Previsto para ser divulgado no próximo dia 8 de maio, após o fechamento do mercado, o balanço do primeiro trimestre da Casas Bahia (BHIA3) refletirá um cenário ainda desafiador, à medida que a concorrência no setor está mais pesada e o plano de reestruturação ainda está em execução, segundo analistas.
Entre os meses de outubro e dezembro de 2023, a Casas Bahia (BHIA3) registrou um prejuízo contábil de aproximadamente R$ 1 bilhão, aumento de 513,5% em relação às perdas de R$ 163 milhões registradas no quarto trimestre de 2022.
Desconsiderando os impactos não recorrentes, o prejuízo líquido foi de R$ 564 milhões no último trimestre do ano passado. Nesse mesmo contexto, as perdas foram 51,6% maiores que o prejuízo de R$ 372 milhões registrado no 4T22.
Após o balanço do 4T23, os executivos da Casas Bahia afirmaram que os resultados da empresa no período estavam contaminados, uma vez que a varejista passava por uma reestruturação. Assim, segundo o CEO Renato Franklin, a melhora seria observada apenas neste primeiro trimestre de 2024.
“Não vemos tantos impactos mais da reestruturação no primeiro trimestre de 2024. O mercado terá de olhar para ele para entender como estamos. Falo com convicção, olhando para targets do terceiro e quarto trimestre, que entregaremos melhora” disse em teleconferência de resultados.
Gabriel Costa, analista da Toro Investimentos, no entanto projeta uma redução de receitas na ordem de 2% e um resultado líquido ainda dificultoso para a Casas Bahia no 1T24. Assim, segundo ele, ao longo do ano, é necessário monitorar o andamento das vendas, haja vista a redução de lojas e migração de categorias realizadas do 1P para o 3P.
“Em função disso, é possível que vejamos a Casas Bahia se tornando mais enxuta, o que deve acompanhar também uma redução em pelo menos igual, mas idealmente maior magnitude, das despesas, o que traria alavancagem operacional para o negócio”, escreve.
Costa observa que ao longo de 2023, houve uma redução expressiva do lucro bruto da Casas Bahia, justificado pela empresa como um efeito dos saldões de estoque. Contudo, as despesas operacionais cresceram ano a ano em decorrência de gastos com reestruturação, provisões de ICMS – DIFAL e impairment.
“Ademais, o resultado financeiro também piorou substancialmente, com destaque para o amplo aumento do desconto de recebíveis no ano. Isso também deve continuar influenciando no resultado líquido”, aposta.
Pedro Coutinho, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital, lembra que o grande turnaround proposto pelas Casas Bahia visa mostrar resultados consistentes a partir de 2025, o que, de acordo com o mercado, parece ainda precisar de sinais relevantes para ser crível.
Ele lembra também que a empresa captou em torno de R$ 600 milhões em seu follow-on e vem tentando seguir o plano proposto no ano passado, com redução de quadro e de estoques, controle de despesas mais eficiente, prorrogação de dívida e outras definições estratégicas.
“Porém, mesmo com todas as medidas, o resultado veio, em grande parte, aquém do que o mercado esperava, o que tirou um pouco a confiança dos players em relação a uma melhora relevante de curto prazo”, ressalta Coutinho, destacando que para o 1T24, as atenções estarão voltadas para a pressão nas margens e na dinâmica de fluxo de caixa da empresa, além da capacidade do Grupo Casas Bahia em monetizar créditos fiscais.
Casas Bahia: plano de transformação tem trazido resultado para a varejista?
No comunicado que acompanha o balanço do 4T23 da Casas Bahia, a varejista disse que os números do período vieram ainda impactados por ajustes do seu plano de transformação, apresentado no segundo trimestre de 2023. De acordo com o presidente da Casas Bahia, Renato Franklin, a empresa executou até agora cerca de 35% do projeto.
“Não enxergamos os níveis de impacto daqui para frente. O primeiro trimestre de 2024 já vem muito mais limpo. Por isso, falamos para o mercado que olhar o início de 2024 será enxergar um carro com motor novo”, disse Franklin, em teleconferência com investidores.
Sobre o andamento do plano de transformação da Casas Bahia, Gabriel Costa, da Toro Investimentos, destacou como positiva a redução no estoque, com uma limpeza que proporcionou ganhos de 18 dias de carrego das mercadorias.
“O alongamento da dívida também trouxe certo alívio para o curtíssimo prazo, mas ainda é importante ressaltar o patamar elevado que se encontra para vencimento nos próximos 24 meses. No 4T23, o fluxo de caixa livre gerado foi suficiente para cobrir os juros da dívida, mas o excedente ainda é insuficiente para amortização do principal”, aponta.
Vale lembrar que nos últimos três meses do ano passado, a Casas Bahia realizou o fechamento de 17 lojas. Porém, desde o início da reestruturação, foram 55 unidades encerradas e quatro centros de distribuição “readequados”.
