Chuvas no RS impactam operações de varejistas e podem provocar alta da inflação
O desastre natural causado pelas fortes inundações e chuvas no estado do Rio Grande do Sul afeta vendas, funcionamento e operações de lojas e a distribuição logística para os principais varejistas do estado, como Lojas Renner (LREN3), Arezzo&Co (ARZZ3) e Carrefour (CRFB3). Analistas estimaram o impacto das chuvas no RS entre essas empresas.
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As tragédias das chuvas no Rio Grande do Sul provocaram 95 mortes até agora, sendo que quatro casos estão em avaliação, segundo reportagem da Agência Brasil. O governador Eduardo Leite confirmou que 131 pessoas estão desaparecidas. Pelo menos, 401 cidades foram afetadas, o que representa 80,6% do total de 497 cidades gaúchas.
Em entrevista à imprensa nesta terça-feira (7), o governador classificou a situação de “catástrofe”. Além disso, 48.799 pessoas deixaram suas casas e estão em abrigos contras as chuvas no RS.
O governo contabiliza um total de 159.036 cidadãos na condição de desalojados. O desastre deixou, até o momento, 1,4 milhão de pessoas afetadas pelo desastre. O Rio Grande do Sul tem 10,8 milhões de habitantes, segundo o censo de 2022 do IBGE.
“O tamanho da crise no Rio Grande do Sul é o que especialmente torna essa situação difícil de tratarmos. Praticamente todo o estado está atingido de alguma forma”, lamentou o governador.
Recentemente, a Lojas Renner emitiu um comunicado à imprensa anunciando que cerca de 4% de suas lojas estavam temporariamente fechadas. Como contexto, 13% da área de vendas da varejista estão baseadas no estado.
“Embora a duração desses fechamentos ainda seja incerta, observamos que cada semana de fechamento pode impactar as receitas do 2T24 das varejistas em cerca de -0,3%”, diz o Sachs.
Para os analistas do banco, como essas lojas são mais produtivas (dada a forte presença da marca Renner no Sul e o poder de compra no estado) e também porque o fechamento está ocorrendo em um período crítico para o principal evento comercial do trimestre (Dia das Mães em 12 de maio), é possível que o impacto das chuvas no RS seja potencialmente maior.
A Arezzo&Co tem cerca de 5% das vendas totais provenientes do estado, de acordo com a empresa, mas a extensão das vendas impactadas por possíveis fechamentos é desconhecida neste momento.
Já o Grupo Soma (SOMA3) teve cerca de 3% das receitas brutas de 2023 provenientes do estado do RS. O Grupo SBF (SBFG3), dono da Centauro, possui cerca de 6% de sua base de lojas no estado (4% está atualmente fechada).
Chuvas no RS devem provocar aumento da inflação alimentar
O Rio Grande do Sul tem um papel importante no apoio à indústria agropecuária do Brasil. O alagamento de áreas plantadas, bem como as interrupções no transporte de grãos, outras commodities e perecíveis, podem impactar os rendimentos e o equilíbrio entre oferta e demanda, gerando pressões inflacionárias.
Dessa forma, o mercado já começou a revisar para cima as previsões de inflação alimentar em domicílio com base na interrupção. De acordo com notícias recentes, a empresa brasileira de pesquisa econômica LCA Consultants elevou sua expectativa de inflação alimentar em domicílio para 2024 de 3,9% para 4,5%.
“Os dados compilados pelo Banco Central do Brasil apontam para uma expectativa de mercado mediana de 4,6% (até 3 de maio) contra 4,3% na semana anterior, um número que acreditamos poder ser revisado para cima na próxima semana”, diz o Sachs.
Para evitar uma possível escalada no preço arroz, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) vai comprar o produto já industrializado e empacotado no mercado internacional. A informação foi dada nesta terça-feira (7) pelo ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro. Trata-se de um dos efeitos das enchentes no Rio Grande do Sul, estado responsável por 70% da produção nacional de arroz.
De acordo com o ministro, perdas na lavoura, em armazéns alagados e, principalmente, a dificuldade logística para escoar o produto, com rodovias interditadas, poderia criar uma situação de desabastecimento, elevando os preços no comércio.
