A gestora Zhongrong International Trust, que atrasou pelo menos US$ 82 milhões (R$ 418 milhões) em pagamentos a investidores em agosto, disse estar trabalhando com duas instituições estatais para resolver seus problemas financeiros. A companhia da China reconheceu na sexta-feira que atrasou pagamentos de alguns produtos e disse que contrataria duas grandes empresas estatais para ajudar nas operações e gestão.
Ela negou, porém, que a operação seja equivalente a um resgate financiado pelo governo chinês, já que nenhuma das duas empresas será responsável por cobrir os pagamentos em atraso. “Devido a múltiplos fatores internos e externos, alguns dos produtos fiduciários da empresa não puderam ser pagos dentro do prazo”, afirmou.
A Zhongrong Trust disse que contratou a CITIC Trust, de propriedade do conglomerado estatal CITIC Group, e a CCB Trust, de propriedade do China Construction Bank, para trabalhar com ela por um ano.
No mês passado, o atraso em pagamentos relacionados a produtos vendidos pela Zhongrong – uma gigante do chamado “shadow banking” na China, como são conhecidas as instituições que oferecem financiamento fora do sistema bancário – suscitou preocupações de que o agravamento da crise imobiliária no país estivesse evoluindo para um contágio mais amplo do setor financeiro.
Empresas como a Zhongrong há muito tempo são uma fonte de financiamento para as construtoras e incorporadoras da China, em particular depois que as condições para o financiamento bancário de empresas do setor imobiliário ficaram mais restritivas. As empresas de truste preencheram parte desta lacuna, oferecendo empréstimos para as construtoras a um custo mais alto.
Em 2022, os fundos de truste da Zhongrong tinham 11% de seus ativos alocados no setor de imóveis, segundo o relatório anual da empresa.
Evergrande corta prejuízo pela metade
A construtora chinesa Evergrande – nome principal do mercado imobiliário do país asiático – anotou uma redução valiosa em seu prejuízo neste primeiro semestre de 2023. O prejuízo líquido até o mês de junho foi de 33,01 bilhões de yuans (na cotação do dólar atual, US$ 4,53 bilhões), ante os 66,35 bilhões de yuans (US$ 9,1 bilhões) no mesmo período do ano passado.
Os dados divulgados pela empresa da China na noite deste domingo (27) apontaram que a ausência de perdas por deterioração de investimentos foi a principal causa para ajudar a minar o prejuízo bilionário.
China: ações da Evergrande derretem em Hong Kong
Considerada a incorporadora imobiliária mais endividada do mundo, a Evergrande deveria ter as principais votações de seu plano de recuperação de dívidas offshore nesta segunda-feira (28). Entretanto, apenas algumas horas antes da reunião iniciar, a companhia anunciou o seu adiamento, provocando um clima de incerteza em seu processo de reestruturação, um dos maiores já ocorridos na China.
Enquanto a China vive uma crise imobiliária com recordes de inadimplência, o adiamento da reunião para 25 e 26 de setembro veio com a justificativa de que os credores possa avaliar os últimos acontecimentos, como o retorno das ações da Evergrande para a Bolsa de Hong Kong, após 17 meses com as negociações paradas.
De volta à Bolsa asiática, as ações da Evergrande registraram uma queda de até 87%. Os papéis não eram negociados desde 21 de março de 2022 e agora passam a ser precificados em um valor baixo.
A receita da Evergrande aumentou para 128,18 bilhões de yuans, ou CNY, (US$ 17,6 bilhões), em comparação com CNY 89,28 bilhões (US$ 12,2 bilhões) no mesmo período do ano passado, principalmente devido à maior contribuição do negócio de desenvolvimento imobiliário.
As perdas por depreciação de ativos financeiros foram de apenas CNY 643 milhões (US$ 88,2 milhões), em comparação com a perda de CNY 8,19 bilhões (US$ 1,1 bilhão) no primeiro semestre de 2022. As perdas por depreciação de investimentos contabilizados no primeiro semestre de 2023 foram nulas em comparação com CNY 18,03 bilhões (US$ 2,5 bilhões) um ano antes, utilizando o método de equivalência patrimonial.
A repressão da China à alavancagem no setor imobiliário em 2021 prejudicou muitas incorporadoras, que sofreram quedas severas nas vendas de residência e acesso reduzido ao mercado de dívida. A Evergrande passou a dar calote à medida que os seus problemas de fluxo de caixa aumentaram, deixando-a incapaz de pagar construtores e fornecedores.
Fonte: Dow Jones Newswires, com Estadão Conteúdo
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