Na manhã desta quarta-feira (24), o Carrefour (CRFB3) anunciou a compra do Grupo BIG, unindo o primeiro e o quarto lugares do varejo no Brasil. O movimento, disseram analistas, cria a maior companhia em termos de faturamento do setor, mas a agenda de incorporação não deve ser fácil, e a operação não significa “sucesso garantido”.
De acordo com o Carrefour, as sinergias empresariais vão desembocar em um gigante com Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de R$ 1,7 bilhão após três anos da conclusão da aquisição. Assim sendo, a cifra garante à nova companhia um faturamento anual superior a R$ 100 bilhões, de longe o maior, segundo levantamento de 2019 feito pelo Ibevar, em parceria com a FIA.
Considerando a cisão do Assaí (ASAI3), essa distância até o Grupo Pão de Açúcar – GPA (PCAR3) fica ainda mais gritante.
Segundo Regis Chinchila, analista da Terra Investimentos, entrada do Grupo Big adiciona 387 lojas ao portfólio do Carrefour, sendo 107 hipermercados, 200 supermercados e lojas de conveniência, 49 atacarejos, e 35 estabelecimentos Sam’s Club.
“A aquisição dobra a presença do Carrefour em hipermercados, aumenta a de supermercados e adiciona 25% mais lojas de atacarejo, com potencial de adição nas vendas líquidas estimadas em 32%”, salientou.
Mas, na análise de Alberto Serrentino, consultor de varejo da Varese Retail, a aquisição não tem um “impacto dramático” na configuração do setor. “O varejo brasileiro ainda é muito fragmentado e continuará sendo, então a participação dos dois negócios combinados no varejo alimentar brasileiro ainda não dá uma posição de dominância”.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e de relatórios financeiros, compilados por Regis Chinchila, mostram que a market share de Carrefour e BIG soma 15,3% do mercado total (vendas brutas de R$ 99,651 bilhões), um percentual ainda pequeno em comparação com mercados internacionais.
Concorrência acirrada
Mais, de acordo com Alberto Serrentino, além dos grandes players do setor, outras companhias começam a entrar de cabeça no segmento alimentar com um tempero digital, como Magazine Luiza (MGLU3), B2W (BTOW3) e Mercado Livre (MELI34).
O Carrefour “não ganha na agenda de digitalização em transformação digital, porque o BIG era uma empresa atrasada nesse movimento. Ganhou musculatura e ganhou capilaridade logística para fazer, sim, um crescimento digital do modelo integrado, mas de imediato isso não tem um impacto direto.”
Por outro ângulo, o consultor de varejo da Varese Retail afirmou que, em razão da porcentagem reduzida, a operação não deve enfrentar problemas de aprovação no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
A Ativa Investimentos ainda disse enxergar as operações como complementares, dado que o Carrefour está mais concentrado no Sudeste, enquanto o BIG fica mais exposto ao Sul e Nordeste.
“Como exemplo, podemos citar que Assaí ainda terá mais lojas em São Paulo que as duas empresas combinadas”, salientou a corretora. “Acreditamos que irá passar sem ser necessário nenhum tipo de remédio.”
Carrefour deve ter dificuldade em incorporação do BIG
Apesar de bem recebida pelo mercado, a compra do BIG deve gerar um trabalho para o grupo francês.
“Uma questão desse porte tem uma complexidade, um desafio, enorme do ponto de vista de estrutura, cultura operações”, ressaltou Alberto Serrentino, consultor de varejo da Varese Retail. “Não é trivial incorporar um negócio grande dentro de um outro negócio grande e complexo como é o Carrefour”
“Não é uma agenda fácil, e nem de sucesso garantido, há muito trabalho pela frente, mas é um movimento que descola completamente o Carrefour do resto do mercado e o torna o líder isolado no negócio”.
(Colaboraram Natalia Gómez e Jader Lazarini)