O ex-presidente da Renault-Nissan-Mitsubishi, Carlos Ghosn, foi solto sob fiança nesta terça-feira (5) pelo Tribunal de Tóquio. Os juízes japoneses determinaram uma fiança de 1 bilhão de ienes (cerca de R$ 33,8 milhões).
Carlos Ghosn estava preso desde 19 de novembro, acusado de fraude fiscal e uso de verbas da empresa para uso pessoal. O executivo franco-libanês-brasileiro estava detido em um centro prisional da capital do Japão. Esse é o terceiro pedido de liberdade sob fiança apresentado pelos seus advogados. Os outros dois pedidos foram rejeitados pelos juízes.
Além da fiança, o tribunal ainda estabeleceu outras condições para conceder a liberdade para o executivo. Entre elas, a proibição de sair do Japão e a vigilância por câmeras em sua residência. Ghosn poderia deixar a prisão ainda nesta terça.
O caso de Ghosn é muito raro, pois dificilmente juízes japoneses concedem liberdade sob fiança sem uma confissão do réu. A expectativa era que o executivo permanecesse na prisão até o julgamento, pois ele se declara inocente.
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Relembre o caso Ghosn
Detido em Tóquio desde 19 de novembro, Ghosn é acusado de fraude e de uso indevido de recursos do grupo Renault-Nissan.
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O executivo de 64 anos foi acusado de ter omitido em suas declarações de renda às autoridades da Bolsa de Valores nipônica. Ele teria escondido quase R$ 167 milhões entre 2010 e 2015.
Seu braço direito, Greg Kelly, também foi acusado de ter ajudado a ocultar valores.
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Ghosn também é suspeito de ter repetido a fraude, entre 2015 e 2018, totalizando 4 bilhões de ienes (cerca de US$ 35 milhões). Esse ponto havia provocado uma primeira prorrogação do período de detenção.
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Além das acusações de não ter declarado sua renda real, a Nissan afirma que seu ex-presidente utilizou ilicitamente residências de luxo espalhadas em vários países do mundo pagas pela empresa.
Ghosn teria até organizado uma viagem no Rio de Janeiro durante o Carnaval paga pelas empresas. O executivo e sua esposa convidaram oito casais de amigos para passar a festa na capital fluminense em 2018. No total, a viagem custou US$ 260 mil (cerca de R$ 977,6 mil) e teria sido paga pelo grupo Renault-Nissan.
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A Nissan também é investigada como pessoa jurídica. A Promotoria suspeita da responsabilidade da empresa, que forneceu os relatórios falsos às autoridades da Bolsa de Valores.
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A detenção de Ghosn, que foi destituído da presidência da Nissan poucos dias depois de ser preso, resultou de uma investigação interna da empresa. O executivo também foi destituído da presidência da Mitsubishi Motors.
O executivo era considerado uma “estrela” no mundo do setor automotivo mundial. Principalmente por sua capacidade de restruturar empresas em crise e cortar custos. Ele salvou a Nissan, que no inicio dos anos 2000 estava prestes a falir. Ghosn chegou a ganhar um status de herói no Japão, tanto que sua trajetória foi ilustrada em mangás, as histórias em quadrinhos japonesas.
A prisão de Ghosn provocou uma crise na aliança entre a Nissan e a Renault. A aliança industrial entre as duas montadoras foi criada em 1999, costurada próprio por Carlos Ghosn. Com a entrada da Mitsubishi Motors, se tornou o maior grupo mundial do setor automobilístico.