De acordo com o CEO das Casas Bahia, a partir deste ano, o resultado operacional (Ebitda) ajustado ficará muito mais próximo do contábil. “Será mais fácil de enxergar a realidade da companhia”, pontuou Franklin logo após a divulgação dos resultados do 4T23 da companhia.
Casas Bahia (BHIA3) e Magazine Luiza (MGLU3): qual vive melhor momento?
Um dos grandes problemas apontados pelos analistas no balanço da Casas Bahia no 4T23 estava relacionado à rentabilidade, o que em contrapartida acabou sendo um ponto forte do balanço da sua principal concorrente, Magazine Luiza (MGLU3), mesmo a companhia controlada pela família Trajano apresentando um crescimento moderado em vendas.
Pedro Coutinho, da The Hill Capital, considera que a Magalu possa estar em um momento melhor, conseguindo mostrar uma melhora nas margens, apesar de ainda sofrer com as lojas físicas. Em adição a isso, além da tendência de maior rentabilidade, ele acredita que o último trimestre já mostrou também uma redução de despesas, o que foi positivo para o mercado.
“Quando comparamos as duas empresas, o consenso diz que a Casas Bahia tem mais dever de casa a cumprir do que a Magalu, que deve receber um ‘humor’ melhor do mercado por conta de um ambiente favorável à sua operação de marketplace, além de todo o cenário de queda de juros”, afirma.
Para Gabriel Costa, da Toro Investimentos, ainda que as receitas estejam pressionadas, o Magazine Luiza registrou expansão de margens no trimestre, o que contribuiu para o bottom line da companhia. Ele ressalta que o resultado líquido também impactou positivamente, com ampla redução frente ao 4T22.
“Ainda que o cenário base para ambas as empresas seja semelhante, com acirramento da concorrência e ampla dependência do ciclo macroeconômico, a estrutura interna nos parece mais bem organizada no Magalu no momento do que nas Casas Bahia”.
Mercado Livre (MELI34) pode ser uma ameaça para a Casas Bahia (BHIA3)?
Um player que tem tomado cada vez mais espaço no mundo do varejo é o Mercado Livre (MELI34), considerada a maior empresa de comércio online do Brasil e que recentemente anunciou um plano de investimentos ambicioso para o País em 2024.
O Meli, como é popularmente conhecido, deve investir R$ 23 bilhões no Brasil este ano, número 21% maior em relação ao ano anterior, e pouco mais do que o dobro do investimento realizado em 2021, segundo Fernando Yunes, vice-presidente sênior e principal executivo no país.
Coutinho, da The Hill Capital, pontua que o Mercado Livre é um player que tem uma vantagem competitiva no ecossistema, pois soube investir na cadeia de ponta a ponta, pensando na logística, operações de pagamentos eficientes, além de experiência do usuário mais rápida e fácil.
Para ele, o novo plano de investimentos anunciado pela empresa é muito importante para investimentos em logística, com criação de novos centros de distribuição (CDs), além de investimentos em publicidade e no Mercado Pago, sua fintech que tem mais de 50 milhões de usuários ativos.
“Todos estes investimentos podem atrapalhar a recuperação da Casas Bahia, já que o Mercado Livre ganha cada vez mais mercado por conta de eficiência, preços baixos, prazos curtos de entrega e diversificação de suas operações”, pontua.
Queda da Selic pode contribuir para os resultados da Casas Bahia no 1T24?
Uma das grandes esperanças para o setor de varejo em 2024 está depositada na queda da taxa de juros, a Selic, que deve ser reduzida em 0,5 ponto percentual (p.p), para 10,25%, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) a ser realizada em maio. Alguns analistas de mercado, inclusive, acreditam que a taxa básica de juros encerrará o ciclo de cortes no segundo semestre em 9,5%.
Pedro Coutinho, da The Hill Capital, acredita que a manutenção do cenário de queda nos juros, com o mercado de crédito mais maduro, pode ajudar a trazer uma perspectiva ainda maior de consumo para os brasileiros, já que pode sobrar mais dinheiro no fim do mês. Além disso, aposta que o custo de capital para as empresas fica menor, gerando uma maior possibilidade de investimentos e aliviando um pouco a pressão no fluxo de caixa.
“Porém, todos nós sabemos que o padrão de consumo do brasileiro mudou bastante nos últimos anos, devido à pandemia e surgimento de novas tecnologias, o que pode sugerir um melhor cenário para os players com maior mercado e condições de investimentos no e-commerce, como Mercado Livre por exemplo”, escreve.
Por fim, para Gabriel Costa, da Toro Investimentos, a redução da Selic pode impactar a Casas Bahia positivamente de duas formas. A primeira é através da redução do custo dos empréstimos, que vem pressionando fortemente a linha de resultado financeiro, enquanto a segunda é a disponibilidade de crédito aos consumidores. “Com taxas mais baixas, é esperada maior demanda por consumo, o que favorece o setor”, esclarece.
Desempenho das ações de Casas Bahia (BHIA3)
No mês, as ações de Casas Bahia (BHIA3) sobem 1,03%, enquanto no acumulado do ano, o recuo é de 39,79%.
Cotação BHIA3