A S&P rebaixou os ratings de crédito de emissor e emissão do Grupo Casas Bahia (BHIA3) de ‘br-A’ para ‘br-BBB-‘, na escala nacional. A perspectiva do rating de emissor é negativa.
Segundo a agência classificadora de risco, o rebaixamento da nota da Casas Bahia se deu após a divulgação dos resultados financeiros do terceiro trimestre deste ano, com números indicando que o grupo não atingirá as métricas de crédito esperadas na análise anterior.
“Em nossa visão, os resultados do acumulado do ano mostram que o grupo atualmente depende de condições de negócios, financeiras e econômicas favoráveis para retomar sua rentabilidade. Não esperamos uma crise de pagamento ou de crédito nos próximos 12 meses, mas entendemos que sua estrutura de capital atual é frágil”, diz a S&P em relatório.
Apesar da evolução no plano de transformação, com alguns efeitos positivos já se materializando, a S&P acredita que os desafios para recuperar margens e desalavancar seguirão durante 2024, em um ambiente macroeconômico ainda difícil para o varejo.
Casas Bahia: estrutura de capital é frágil, diz S&P
A perspectiva negativa indica uma chance em três de um rebaixamento dos ratings nos próximos 6 a 12 meses, informa a agência. Além disso, reflete a visão da S&P de que a atual estrutura de capital da empresa é frágil, e que uma demora maior do que esperada na recuperação da rentabilidade pode trazer riscos à capacidade de refinanciamento de dívidas no longo prazo.
“Ainda, a perspectiva incorpora os riscos da indústria de varejo discricionário brasileira, como a queda da renda disponível da população, taxas de juros ainda em patamares elevados e o alto grau de competição, que podem continuar afetando os resultados do grupo e a redução da alavancagem que esperamos para 2024 e 2025”, acrescentou a S&P.
Exclusivo: Casas Bahia (BHIA3) vai seguir com ‘regime espartano’ para se reerguer, diz CFO
Com um resultado em linha com o pessimismo do mercado sobre a companhia, a Casas Bahia (BHIA3) fechou em queda de 12% após divulgar seus números trimestrais, anotando alta de mais de quatro vezes no prejuízo do 3T23. Segundo o CFO da companhia, Elcio Mitsuhiro Ito, em entrevista exclusiva ao Suno Notícias, a gestão já esperava um desfecho ruim no 3T23.
O executivo reafirma que o management compreende que o curto prazo deve ser desafiador, e o foco atual será na reestruturação das Casas Bahia – divulgada ao mercado na temporada de resultados anterior.
“Queremos que o operacional da companhia tenha um tamanho que comporte os custos e despesas, sem depender que o varejo vá bombar. Talvez daqui a dois anos, podemos olhar e ver que tomamos a decisão errada ao fechar uma loja ou readequar um centro de distribuição, mas no momento atual precisamos manter essa estrutura espartana”, disse o CFO.
O resultado da companhia mostra que foram 38 lojas da Casas Bahia fechadas, em linha com o que a gestão espera para este segundo semestre, que é fechar de 50 a 100 lojas.
O foco foi cortar as lojas que funcionavam com outras muito próximas e que eram deficitárias.
Além do fechamento de lojas, a companhia tomou uma série de decisões relevantes para ‘limpar’ seu balanço, adicionar fluxo de caixa e sanar questões urgentes.
Dentre essas, estão a monetização de créditos tributários, a estruturação de um FIDC e o rearranjo de 1P para 3P.
Durante a teleconferência de resultados, o CEO da Casas Bahia, Renato Franklin, destacou que as decisões “foram importantes para lidar com desafios de curto prazo” e também para a companhia manter seu fluxo de caixa estável ante o trimestre anterior.
A decisão pelo follow-on das Casas Bahia
No início de setembro, a varejista publicou um fato relevante dando início à uma emissão de ações (follow-on).
A decisão, à época, desagradou uma parte considerável do mercado e, de lá para cá as ações das Casas Bahia caíram 56%.
Elcio destaca que a decisão pela oferta ‘talvez não tenha sido ideal’, mas voltou a ponderar que ajudou a empresa a sustentar seu caixa para lidar com os desafios de curto prazo.
“O folow-on talvez não tenha sido o ideal, principalmente para os acionistas de referência, mas para a companhia foi bastante importante. Reforça estratégia de liquidez”.
O CEO, da mesma forma, destacou que a decisão também foi crucial para manter o caixa estável no comparativo de base trimestral.
Além disso, os executivos seguem na expectativa de reconquista credibilidade junto ao mercado financeiro.
“Tivemos captações bilaterais de R$ 500 milhões neste trimestre. O feedback foi de que temos um plano bom, que a empresa está no caminho certo”, disse o CFO da Casas Bahia.
Mitsuhiro disse que a entrada de ‘dinheiro novo’ de instituições financeiras foi um sinalizador de que o plano para a companhia se reerguer está sendo bem visto.
‘Esse foi um jogo que a gente decidiu não querer fazer mais’
Mitsuhiro fez questão de dizer que a empresa descarta totalmente uma estratégia de crescer no e-commerce ou de torrar caixa para crescer em outras avenidas fora do core business.
“Tem muitos negócios que você precisa investir para começar a ganhar dinheiro, que foi o caso do Mercado Livre (MELI34), quando ele começou. Nós já somos muito grandes onde nós estamos. Temos 30 milhões de clientes ativos, não precisamos crescer mais. Precisamos agora, dada a situação de mercado da estrutura de capital, rentabilizar. Então é isso que nós estamos fazendo”, explicou o CFO.
“Se você vir a estratégia de Mercado Livre, foram muitos anos queimando dinheiro para conseguir agora começar a ter uma rentabilidade. Esse foi um jogo que a gente decidiu não querer fazer mais. A gente não tem essa estrutura de capital”, completou.
Por fim, o executivo destacou que a Black Friday planejada pela companhia é uma ‘Black Friday racional’.
“Ninguém [no setor de varejo] está numa posição de entrar ‘rasgando dinheiro’ da forma que talvez fizemos no passado, e com um nível de estoque mais adequado. A gente tem bastante produto, mas a gente não precisa fazer nenhuma grande queima, porque a gente está um pouco mais racional nesse processo.
A projeção é de que os estoques das Casas Bahia também sejam calibrados para evitar o fenômeno de ‘vender a qualquer preço’ que ocorreu em anos anteriores.
Desempenho das ações de Casas Bahia
Cotação BHIA3