As ações de Casas Bahia (BHIA3) fecharam no positivo e as da Magazine Luiza (MGLU3) cederam nesta sexta-feira (6) no Ibovespa, após a piora no cenário de juros e com os dados de emprego nos Estados Unidos, o payroll.
O resultado do payroll influencia para que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) mantenha as taxas de juros nos EUA mais altas por mais tempo, o que pressiona as economias globais e afeta o setor de consumo como um todo.
No fechamento, as ações ordinárias de Casas Bahia (BHIA3) subiram 7,14%, cotadas a R$ 0,60, enquanto as de Magazine Luiza (MGLU3) recuaram 1,66%, a R$ 1,78. O Ibovespa fechou em alta de 0,78%, a 114.598 pontos.
Cotação BHIA3
Segundo Fábio Lemos, sócio da Fatorial Investimentos, o setor de varejo segue sendo impactado por pioras no cenário de juros e a divulgação do payroll americano nesta sexta-feira, mostrando uma economia mais forte do que a esperada, impôs maior pressão sobre o Federal Reserve para uma política mais restritiva de juros, o que acaba influenciando no segmento.
“O mercado de juros americanos nessa taxa elevada pressiona os outros bancos centrais mundo afora, e percebemos isso aqui no Brasil olhando o movimento do juros futuros (DI31, por exemplo). Juros mais altos significam margens menores devido a gastos com despesas financeiras e por tabela uma propensão a menor consumo também. E isso afeta todo o setor de varejo na verdade”, explica.
De acordo com dados do Payroll divulgados hoje pelo Departamento do Trabalho, os Estados Unidos criaram 336 mil vagas de trabalho fora do setor agrícola no mês de setembro, bem acima das 170 mil que eram esperadas pelo mercado. Já a taxa de desemprego se manteve em 3,8%, enquanto o crescimento dos salários foi de 0,2% na base mensal.
Na visão de Ricardo Jorge, especialista em mercado de capitais e sócio da Quantzed, os dados mostram que o mercado ainda está muito aquecido. “Bolsas reagiram muito mal após a divulgação. Juros estressaram e estão em alta. Dólar subindo também. Com isso, certamente devemos esperar um discurso mais duro por parte dos membros do Fed e taxas mais altas de juros por mais tempo”, reforçou.
Casas Bahia chega a acordo com credores
A Casas Bahia conseguiu chegar a um acordo com credores para evitar a antecipação dos vencimentos de sua dívida. A dívida, que consiste em um certificado de recebíveis imobiliários (CRI) lastreado na oitava emissão de debêntures da empresa, foi emitida em 2022, avaliada em R$ 420 milhões.
Segundo uma das cláusulas restritivas da emissão, os financiadores poderiam antecipar a cobrança caso a avaliação de rating da companhia caísse – o que aconteceu no início de setembro, quando a agência de classificação de risco S&P Global revisou a classificação das debêntures de brAA- para brA-. A decisão de hoje, portanto, é o não exercício desse item.
Vale lembrar que a agência atualizou as projeções para a Via após a varejista divulgar os resultados do primeiro semestre de 2023, indicando que a empresa não atingirá as metas de crédito esperadas em sua análise mais recente.
Em contrapartida, a Casas Bahia informou no fato relevante que os CRIs serão acrescidos de um spread complementar de 0,55% a partir da data de pagamento imediatamente subsequente à aprovação do pleito na assembleia, e que a varejista pagará um prêmio flat equivalente a 0,25%, multiplicado pelo prazo médio ponderado remanescente.
O pagamento do prêmio será efetuado no ambiente da B3 (B3SA3).
Em meados de setembro, a companhia captou 622,9 milhões em seu follow-on, abaixo dos R$ 981 milhões previstos inicialmente, com o objetivo de fortalecer seu capital de giro. Para Fábio Lemos, sócio da Fatorial Investimentos, apesar do desejo dos credores em receber, no momento, a renegociação da dívida é a alternativa mais benéfica para a Casas Bahia.
“Ainda que envolva uma elevação de taxas na dívida, como se deve alongar o prazo, a companhia acabaria ganhando mais tempo para buscar uma solução e até mesmo contar com uma melhora no cenário macro de juros, que hoje também pressiona não só a companhia mas todo o setor”, destacou.
Casas Bahia (BHIA3) tomba 50,39%: veja as ações que mais caíram em setembro
O Ibovespa, principal índice de ações da B3, terminou setembro com uma alta de 0,71%, aos 116.565,17 pontos. Na máxima do mês, chegou a atingir os 119.780,20 pontos, enquanto a mínima foi de 113.365,75 pontos.
Mesmo com uma leve alta, o Ibovespa voltou a ter um fechamento mensal positivo, diante da queda de 5,09% registrada em agosto, interrompendo uma sequência de quatro altas mensais seguidas.
O mercado de ações vem repercutindo as recentes mudanças e atualizações sobre a política monetária não apenas no Brasil, mas também no exterior, sobretudo nos EUA.
Um relatório da XP destaca maior aversão ao risco no exterior, o que também acabou pressionando os ativos de renda variável no Brasil, em meio a um discurso dos bancos centrais que mostra uma propensão de que os juros devam se manter elevados por mais um período.
“O tom recente do Federal Reserve foi mais duro do que o esperado, e agora temos o risco de que os preços mais altos de energia possam reacelerar a inflação. Nossa equipe de Economia XP revisou, recentemente, sua projeção para a taxa de juros dos EUA e agora está prevendo um aumento adicional de 25 pontos base”, disse o relatório da XP.
O documento assinado por analistas da XP também trouxe atualizações sobre o “valor justo” do Ibovespa para este ano, com sua cotação potencial saindo de 133 mil pontos e passando para 128 mil pontos na nova projeção, com uma redução na estimativa em cerca de 5 mil pontos.
Apesar de algumas ações brasileiras terem registrado fortes altas ao longo de setembro, alguns papéis acabaram se destacando no campo negativo.
Veja as 5 ações do Ibovespa que mais caíram em setembro:
- Casas Bahia (BHIA3): -50,39%
- Pão de Açúcar (PCAR3): -29,15%
- Magazine Luiza (MGLU3): -23,19%
- Vamos (VAMO3): -16,74%
- Lojas Renner (LREN3): -15,25%
Casas Bahia (BHIA3)
As ações das Casas Bahia, ex-Via, perderam mais da metade do seu valor de mercado durante o mês de setembro. Além da mudança de nome e de ticker (antes VIIA3 e agora BHIA3), a empresa vem passando por uma reestruturação.
Porém, os resultados ruins, caixa desfavorável e diluição de investidores foram alguns dos fatores que pesaram fortemente no preço das ações em setembro. Também houve a renúncia do Vice-Presidente Comercial e de Operações das Casas Bahia, Abel Ornelas Vieira.