O presidente-executivo e do Conselho da Renault S.A., Carlos Ghosn, renunciou a direção da montadora francesa.
Com a saída de Carlos Ghosn, o novo presidente-executivo da fabricante de carros deve ser Thierry Bolloré, o maior acionista da montadora depois do governo francês. Paralelamente, o Conselho deve ser assumido por Jean-Dominique Senard, presidente-executivo da Michelin, segundo a Reuters.
Haverá uma reunião hoje entre os membros do conselho de administração para a tomada da decisão oficial.
Carlos Ghosn, que também era o presidente-executivo da Nissan, foi preso em novembro do ano passado. Com o afunilamento das esperanças em ser libertado da prisão, após pedidos de liberdade sob fiança serem rejeitados, Ghosn resolveu abdicar do cargo.
A emissora pública de televisão do Japão, NHK, havia anunciado na véspera que havia a possibilidade da renúncia de Carlos Ghosn.
Porém, o anúncio oficial foi feito em Davos, na Suíça, durante o Fórum Econômico Mundial. A novidade foi divulgada pelo ministro de Economia e Finanças da França, Bruno Le Maire.
Foi também o ministro quem sinalizou a possibilidade do CEO da Michelin tomar posse da presidência do Conselho da Renault. “Jean-Dominique Senard seria um excelente presidente da Renault”.
Saiba mais – Carlos Ghosn diz que ficará no Japão caso seja libertado
As acusações contra Carlos Ghosn
O ex-presidente da Renault, Carlos Ghosn, foi preso em 19 de novembro de 2018. Já obteve dois pedidos de liberdade sob fiança negados.
O acusado ficará preso por um período adicional, referente à uma lei japonesa. Assim, nesse país, se um pedido de liberdade sob fiança é negado, o réu deverá permanecer encarcerado por no mínimo dois meses após a decisão. Para Ghosn, o prazo vai até 10 de março.
Saiba mais – Carlos Ghosn deve permanecer preso no Japão pelo menos até março
Saiba mais – Defesa de Carlos Ghosn, ex-presidente da Nissan, recorre decisão de juiz
Saiba mais – Ex-presidente da Nissan, Carlos Ghosn tem liberdade negada
Confira abaixo as acusações contra Ghosn:
- Sonegação de renda: a Promotoria japonesa diz que o ex-presidente da Nissan declarou apenas metade do que recebeu entre os anos de 2010 e 2015. O brasileiro teria ocultado US$ 44 milhões (R$ 172 milhões). Na última sexta-feira (11), Ghosn foi formalmente denunciado por sonegar informações acerca da sua renda real também entre 2015 e 2018.
- Transferência de prejuízos pessoais para a Nissan: a Promotoria alega abuso de confiança por parte do executivo, que transferiu temporariamente perdas de investimento pessoal para a Nissan em 2008. Ghosn, por sua vez, afirma que agiu com “a aprovação dos diretores da Nissan”. O brasileiro disse que pediu à empresa para assumir, de forma temporária, a garantia de seus contratos de câmbio durante a crise financeira global de 2008. Ainda conforme Ghosn, a única outra alternativa à esta ação seria renunciar e usar os recursos de sua aposentadoria como garantia. De acordo com o G1, o valor aproximado que a Nissan assumiu por Ghosn é de US$ 16,6 milhões.
- Uso pessoal de imóveis comprados pela Nissan: uma investigação interna da multinacional revelou que uma subsidiária montada na Holanda, que supostamente financiava investimentos de capital de risco, foi utilizada para comprar ou alugar imóveis corporativos, nos quais o executivo se hospedava quando viajava. Dos quatro imóveis identificados em quatro países diferentes, um fica no Rio de Janeiro.
Saiba mais – Mitsubishi acusa Carlos Ghosn de ter recebido 7,8 mi de euros ilegalmente
Na última sexta-feira (18), A Mitsubishi acusou seu ex-presidente Carlos Ghosn de ter supostamente recebido um pagamento ilegal de 7,82 milhões de euros em 2018.
Histórico de Carlos Ghosn
Confira abaixo os principais pontos do histórico profissional do primeiro homem a tornar-se presidente-executivo de mais de uma montadora de carros simultaneamente:
- 1999: a aliança Renault-Nissan nascia, com a fabricante francesa adquirindo 36,8% da montadora japonesa. Na época, a Nissan tinha dívida na casa dos US$ 20 bilhões. Ghosn chegou na multinacional nesse momento. Em seu currículo, já havia a passagem de 18 anos na Michelin, e o recente auxílio às atividades sul-americanas da Renault.
- 2001: foi nomeado presidente-executivo da companhia, após utilizar suas habilidades em cortar custos. Em pouquíssimo tempo, o executivo transformou a Nissan, que estava à beira da falência, em uma companhia de vendas anuais na casa dos 100 bilhões de euros.
- 2005: o então presidente da Nissan passou também a controlar a parceira francesa Renault. Esse foi o momento no qual se consagrou como a única pessoa na história a assumir a presidência de duas montadoras simultaneamente.
- 2008: Ghosn foi nomeado presidente e diretor-executivo da Nissan.
- 2009: desta vez, foi nomeado também presidente e diretor-executivo da Renault.
- 2016: a Nissan completou a aquisição controladora de 34% na Mitsubishi Motors. Dessa forma, Ghosn tornou-se presidente da Mitsubishi além de seus postos na Renault-Nissan.
A aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, maior parceria automotiva do mundo vendeu 10,6 milhões de veículos em 2017, mais do que a Volkswagen ou a Toyota.
Saiba mais – Governo da França deseja fusão entre Renault e Nissan, diz jornal
Com a pauta da fusão entre a Renault e a Nissan ocorrendo em 2018 – a Renault possui 43,4% da Nissan, e a Nissan possui 15% da Renault – e a maioria do Conselho da Nissan sem consentir a fusão das aliadas, a possibilidade de uma conspiração contra Carlos Ghosn não é descartada.