Por que a China declarou guerra ao Bitcoin
O governo da China declarou guerra ao Bitcoin. E passou das palavras aos fatos consumidos muito rapidamente.
Há um mês o Conselho de Estado da China, vulgo o governo de Pequim, ameaçou uma guinada contra a mineração e as transações de criptomoedas, principalmente o Bitcoin, que continua sendo a mais popular.
No último fim de semana, as autoridades chinesas começaram a fechar “fazendas de mineração” (mining farms) em Sichuan, uma das regiões onde se concentra a atividade de certificação de transações em Bitcoin.
A China é responsável por cerca de 65% da “produção” global de Bitcoin, e Sichuan é o epicentro dessa atividade de mineração da criptomoeda.
Dessa forma, Pequim continua sua estratégia de controle do sistema financeiro, especialmente em termos de limitação de riscos sistêmicos. Mesmo com métodos brutais.
Atuou nas mesmas modalidades com Jack Ma e seu Ant Group na véspera da Oferta Pública Inicial (IPO, na sigla em inglês). Continuou com a Tencent. E, no final, abriu as hostilidades contra as criptomoedas, vistas como uma ameaça além de qualquer controle.
Um perigo também para o yuan digital, a criptomoeda de estado que Pequim quer lançar em breve.
Bitcoin em forte queda após ação da China
Desnecessário dizer que o aperto contra o Bitcoin causou uma nova sacudida nos preços. A criptomoeda caiu ontem mais de 10% atingindo um mínimo de US$ 32 mil (cerca de R$ 160 mil).
As restrições impostas pela China ao Bitcoin contribuíram a reduzir pela metade a cotação internacional da criptomoeda em comparação ao pico de quase US$ 65 mil registrados em abril.
Uma volatilidade extrema alimentada também pelas declarações bipolares de Elon Musk, além de iniciativas iniciadas por autoridades globais.
Se El Salvador surpreendeu com a decisão de adotar o Bitcoin como moeda legal no país, uma escolha tremendamente arriscada e nada fácil de ser colocada em prática, uma semana depois a China acabou com as esperanças de volta das altas nas cotações da criptomoeda.
Para quem gosta de análise técnica, a situação parece piorar cada dia mais.
Nos últimos 50 dias, a cotação do Bitcoin caiu abaixo da média móvel dos últimos 200 dias. Uma encruzilhada que abre cenários para novas quedas.
Por outro lado, a estratégia de Pequim parece ser uma manobra que vai além da simples interrupção das atividades de mineração, e visa proteger a segurança e a estabilidade do sistema financeiro nacional. Que tem seus problemas sérios, como os “bancos sombras” e um câmbio subavaliado.
Banco Central de Pequim entrou para a briga
O Banco Central da China (PBOC, na sigla em inglês) já intimou vários bancos e plataformas de pagamento não bancárias para que parem de utilizar a criptomoeda como instrumento de transação.
De acordo com a instituição monetária central chinesa, a especulação em moedas virtuais:
- perturba a ordem econômica e financeira;
- aumenta os riscos de atividades ilegais e criminosas (como transferência transfronteiriça ilícita de ativos e lavagem de dinheiro);
- viola gravemente a segurança da propriedade das pessoas;
O Banco Central da China deixou claro que plataformas de pagamento não bancárias devem seguir estritamente os requisitos regulamentares, cumprindo as obrigações de identificação de clientes e não devem fornecer produtos ou serviços, como abertura de contas, registro, negociação, compensação e liquidação de ativos relacionados à moeda virtual.
O PBOC também obrigou as instituições financeiras a investigarem e identificarem as contas de quem se dedica à troca ou negociação “over the counter” (em mercados não regulamentados) de moedas virtuais, bem como interromper prontamente os canais de pagamento para as atividades deste tipo.
As instituições financeiras, por sua vez, tiveram que declarar que não realizarão ou participarão de atividades comerciais relacionadas com moedas virtuais e que tomarão medidas estritas para interromper o mais rápido possível e definitivamente os canais de pagamento para especulação com essas moedas.
Em suma, as nuvens estão se formando no horizonte das criptomoedas. A batalha pelo Bitcoin está apenas começando. A ver se a China será a ganhadora desse confronto.