Na noite da última segunda-feira (22), uma publicação da Bloomberg News informou que a China está considerando entregar um pacote de medidas para estabilizar o mercado acionário do país. Segundo fontes que falaram à reportagem, o movimento se dá após esforços frustrados para retomar a confiança do investidor, forçando o premiê Li Qiang a buscar alternativas mais incisivas.
O objetivo é que sejam mobilizados cerca de 2 trilhões de yuans (ou US$ 278 bilhões de dólares) provenientes das contas offshores de empresas estatais chinesas para a criação de um fundo de estabilização, que seria usado para comprar ações na bolsa de Hong Kong. Além disso, outros 300 bilhões de yuans (US$ 42,30 milhões) de fundos locais seriam investidos por meio da estatal de serviços financeiros China Securities Finance Corp. ou do fundo soberano Central Huijin Investment Ltd.
As autoridades chinesas entendem que acalmar os investidores é fundamental para manter a estabilidade social, uma vez que nesta semana, o índice de referência CSI 300 tocou o nível mínimo em cinco anos. Desde o pico atingido em 2021, as ações chinesas e de Hong Kong já perderam, juntas, cerca de US$ 6 trilhões em valor de mercado, o que reforça o desafio de Pequim para retomar a confiança do mercado.
O possível novo pacote de estímulos também se dá após a China ter mantido inalteradas as taxas de empréstimo de referência, na última segunda-feira. Na semana passada, a taxa de empréstimo de médio prazo também foi mantida estável, refletindo um espaço limitado para a flexibilização monetária por lá. Nessa linha, de acordo com a Reuters, na última segunda-feira, os principais bancos estatais chineses tomaram medidas para reforçar o yuan e evitar uma queda brusca na moeda.
China já impôs medidas para estancar volatilidade
Nos últimos meses, a China restringiu as vendas a descoberto e os fundos estatais compraram ações de grandes bancos, tendo como objetivo impulsionar o mercado acionário e diminuir a volatilidade. Já nesta segunda-feira, ainda segundo a Bloomberg, os reguladores do mercado chinês orientaram pelo menos duas seguradoras estatais a não venderem mais ações do que compram. Na semana passada, foi a vez da maior corretora do país, Citic Securities CO, interromper a venda a descoberto de serviços para alguns clientes.
Parte dos investidores levanta dúvida sobre a estratégia do fundo de estabilização proposta no atual pacote, uma vez que os últimos esforços de Pequim para fortalecer o mercado nem sempre deram certo. Enquanto isso, de acordo com a Bloomberg, a China também avalia outras opções e pode anunciar algumas delas ainda durante esta semana, caso sejam aprovadas pela alta cúpula do país.
- Ibovespa fecha em alta, aos 128 mil pontos, com recuperação da Vale (VALE3); Petrobras (PETR4) também sobe e dólar fecha em queda
- Mantega na Vale (VALE3): acionistas querem ex-ministro longe da presidência, diz coluna
- Bolsas asiáticas fecham em alta com possível estímulo na China; Europa cai com juros em foco
Minério de ferro sobe com expectativa por estabilização do mercado
Em linha com o plano de estímulo ao mercado chinês, o minério de ferro fechou no positivo nesta madrugada, atingindo o nível mais alto em uma semana. O movimento se dá uma vez que a China é o maior consumidor da commodity. Por isso, a estabilização do mercado por lá tende a impulsionar a cotação do minério.
O contrato futuro de maio do minério de ferro mais negociado na Bolsa de Dalian, na China, encerrou as negociações com alta de 1,42%, a US$ 134,70 a tonelada, maior nível desde 12 de janeiro. Na Bolsa de Cingapura, o minério de referência para fevereiro também tocou o maior patamar desde 12 de fevereiro, com +2,01% a US$ 131,55 a tonelada.
Diego Faust, operador de renda variável da Manchester Investimentos, no entanto, chama a atenção para outros eventos que podem estar impactando na valorização do minério, como o feriado lunar, ou ano novo chinês, que acontece no próximo dia 10 de fevereiro.
“O pacote de estímulos traz um otimismo para o mercado em si, mas existem outros movimentos acontecendo em relação ao minério. Em janeiro, a commodity já caiu cerca de 7%, então há uma leve correção de alta após essa queda toda. Teremos também o feriado lunar na China, que traz um movimento típico dos produtores estocarem mais minério, o que também influencia nessa alta”, explica.
Rafael Schmidt, sócio da One Investimentos, complementa afirmando que, na sua visão, essa alta observada no mercado e no minério tende a ser passageira.
“Esse pacote de estímulos não é algo novo, já aconteceu outras vezes. Há um sucesso limitado, e no longo prazo acaba não sendo suficiente para estabilizar o mercado, que no fim das contas depende muito de fluxo. É verdade que hoje há uma resposta muito positiva do mercado. Mas parece uma forma apenas de ‘tapar o buraco’. O problema na China é muito mais estrutural, e por isso muitos investidores ocidentais demonstraram desconfiança em relação ao mercado chinês durante o último Fórum Econômico Mundial. Portanto, o efeito deve ser de curto prazo, afinal não é uma medida que resolve a situação como um todo”, completa.