Apesar das preocupações de investidores em torno da possibilidade de federalização da Cemig (CMIG4), os analistas da XP Investimentos mantêm recomendação de compra para os papéis preferenciais da empresa, com preço-alvo de R$ 16 por ação.
Os especialistas Vladimir Pinto e Maíra Maldonado afirmam que estão atualizando suas estimativas para a Cemig, levando em consideração a última revisão tarifária e os números financeiros mais recentes.
“A Cemig poderá superar as preocupações dos investidores nos próximos meses, especialmente com o segmento de distribuição apresentando o maior potencial de criação de valor entre os ativos da empresa“, afirmam os analistas.
A análise destaca que o agressivo programa de investimento e o crescimento do Ativo Regulatório Base (RAB) no segmento de distribuição devem contribuir significativamente para o sucesso da empresa. Além disso, o relatório prevê que a empresa se beneficie do Capex – dinheiro investido em ativos fixos ou melhorias de longo prazo – destinado à área de transmissão da Cemig.
“Vemos um grande impulsionador de valor no projeto de substituição da extensão da rede de distribuição por uma rede trifásica. Isso, a nosso ver, representará um crescimento substancial no Ebitda Regulatório da empresa nas próximas revisões tarifárias”, pontuam.
O relatório diz ainda que a redução de despesas operacionais (Opex) e a mitigação de riscos relacionados ao fundo de pensão e despesas com planos de saúde podem impulsionar os resultados da Cemig. No âmbito de desinvestimento, a Aliança Energia é apontada como uma possível opção.
Cemig: federalização e risco percebido pelos investidores
A proposta de federalização da Cemig surgiu como uma alternativa para tentar equacionar a dívida de Minas Gerais com a União.
Minas tem o terceiro maior nível de endividamento entre os governos estaduais, atrás apenas do Rio Grande do Sul, que ocupa o primeiro lugar, e do Rio de Janeiro.
A federalização consiste na transferência do controle de uma empresa do Estado para o governo federal.
Em 2023, a Dívida Consolidada Líquida (DCL) do governo estadual de Minas Gerais atingiu R$ 140,9 bilhões, representando 155% da Receita Corrente Líquida (RCL) do Estado, segundo a União.
Apesar desse elevado percentual, houve melhora significativa em relação ao final de 2019, quando a proporção entre a dívida e a receita estava em 191%.
A redução nesse indicador, diz a União, é resultado do aumento nas receitas que os estados experimentaram nos últimos anos. Inicialmente, esse impulso foi proporcionado por recursos extraordinários e, até o ano passado, pela elevação das receitas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), impulsionada pelo aumento das commodities e pelos estímulos fiscais.
Sobre as preocupações com a federalização da empresa, os analistas da XP expressam confiança de que a proposta de troca de dívida entre o governo federal e o estado de Minas Gerais envolvendo a participação controladora da Cemig não deve avançar. “Não acreditamos que a discussão sobre a potencial privatização ocorra enquanto essa questão estiver pendente”, dizem.
A análise destaca ainda o histórico de federalização no Brasil, enfatizando que casos anteriores não fornecem uma boa justificativa para o potencial acordo em Minas Gerais. O texto reforça que o acordo pode levar tempo para se materializar, dada a variedade de interesses e visões entre as partes envolvidas.
Em relação ao desempenho das ações da Cemig, o relatório pontua que, após um revés no final de novembro devido às discussões sobre federalização, as ações se recuperaram fortemente, sugerindo uma redução no risco percebido pelos investidores.
“O mercado parece estar percebendo um menor risco em relação à possibilidade de federalização, impulsionando a recuperação das ações da Cemig“, concluem os analistas.