A Casas Bahia (BHIA3) entrou com um pedido de recuperação extrajudicial para dívidas que totalizam R$ 4,1 bilhões. Para o Bradesco BBI, os termos e valores propostos no plano de recuperação extrajudicial da Casas Bahia são significativos e devem proporcionar um grande alívio para a empresa. Nesta segunda-feira (29), as ações da varejista dispararam 34,19% no Ibovespa, cotadas a R$ 7,16.
O BBI ressalta que o processo deve melhorar o fluxo de caixa das Casas Bahia em R$ 4,3 bilhões nos próximos quatro anos, o que equivale a cerca de 8 vezes o valor de mercado atual da empresa, que é de R$ 517 milhões.
Os analistas do BBI também destacam que, somente em 2024, o alívio no fluxo de caixa será de R$ 1,5 bilhão, valor superior ao Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado dos últimos 12 meses.
“No final das contas, esta medida traz uma importante margem de manobra para os fluxos de caixa de curto e médio prazo da Casas Bahia e, até certo ponto, diminui os riscos de preocupações com liquidez”, aponta o BBI.
“Acreditamos que a administração da empresa pode agora ter um foco maior e fazer um esforço maior na execução do seu plano de transformação sem a distração de resgates significativos de caixa que acontecem no curto prazo”, acrescentam os analistas.
O BBI manteve recomendação neutra para as ações da Casas Bahia, com preço-alvo de R$ 12.
Casas Bahia entra com pedido de recuperação extrajudicial
A Casas Bahia entrou com pedido de recuperação extrajudicial para dívidas que somam R$ 4,1 bilhões. O pedido já é pré-acordado com os principais credores, que detêm 54,5% dos débitos e, portanto, deve ser aplicado também aos demais credores pulverizados, dentre eles, pessoas físicas.
O montante renegociado, que envolve a 6ª, 7ª, 8ª e 9ª séries de debêntures, tinha custo médio de CDI +2,7% e prazo de 22 meses. Agora, o custo está em CDI + 1,2%, em um prazo de 72 meses. Nos cálculos da empresa, o novo perfil da dívida preserva R$ 4,3 bilhões de caixa até 2027, sendo R$ 1,5 bilhão somente em 2024. Como contrapartida, os principais bancos credores ganham o dinheiro de converter 63% dos valores que lhe são devidos em ações da varejista.
O acordo para o pedido de recuperação extrajudicial da Casas Bahia da inclui uma carência de 24 meses para pagamentos de juros e 30 meses para pagamento de principal. Assim, antes da renegociação, a empresa desembolsaria, até 2027, R$ 4,8 bilhões. Agora, a empresa terá de arcar, no mesmo prazo, apenas com R$ 500 milhões.
“Todo mundo olhava e via que tínhamos pagamentos de juros todos os anos. Era R$1,5 bilhão esse ano e quase R$ 1 bilhão nos próximos anos. Perguntavam: Vocês conseguem gerar caixa para isso tudo?”, afirmou o CEO da Casas Bahia, Renato Franklin ao Broadcast.
“Por mais que o plano de reestruturação da Casas Bahia estivesse indo bem, iria ficar apertado. Iríamos trabalhar para pagar juros, diziam. Desse jeito, não. Ganhamos muita flexibilidade e caixa para eventuais volatilidades e, também, para aproveitar algumas oportunidades de mercado e nos prepararmos para a Black Friday, por exemplo”, acrescenta.
Casas Bahia: dívidas com Bradesco (BBDC4) e Banco do Brasil (BBAS3)
A operação tem perímetro restrito, ou seja, inclui apenas dívidas financeiras da Casas Bahia sem garantias, como debêntures e CCBs emitidas junto aos bancos. O Bradesco (BBDC4) possui R$ 953 milhões em debêntures e o Banco do Brasil (BBAS3), R$ 1,272 bilhão, o que representa 54,5% do total das emissões contempladas no plano.
O acordo da Casas Bahia determina que as quatro séries de debêntures, mais as cédulas de crédito bancário, sejam transformadas em uma única debênture de três séries. A primeira representará 37% dos débitos de todos os credores e será paga com carência de juros de 24 meses e carência de principal de 30 meses. A taxa será de CDI + 1,5%, com pagamentos semestrais após a carência. Sendo que a maior parcela (60%) será paga em novembro de 2029.
Depois, para receber o restante (63%), será possível escolher entre a segunda e a terceira série. Quem optar pela categoria de “credor parceiro” (série 2), como o Banco do Brasil e o Bradesco, deve manter as atuais condições de outras linhas de crédito que não fazem parte da Reestruturação Extrajudicial da Casas Bahia. No caso desses dois bancos, as linhas são as que financiam o crediário da varejista e as operações de risco sacado.
Nessa opção, será possível converter a dívida em ações da Casas Bahia entre 18 e 36 meses por 80% do valor médio dos papéis nos 90 dias anteriores, ou aguardar o pagamento até novembro de 2030, com juros de CDI + 1%. Se essa opção fosse feita integralmente, com o valor de mercado atual da companhia, e sem que os atuais sócios exercessem seu direito de investir mais para não serem diluídos, os dois bancos assumiriam o controle da varejista. Franklin diz, porém, que não acredita que os bancos tenham essa intenção.
Caso mais detentores dos títulos de dívida da Casas Bahia queiram aderir a essa categoria, terão de fazer novos empréstimos à empresa. Do contrário, eles serão enquadrados na série 3 e terão de aguardar o pagamento até novembro de 2030, com juros de CDI + 1%.
“Estamos fazendo um acordo estrutural e definitivo para a companhia. Nessa negociação conseguimos não só as carências para juros e principal, mas um cronograma de amortização também bem mais diluído. Isso transforma o perfil de dívida da companhia”, concluiu Franklin, CEO da Casas Bahia.
Desempenho anual das ações da Casas Bahia
Cotação BHIA3