CEO da Vale ignorou alerta sobre rompimento em Brumadinho, diz jornal
Um documento policial divulgado pelo “Wall Street Journal”, nesta segunda-feira (04), revela que executivos do alto escalão da Vale S.A receberam um e-mail anônimo alertando sobre a segurança das barragens das mineradoras duas semanas antes do desastre de Brumadinho. O executivo-chefe da empresa teria buscado a identidade do escritor e chamado a pessoa de “câncer”.
Ainda de acordo com o jornal, autoridades disseram que estão focando na resposta do então CEO da Vale Fabio Schvartsman ao investigar se a política de retaliação na empresa contribuiu para o rompimento da barragem no dia 25 de janeiro em Brumadinho, que matou 270 pessoas. O desastre foi o que matou mais gente em 50 anos.
No e-mail, que foi enviado no dia 9 de janeiro a executivos da empresa como Fabio Schvartsman, o atual CEO Eduardo Bartomoleo, o CFO Luciano Siani Pires, entre outros, dizia que as barragens de lixo da companhia estavam “no limite”, segundo um sumário de 15 páginas do interrogatório de Schvartsman para a polícia que foram vistos pelo jornal norte-americano.
Para o jornal, um porta-voz da Vale disse que o e-mail era genérico e carecia de provas, negando veementemente uma cultura de retaliação na empresa. Os diretores executivos da Vale nunca tiveram conhecimento sobre um risco crítico ou iminente na barragem antes que ela desabasse, disse ele.
O advogado de Schvartsman disse ao “The Walt Street Journal” que seu cliente sempre acompanhou as queixas como CEO da Vale quando elas incluíam informações concretas, dando a entender que o e-mail carecia de fatos específicos. Os executivos Bartolomeo e Pires não foram encontrados para comentar.
O que o e-mail mandando à Vale alertava
O e-mail anônimo, chamado de “A Verdade”, dizia que: “Estamos enfrentando grandes desafios pela frente, nossas operações não têm o nível mínimo de investimento adequado, falta pessoal nas áreas de operação, manutenção e engenharia e eles são mal remunerados … os equipamentos estão quebrando, as barragens estão no seu limite”.
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De acordo com o depoimento de Schvartsman, que saiu do cargo em março, no domingo seguinte após receber o e-mail, mandou uma mensagem a três colegas pedindo que eles descobrissem quem escreveu o email para “olhar olho no olho” do autor, disse aos investigadores. Ainda de acordo com Schvartsman, ele e seus colegas nunca identificaram o autor do e-mail.
Quando perguntado pelas autoridades sobre sua resposta, Schvartsman afirmou acreditar que o e-mail anônimo é de algum funcionário descontente com suas políticas na Vale que, segundo ele, visavam acabar com uma cultura corporativa que estava dividida em feudos. O advogado do ex-CEO também disse que outros dois diretores da Vale afirmaram que o e-mail continha inconsistências e acreditavam que o autor agiu de má fé.