“O problema é que teremos perdas do que ainda está na lavoura, e algumas coisas que já estão nos armazéns, nos silos, que estão alagados. Além disso, a grande dificuldade é a infraestrutura logística de tirar do Rio Grande do Sul, neste momento, e levar para os centros consumidores”, explicou. Os recursos para a compra pública de estoques de arroz empacotado serão viabilizados por meio da abertura de crédito extraordinário.
“Uma das medidas já está sendo preparada, uma medida provisória autorizando a Conab a fazer compras, na ordem de 1 milhão de toneladas, mas não é concorrer. A Conab não vai importar arroz e vender aos atacadistas, que são compradores dos produtos do agricultor. O primeiro momento é evitar desabastecimento, evitar especulação”, acrescentou o ministro. A MP depende da aprovação, pelo Congresso Nacional, de um decreto legislativo que reconhece a calamidade pública no Rio Grande do Sul e, com isso, suspende os limites fiscais impostos pela legislação para a ampliação do orçamento. O decreto, já foi aprovado na Câmara dos Deputados, deve ser votado ainda nesta terça pelo Senado.
Assaí e Pão de Açúcar e a inflação alimentar
Segundo o Sachs, os operadores de cash & carry estão geralmente bem posicionados para uma potencial reaceleração na inflação alimentar, mesmo que temporária, devido ao seu repasse de preços relativamente imediato e ao valor que oferecem aos consumidores
“Considerando que a Assaí (ASAI3) não tem operações no estado, acreditamos que a empresa poderia ser a principal beneficiária de um aumento na inflação alimentar em domicílio. O Pão de Açúcar (PCAR3) também não tem operações no estado e poderia se beneficiar dessa reaceleração, embora em menor medida quando comparado à ASAI, em nossa opinião”, afirma o Sachs.
Para o Carrefour, o banco estima que cerca de 9% da área de lojas esteja no RS, o que acredita compensar qualquer benefício de uma aceleração nos preços dos alimentos.
Carrefour tem 7 lojas fechadas pelas enchentes no RS
O Carrefour afirmou ter 7 lojas fechadas em virtude da inundação no Rio Grande do Sul.
A rede, que destinou cestas básicas para doação na região em caráter de emergência, tem cerca de 7% das vendas vindas do Estado. No entanto, as lojas fechadas dizem respeito a menos de 1% das vendas do grupo.
O CEO, Stephane Maquaire, afirmou que a companhia busca dar assistência aos seus funcionários, bem como prestar ajuda aos moradores do entorno.
Braskem, Weg e Gerdau paralisam atividades no RS
As fortes chuvas que assolam o Rio Grande do Sul têm impactado as atividades de algumas empresas listadas na bolsa brasileira, incluindo Marcopolo (POMO4), Braskem (BRKM5), Gerdau (GGBR4) e Weg (WEGE3) – sendo que todas estas tiveram que suspender operações em algumas de suas unidades.
A Braskem, maior petroquímica do Brasil, iniciou uma parada programada em algumas unidades do Polo Petroquímico de Triunfo (RS) devido aos alagamentos e bloqueios de estradas, afetando o fornecimento de insumos.
A Marcopolo, fabricante de ônibus, decidiu suspender as operações de suas duas unidades em Caxias do Sul como medida preventiva até domingo, devido à intensidade das chuvas.
A empresa afirmou que a extensão da paralisação dependerá das condições climáticas do fim de semana.
Da mesma forma a Gerdau também teve que suspender operações nas unidades de Charqueadas e Riograndense até domingo, embora não tenham sido diretamente afetadas pelas chuvas.
A decisão foi tomada considerando a situação dos funcionários e a dificuldade de acesso às instalações.
“Neste momento delicado, temos mobilizado esforços para priorizar a proteção e segurança das pessoas. Por isso, paralisamos nossas operações no Estado até que possamos retomar com segurança. Também estamos oferecendo apoio a todos os colaboradores que necessitem”, disse a companhia, em uma postagem no X, antigo Twitter.
A fabricante de equipamentos Weg enfrenta desafios semelhantes em suas unidades em Gravataí e Bento Gonçalves.
Embora não tenham sido diretamente impactadas pelas chuvas no RS, a empresa prioriza a segurança de seus funcionários.
Com Agência Brasil