e de bastante autonomia, liderança, e que é possível até empreender.
Um levantamento da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), realizado em 2020, revelou que as mulheres representavam apenas 6% dos profissionais com Certificação de Gestores de Carteiras Anbima (CGA), voltada para quem deseja atuar na gestão de fundos e carteiras de investimentos. Será que falta mais autoconfiança nas mulheres sobre profissões na área? Quais habilidades e softs skills elevam ainda mais a chance de sucesso nesse mercado? As mulheres são detalhistas, trabalham muito bem a paciência e se mostram bem organizadas para executar os planejamentos, o que tem tudo a ver com a dinâmica do trabalho no mercado financeiro.
A consultoria Russell Reynolds Associates divulgou um estudo em que revela que 80% das companhias exigem técnica e visão estratégica e 75% prezam pela parceria com o negócio. Além disso, as empresas também destacaram quesitos como a capacidade de lidar com investidores e de desenvolver equipes mais unidas.
Ainda de acordo com a consultoria, e para mostrar um cenário positivo e esperançoso para as mulheres, dados recentes sobre as contratações de CFOs mostram que as companhias estão optando cada vez mais por mulheres na hora de definir quem fica com a vaga. No primeiro semestre de 2021, 50% dos clientes da consultoria no Brasil, contrataram mulheres para o cargo, número que subiu cerca de 30% em relação aos últimos quatro anos. Ainda de acordo com a pesquisa, além da demanda por diversidade, a valorização das soft skills é um dos motivos por trás do salto nas estatísticas.
Essas habilidades também são evidenciadas e ligadas às lideranças femininas no estudo “O Perfil do CFO no Brasil”, realizado pela Assetz. O conteúdo revelou que apenas as mulheres indicaram habilidade de comunicação efetiva como um dos seus principais atributos, além do fato de 62% delas se considerarem mais claras quanto às expectativas e a solução de problemas.
Os desafios que nós, mulheres, enfrentamos na sociedade como um todo ainda têm um caminho pela frente, com raízes históricas que permeiam a sociedade e a estrutura do mercado de trabalho, mas que se mostram cada vez menores diante da presença mais forte da mulher nas mais diversas áreas, fazendo a diferença por onde passam. E posso dizer que oportunidades não faltam. Só no meu escritório são 50 vagas abertas, uma ótima chance de ingressar na área!
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