A empresa de maquininhas Cielo (CIEL3) divulgou um lucro líquido de R$ 503,1 milhões no primeiro trimestre deste ano (1T24), representando um aumento de 4,6% em relação ao trimestre anterior (4T23) e de 14,1% em comparação com o mesmo período do ano passado (1T23). A empresa diz que esse é o melhor desempenho do negócio desde o primeiro trimestre de 2019.
A melhora significativa do resultado financeiro, as otimizações nos gastos com redução dos custos dos serviços prestados e a maior eficiência tributária impulsionaram o lucro, conforme afirmado pela própria Cielo no balanço do 1T24 divulgado ao mercado. No entanto, esse resultado foi parcialmente compensado pela redução na volumetria e pelos maiores gastos com o programa de transformação, explicou a empresa.
A receita operacional líquida totalizou R$ 2,563 bilhões, registrando uma queda de 7,5% em relação ao trimestre anterior e de 0,3% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Enquanto na Cielo Brasil houve uma diminuição anual de 3,4%, na Cateno houve um aumento de 4,8%.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) recorrente da Cielo totalizou R$ 746,7 milhões, o que representa uma redução de 24,9% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Esse declínio está principalmente associado aos gastos relacionados ao avanço do programa de transformação da empresa e à expansão da força comercial. Por outro lado, a margem Ebitda ajustada da Cielo atingiu 29,1% no primeiro trimestre de 2024, mostrando uma queda anual de 9,6 pontos percentuais.
Um aspecto positivo no balanço foi o resultado financeiro da Cielo, que atingiu R$ 37,5 milhões no primeiro trimestre de 2024, revertendo as perdas financeiras de R$ 70,6 milhões registradas no mesmo período do ano anterior.
O volume de pagamentos processados (TPV) pela Cielo Brasil no primeiro trimestre atingiu R$ 200,029 bilhões, indicando uma queda de 9,8% em relação ao trimestre anterior e de 0,5% na comparação com o mesmo período do ano passado. No cartão de crédito, o volume caiu 5,8% no trimestre, mas aumentou 4,2% em um ano, enquanto no débito houve quedas de 16,1% e 7,8%, respectivamente.
Saldo de caixa da Cielo tem queda de R$ 1,090 bilhão
Em relação à posição financeira, em 31 de março de 2024 a Cielo apresentou um saldo de caixa e equivalentes de caixa de R$ 1,260 bilhão. Isso representa uma queda de R$ 1,090 bilhão em comparação com 31 de março de 2023 e uma redução de R$ 173,9 milhões em relação a 31 de dezembro de 2023.
A empresa diz que encerrou o trimestre da Cielo com 822 mil clientes ativos (com transações nos últimos 90 dias), o que representa uma redução de 5,5% em relação ao trimestre anterior e de 19% na comparação com os primeiros três meses do ano anterior. A Cielo afirma que essa redução é principalmente atribuída ao comportamento de segmentos de clientes de menor porte.
A take rate (taxa cobrada em cada transação) foi de 0,76%, em comparação com 0,74% no quarto trimestre de 2023 e 0,78% no primeiro trimestre do ano passado.
Quanto aos produtos de prazo, soluções que permitem aos clientes antecipar seus fluxos de recebíveis, a Cielo registrou um volume de R$ 24,61 bilhões, representando uma queda trimestral de 26,9% e anual de 23,5%.
Cielo decide sair da Bolsa de Valores de São Paulo
A Cielo, que tem mais de 1,1 bilhão de ações em circulação no mercado, planeja desde fevereiro sair da Bolsa de Valores de São Paulo, o Ibovespa.
A intensificação da concorrência no setor é o principal motivo. Antes de 2010, apenas grandes bancos podiam operar sistemas de pagamento por máquinas. No entanto, a abertura do mercado em 2010 levou a uma concorrência que diminuiu significativamente a participação de mercado da Cielo, que chegou a ter mais de 40% do mercado de maquininhas.
Concorrentes como Stone (STOC31) e PagSeguro (PAGS34) conseguiram reduzir pela metade a participação da Cielo. Essas empresas menores e mais ágeis, com capitalização e listagem nos EUA, conseguiram ganhar mercado devido à sua agilidade no desenvolvimento de tecnologia e lançamento de novos produtos.
A saída da Bolsa permitirá que a Cielo fortaleça suas operações, fundindo-as com as dos bancos controladores e, assim, tornar-se mais competitiva na reestruturação, com a possibilidade de fidelizar clientes.
À época, a notícia pegou muitos investidores de surpresa, mas o Goldman Sachs observou que, embora inesperada, a oferta pública foi considerada por alguns investidores como uma possibilidade, à luz de outras empresas que também deixaram o mercado recentemente, como a Getnet, do Santander, e a Rede, do Itaú (ITUB4).
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Bancos, gestoras e investidores entram em conflito e OPA deve seguir
Para concretizar a saída do Ibovespa, os controladores, o Bradesco (BBDC4) e o Banco do Brasil (BBAS3), realizaram uma Oferta Pública de Aquisição (OPA), adquirindo todas as ações disponíveis por R$ 5,60. O objetivo da OPA era a conversão do registro de companhia aberta da Cielo de categoria A (que emite ações) para categoria B e a saída do Novo Mercado da B3.
A Assembleia Especial de Acionistas (AEA) da Cielo, que havia sido interrompida em 2 de abril, foi retomada na terça-feira (23) com um desfecho que permite à empresa sair da Bolsa de Valores. Desde então, houve uma intensa discussão entre bancos, gestoras e investidores sobre qual seria o preço justo dos papéis na operação.
A assembleia de terça foi a terceira etapa da disputa entre os principais acionistas e minoritários sobre o futuro da Cielo na Bolsa. Em fevereiro, um grupo de gestoras contestou o preço de R$ 5,35 por ação da Cielo oferecido por Bradesco e BB a princípio para fechar o capital da empresa.
No início de abril, parte desse grupo surpreendeu o mercado ao mudar de posição horas antes da AEA marcada para votar a realização de um novo laudo de avaliação da Cielo. Agora, o retorno da AEA 21 dias depois sinalizou a rejeição da proposta de um novo laudo, abrindo caminho para a Cielo deixar a Bolsa a R$ 5,60 por ação.
O resultado representa uma vitória para algumas gestoras minoritárias, que, em conjunto, detêm cerca de 7% do capital social da Cielo. Essas gestoras publicaram uma carta se comprometendo a apoiar a conclusão da OPA se o preço por ação fosse de R$ 5,60, mais uma correção pelo CDI.
Porém, a rejeição de um novo laudo de avaliação desagradou outros acionistas minoritários, que viam na alternativa uma forma de tornar o processo da OPA mais transparente e justo.
A AEA de terça-feira registrou 380 milhões de votos contrários à realização de um novo laudo de avaliação, contra 280 milhões de votos favoráveis e 18 milhões de abstenções. Isso não significa que a OPA da Cielo esteja aprovada, mas, sem um novo laudo, a discussão sobre o preço a ser pago por ação na operação parece encerrada.
Investidores presentes na AEA relataram à imprensa que a reunião foi tumultuada, especialmente após uma mudança de posicionamento importante e representativa por parte de algumas gestoras minoritárias.
Após a aquisição das ações no mercado, a participação do Banco do Brasil na Cielo pode alcançar 49,9%, enquanto o Bradesco deve deter 50,1%. Atualmente, os bancos detêm 58,7% da empresa, que tem um valor de mercado de R$ 13,67 bilhões.