O ex-presidente do grupo Renault-Nissan, Carlos Ghosn, indicou que planejava demitir seu antigo vice, Hiroko Saikawa, antes de ser preso.
Saikawa teria sido um dos artífices das acusações que levaram a prisão de Carlos Ghosn. Segundo o próprio ex-presidente da Nissan, Sakaiwa estava prestes a ser demitido por conta da deterioração no desempenho da montadora nos EUA. Entretanto, Goshn foi preso em novembro passado, e Sakaiwa continua em seu cargo.
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Segundo Ghosn, os atritos com Saikawa começaram em 2016, depois que o japonês assumiu o comando executivo da empresa. Saikawa tinha sido por muitos anos o vice de Ghosn. Entretanto, durante a gestão de Saikawa as vendas no mercado japonês pioraram por escândalos de controle de qualidade. Além da piora registrada no mercado dos Estados Unidos. A margem de lucro operacional da Nissan acabou ficando em 3,6%. A mais baixa entre a maioria das grandes montadoras de automóveis mundiais. Por isso, o grupo prevê que seu lucro líquido anual em 2019 acabaria 33% menor do registrado em 2018.
“Quando o desempenho de uma empresa se deteriora, nenhum presidente-executivo está imune a ser demitido”, declarou Ghosn à agência AFP e ao jornal francês Les Echos. O ex-presidente da Renault-Nissan concedeu uma entrevista no centro de detenção onde está preso em Tóquio.
Saikawa, por sua vez, acusou Ghosn de ser o responsável dos problemas da empresa. Logo depois da prisão do executivo franco-libanês-brasileiro, o japonês indicou entre as operações defendidas por Ghosn as causas da crise. Entre elas, o investimento agressivo em incentivos para elevar as vendas de carros nos EUA.
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Para Saikawa, operações “distendidas” da Nissan nos Estados Unidos foram um dos erros da gestão Ghosn. Além disso, segundo ele, a adoção de metas otimistas de vendas para expandir a fatia de mercado da empresa foram outro erro.
Ghosn acusou várias vezes os executivos da Nissan de “complô e traição” no caso de sua prisão. As acusações de crimes e violações de conduta financeira contra o executivo, segundo ele, visavam apenas bloquear seu plano para uma maior integração entre a Nissan e a Renault.
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Segundo Ghosn, “existia um plano para integrar” as montadoras japonesa e francesa, incluindo também a Mitsubishi Motors. A ideia, que previa a criação de uma holding, foi analisada junto com Saikawa em setembro de 2018. Ghosn foi preso menos de 60 dias depois.
Por sua vez, a Nissan informou que a prisão de Ghosn resultou de supostos delitos de consulta por parte do executivo. A montadora japonesa o acusou formalmente de ocultar o valor real de sua remuneração. Além disso, Ghosn teria usado sua conta de despesas na companhia por benefícios pessoais. Entretanto, o executivo nega as acusações.
Relembre o caso Ghosn
Detido em Tóquio por suspeita de fraude, Ghosn comparece pela primeira vez à Justiça, nesta terça-feira (8).
O executivo de 64 anos foi acusado de ter omitido em suas declarações de renda às autoridades da Bolsa de Valores nipônica. Ele teria escondido quase 5 bilhões de ienes (cerca de US$ 44 milhões) entre 2010 e 2015.
Seu braço direito, Greg Kelly, também foi acusado de ter ajudado a ocultar valores.
Ghosn também é suspeito de ter repetido a fraude, entre 2015 e 2018, totalizando 4 bilhões de ienes (cerca de US$ 35 milhões). Esse ponto havia provocado uma primeira prorrogação do período de detenção.
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Além das acusações de não ter declarado sua renda real, a Nissan afirma que seu ex-presidente utilizou ilicitamente residências de luxo espalhadas em vários países do mundo pagas pela empresa.
A Nissan também é investigada como pessoa jurídica. A Promotoria suspeita da responsabilidade da empresa, que forneceu os relatórios falsos às autoridades da Bolsa de Valores.
A detenção de Ghosn, que foi destituído da presidência da Nissan poucos dias depois de ser preso, resultou de uma investigação interna da empresa. O executivo também foi destituído da presidência da Mitsubishi Motors.
A prisão de Ghosn provocou uma crise na aliança entre a Nissan e a Renault. A aliança industrial entre as duas montadoras foi criada em 1999, costurada próprio por Carlos Ghosn. Com a entrada da Mitsubishi Motors, se tornou o maior grupo mundial do setor automobilístico.