Claritas aposta em exportadoras e vê Brasil precificado
A crise causada pelo coronavírus (covid-19) e a recuperação parcial do mercado acionário brasileiro alterou, de forma acelerada, a composição das carteiras da Claritas. Mesmo com a mudança e com o atual cenário, a gestora aposta, principalmente, nas exportadoras listadas na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo.
“O câmbio a R$ 5 ainda é bom para as exportadoras. Então continuamos gostando de algumas exportadoras, como Vale e São Martinho”, disse Hélder Soares, diretor de investimentos da Claritas.
De acordo com Soares, apesar de a atividade econômica sentir os efeitos causados pelo coronavírus (covid-19), o mercado de capitais brasileiros já precifica o declínio.
“Nos horizontes mais curtos, estamos posicionados de forma mais otimista. É um cenário delicado, o desemprego vai aumentar, mas o mercado precificou o Brasil”, afirmou.
Com R$ 9,5 bilhões sob gestão, a Claritas baseia as decisões de investimentos em três pilares bem conhecidos do mercado: fundamento, preço e análise técnica.
Para o diretor da Claritas, a diminuição dos ruídos em Brasília, com menor tensão entre os Poderes, fez com que o mercado respirasse aliviado na última semana.
“Você tinha uma crise política também. E você teve uma extensão dessa crise. A aproximação do ‘centrão’ dá um pouco de possibilidade de votação no Congresso”, afirmou.
Confira a entrevista do SUNO Notícias com Hélder Soares, diretor de investimentos da Claritas:
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-Me fale um pouco da história da Claritas, quanto vocês tem sob gestão e um pouco da filosofia de investimentos da casa.
A Claritas é uma das gestoras independentes mais antigas no mercado, com 21 anos de história. Quando começamos, havia poucas casas no mercado. Hoje estamos mais ou menos com R$ 9,5 bilhões sob gestão em várias estratégias.
O ponto forte da casa é um processo de investimento integrado. O fato de termos várias estratégias, com bastante gente sênior, faz com que eu tente tirar uma sinergia de todas elas. A macro, por exemplo, que foi bem, vai nortear a área de renda variável, por exemplo.
Temos um fundo quantitativo, que opera long e short, e o processo de investimento vai servir como um filtro para o que os analistas fundamentalistas foquem no investimento mais profundo, por exemplo. Não vão montar uma posição com base só no qualitativo, mas colocar mais um filtro. Assim como o fundo de crédito, por exemplo.
Em geral tentamos olhar para três vertentes. Fundamento, valuation e análise técnica também. Então esse é o processo de investimento.
-Como você vê a crise atual?
Na renda variável, desde que a crise começou, tivemos três ou quatro portfólios diferentes, então temos que ser humildes e admitir que existe um grau de incerteza muito grande. A primeira coisa que a gente fez é admitir que os horizontes são muito mais curtos. A foto do momento é que o Brasil teve uma precificação de uma crise muito severa.
O mercado brasileiro teve uma das piores performances comparado com o mercado global, assim como o Real, e os maiores competidores do mercado de commodities não sofreram uma desvalorização dessa magnitude.
E, na margem, você teve uma extensão porque, basicamente com o covid-19 e uma situação fiscal um pouco pior, você tinha uma crise política também. Você tinha uma crise política também. E você teve uma extensão dessa crise. A aproximação do ‘centrão’ dá um pouco de possibilidade de votação no Congresso.
A votação do auxílio do governo federal com os Estados veio com uma contrapartida de congelamento dos salários e, no vazamento do vídeo ministerial, Bolsonaro prestigiou bastante Paulo Guedes. Então esse risco que o mercado chegou a precificar, parece descartado no momento.
Nos horizontes mais curtos, estamos posicionados de forma mais otimista. Então é um cenário delicado, o desemprego vai aumentar, mas o mercado precificou o Brasil.
-Teremos um PIB caindo de 5% a 10% no ano e ruídos em Brasília. A atual recuperação da Bolsa veio pra ficar? É baseada em que?
Sem dúvida os ruídos de Brasília diminuíram e isso ajuda, mas eu também diria que a posição técnica está favorável. Então nessa crise, estrangeiro vendeu agressivamente o mercado brasileiro, os fundos multimercados que antes estavam muito alocados em Bolsa reduziram, os fundos de ações tiveram captação, mas o investidor brasileiro manteve [a posição comprada].
-Há algum setor que te chama mais atenção? Ou algum ativo específico? Como estão as posições?
Chegamos a ter uns quatro ou cinco portfólios. Diria que estamos com uma carteira mais balanceada, com temas diferentes. O câmbio a R$ 5 ainda é bom para as exportadoras. Então continuamos gostando de alguma exportadoras, como Vale e São Martinho, além do próprio setor de carne.
Também há um bloco de beneficiárias da crise, como o varejo online, sem dúvida, em que preferimos a B2W. Pelo que eles indicam, a receita acelerou de um crescimento de 30% para 100% em maio.
Então, além desses, o próprio setor de saúde também acaba sendo um pouco beneficiário mesmo que os gastos com Covid sendo menores do que os eletivos. Tudo isso será postergado. No fim, as operadoras de saúde acabam sendo “beneficiados”, como SulAmérica, Hapvida. Plano de saúde é o segundo item mais desejado pelo brasileiro e eu colocaria eles nesse bloco.
O terceiro bloco é formado por empresas sensíveis a taxa de juros, que deverá vir abaixo de 2% ao ano, como setor elétrico, CPFL, por exemplo, e o setor de saneamento, que será a primeira coisa que o Congresso irá votar após a pandemia.
Diria que são esses. Há um quarto bloco, que são empresas afetadas [pelo coronavírus], mas que a precificação exagerou. Locadoras de automóveis, por exemplo, quando a economia reabrir, vão ter uma retomada e provavelmente as listadas são as maiores e vão ganhar market share em cima das pequenas, como Movida e Localiza.
-Vocês têm fundos multimercados bastante acessados. Acha que, antes da crise os brasileiros tomaram risco demais?
O investidor deu um pulo. Saiu da renda fixa e foi direto para a Bolsa. Ele assumiu um risco e, pelos preços, até que não está tendo um prejuízo tão grande. Obviamente eu acho mais saudável o processo mais gradual sem dúvida, ir migrando para fundos de mais risco e depois à Bolsa.
-Com uma Selic tão baixa, alguns fundos ainda tem um benchmark de 20% o CDI e taxas de administração de 2% ao ano. Como isso deverá ficar no futuro?
Depende do fundo e da vol. Os nossos fundos de vol mais baixa já tem taxas mais baixas, por exemplo temos fundos de 1%, outros reduzimos para 1,5%, então acho que, dependendo do nível de volatilidade, vai ter um pouco de pressão sim [para diminuir]. Para uma vol acima de 6, aí já está melhor.
Entrevista com Claritas