A XP Investimentos reduziu o preço-alvo do Carrefour (CRFB3), mantendo recomendação neutra para as ações da companhia. Segundo analistas, a operação no curto prazo ainda deve ser pressionada pelo processo de integração do Grupo BIG. A análise da XP repercutiu no mercado e os papéis do Carrefour desabaram mais de 6,5%, cotados a R$ 9,96, no Ibovespa nesta sexta (15).
“O valuation do Carrefour não parece tão atrativo, com a ação negociando a um prêmio em 11x P/L 2024”, destaca a equipe de varejo da XP.
De acordo com a análise da XP, o Atacadão representa a maior parte do valor do grupo, enquanto o Carrefour Varejo é o grande ofuscador do valuation. “Trazemos uma análise da soma das partes para olhar para o valuation do CRFB, uma vez que, na nossa visão, a companhia conta com quatro unidades de negócio (Atacadão, Carrefour Varejo, Sam’s Club e Banco Carrefour)”, diz o relatório.
Os analistas apontam que, se o Atacadão for negociado em linha aos níveis do Assaí (ASAI3), em 10xP/L, a ação do Carrefour está precificando apenas o valor do Atacadão – enquanto outros ativos são positivos. Para a XP, isso pode ser explicado pela integração em curso do BIG.
Carrefour: XP reduz preço-alvo
No relatório, a XP reduziu o preço-alvo de R$ 20 para R$ 14, mantendo recomendação neutra.
A casa também diminuiu as estimativas do Ebitda ajustado (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) e lucro líquido de 21% para 10% em 2023, respectivamente. Em 2024, as reduções foram de 76% e 28%, na mesma sequência.
“Mantemos nossa recomendação neutra, uma vez que a ação atualmente negocia um prêmio em relação ao Assaí e ao Grupo Mateus (GMAT3), nossas preferências no setor. Acreditamos que o processo de integração do BIG deve continuar pressionando os resultados de curto prazo e comprometendo a visibilidade do que seriam margens normalizadas na operação de varejo”, conclui a XP.
Carrefour encolheu lucro em 95%, para R$ 29 milhões
O Carrefour apresentou lucro líquido ajustado de R$ 29 milhões no segundo trimestre de 2023. O resultado é 95% menor do que o apresentado no mesmo período do ano passado.
Sem o ajuste, que descontou principalmente gastos com imposto de renda ligados à venda de imóveis (operação de sale and leaseback) e reestruturação de pessoal em razão da integração com o grupo Big, o Carrefour teria prejuízo de R$ 249 milhões.
O CFO da companhia, Eric Alencar, explica que, como esses itens são ajustados com frequência, é possível que as casas de análise considerem os números ligeiramente acima de suas projeções, que indicavam prejuízo para o grupo no terceiro trimestre.
O Ebitda ajustado foi de R$ 1,3 bilhão, com queda de 21,7% em relação ao apresentado um ano antes. Alencar diz que o número foi impactado pelos gastos de integração do Big, mas também pelas vendas mais fracas em razão da queda da inflação. Com os preços em queda, a bandeira de atacarejo do Grupo, o Atacadão, tende a vender menos para os clientes que compram no atacado.
A perspectiva de que os produtos tendem a ficar mais baratos desestimula esse segmento a fazer grandes estoques. Porém, os gastos das lojas, mesmo com vendas menores, continuam os mesmos, afetando a margem do negócio.
De todo modo, o que mais pesou nas margens ainda foi a integração do Grupo Big, já que a companhia terminou, no segundo trimestre, a conversão de lojas para os formatos das marcas do Carrefour e do Atacadão. A margem Ebitda ajustada consolidada caiu 2 pontos porcentuais (p.p.), mas, se retirados os efeitos do grupo Big, a queda teria sido de 0,3 p.p.
Para endereçar essa questão incômoda aos investidores, o grupo abriu dados de maturação das lojas convertidas. Na projeção apresentada, depois de um ano, esses pontos passam de uma margem Ebitda negativa para patamar positivo de 2%, podendo chegar a até 9% depois de 36 meses de operação.
Vendas
A receita líquida do Carrefour foi de R$ 25,9 bilhões, com alta de 8,1%, com vendas totais em R$ 29 bilhões, alta de 9,7%. Os efeitos da queda da inflação aparecem, principalmente, nas vendas em mesmas lojas do Atacadão (conceito que considera apenas as lojas que já estavam abertas há um ano): houve queda de 4,3%.
A companhia lembra, porém, que em dois anos acumulados, o crescimento das vendas em mesmas lojas nessa bandeira foi de 17,2%. “A campanha de aniversário do Atacadão em abril foi, mais uma vez, um sucesso, gerando mais de R$ 1,8 bilhão em vendas. O restante do trimestre foi impactado por um ambiente macro adverso, com desaceleração da inflação de alimentos (4,7% nos últimos 12 meses e -1,07% em junho), impulsionada principalmente pela deflação nas commodities”, diz o release de resultados da empresa.
O grupo terminou a conversão de 13 Hipermercados BIG e 2 TodoDia em lojas Atacadão. Ao todo, desde o fechamento da transação, 76 lojas foram convertidas para a bandeira Atacadão (46 do Maxxi, 27 do Hipermercado BIG, 2 do TodoDia e 1 do Sams Club), 6 a mais do que o planejado inicialmente. Além disso, houve 9 novas lojas do Atacadão no trimestre (3 delas convertidas do Hipermercado Carrefour). E ainda há a previsão de mais 3 lojas da bandeira no segundo semestre, o que leva ao número de 15 novas aberturas orgânicas de Atacadão em 2023.
Varejo
As vendas brutas do varejo, por sua vez, atingiram R$ 7,5 bilhões, com alta de 6,4% na comparação anual, sendo R$ 5,9 bilhões no Carrefour e R$ 1,6 bilhão no Big. As vendas em mesmas lojas (excluindo os postos de gasolina) ficaram estáveis, com queda de 2,7% em produtos alimentares e alta de 6,3% em não alimentares.
No online, as vendas totais do Carrefour chegaram a R$ 2 bilhões, um aumento de 30,1% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Desempenho anual das ações do Carrefour
Cotação CRFB3