Sucessor de Carlos Ghosn corta plano investimentos da Nissan na China
O sucessor de Carlos Ghosn na liderança da Nissan, Hiroto Saikawa, decidiu cortar os investimentos na China. O executivo franco-brasileiro tinha previsto investir US$ 9 bi no gigante asiático. Um valor que Saikawa quer cortar.
As mudanças são causadas pela desaceleração do mercado chinês. Carlos Ghosn tinha apostado tudo na China, aprovando esse gigantesco plano de investimentos da Nissan. Entretanto, seu sucessor acredita que o mercado automotivo chinês, o maior do mundo, esteja no começo de uma prolongada desaceleração.
Saiba mais: Carlos Ghosn: França vai investigar casamento em Versalhes
Grandes planos para a China
Sob a liderança de Ghosn, a Nissan prometeu investir pesado na China e lançar 20 modelos de carros elétricos até 2022. A casa japonesa queria ampliar as vendas anuais em 1 milhão de unidades. Um volume que se somaria ao atual 1,56 milhão de veículos vendidos no ano passado, incluindo importações.
Agora, a meta de vendas futuras de carros da Nissan na China está sendo reduzida em cerca de 8%. A casa japonesa criou uma joint venture com a Dongfeng Motor com a perspectiva de vender 2,39 milhões de veículos em 2022. Uma redução de mais de 200.000 unidades em relação à meta anterior.
A joint venture da Nissan com a Dongfeng, sediada em Wuhan, informou que vai rever as metas de médio prazo. Uma mudança que poderia levar a ajustes com base nas condições de mercado.
O sucesso de Carlos Ghosn está priorizando a rentabilidade das vendas em vez do aumento do volume. Com essa decisão, os lançamentos de novos modelos poderiam ser suspensos na China.
Saiba mais: Carlos Ghosn deixa presidência da Renault; Conselho já tem novo nome
Entretanto, a casa japonesa ainda não fez nenhum anúncio sobre mudanças em seu plano de negócio para a China.
Sucessor de Ghosn muda tudo
Saikawa assumiu a presidência da Nissan após a prisão de Ghosn, em 19 de novembro. O executivo japonês rejeitou o objetivo do ex-presidente do Conselho de Administração de uma fusão entre a Nissan com as casas aliadas Renault e Mitsubishi Motors. Além disso, Saikawa criticou a estratégia de oferecer incentivos acima da média e sacrificar os lucros para tentar ganhar o mercado dos Estados Unidos.
Saiba mais: Carlos Ghosn diz que acusações são fruto de “conspiração e traição”
Entre as primeiras ordens de Saikawa aos executivos da Nissan foi o não focar no volume de vendas e sim no aumento do lucro. Exatamente o oposto feito por Ghosn. Além disso, a nova estratégia de Saikawa prevê que não haja nenhum novo modelo importante da Nissan planejado para o mercado chinês até 2020. Nem sua marca de luxo Infiniti tem um novo veículo planejado até 2021.
Agora, essa mudança na estratégia da Nissan na China é o último pilar
corporativo de Ghosn a ser modificado por Saikawa. O executivo franco-brasileiro considerava o mercado chinês uma prioridade e motivo de orgulho para a Nissan.
Relembre o caso Ghosn
Detido em Tóquio desde 19 de novembro, Ghosn é acusado de fraude e de uso indevido de recursos do grupo Renault-Nissan. Ele foi solto sob fiança no dia 5 de março pelo Tribunal de Tóquio. Os juízes japoneses determinaram uma fiança de 1 bilhão de ienes (cerca de R$ 33,8 milhões).
Saiba mais: Advogado de Carlos Ghosn, Motonari Otsuru, pede demissão
O executivo de 64 anos foi acusado de fraude fiscal e uso de verbas da empresa para uso pessoal. Ele teria omitido em suas declarações de renda às autoridades da Bolsa de Valores nipônica. Além disso, Ghosn teria escondido quase R$ 167 milhões entre 2010 e 2015.
Seu braço direito, Greg Kelly, também foi acusado de ter ajudado a ocultar valores.
Saiba mais: Carlos Ghosn deixa presidência da Renault; Conselho já tem novo nome
Ghosn também é suspeito de ter repetido a fraude, entre 2015 e 2018, totalizando 4 bilhões de ienes (cerca de US$ 35 milhões). Esse ponto havia provocado uma primeira prorrogação do período de detenção.
Saiba mais: Carlos Ghosn pode sair da prisão se confessar culpa, diz filho
Além das acusações de não ter declarado sua renda real, a Nissan afirma que seu ex-presidente utilizou ilicitamente residências de luxo espalhadas em vários países do mundo pagas pela empresa.
Ghosn teria até organizado uma viagem no Rio de Janeiro durante o Carnaval paga pelas empresas. O executivo e sua esposa convidaram oito casais de amigos para passar a festa na capital fluminense em 2018. No total, a viagem custou US$ 260 mil (cerca de R$ 977,6 mil) e teria sido paga pelo grupo Renault-Nissan.
Saiba mais: Ghosn teria organizado Carnaval no Rio às custas da Renault-Nissan
A Nissan também é investigada como pessoa jurídica. A Promotoria suspeita da responsabilidade da empresa, que forneceu os relatórios falsos às autoridades da Bolsa de Valores.
Saiba mais: Renault cancela bônus de R$ 126,9 mi para Carlos Ghosn
A detenção de Ghosn, que foi destituído da presidência da Nissan poucos dias depois de ser preso, resultou de uma investigação interna da empresa. O executivo também foi destituído da presidência da Mitsubishi Motors.
O executivo era considerado uma “estrela” no mundo do setor automotivo mundial. Principalmente por sua capacidade de restruturar empresas em crise e cortar custos. Ele salvou a Nissan, que no inicio dos anos 2000 estava prestes a falir. Ghosn chegou a ganhar um status de herói no Japão, tanto que sua trajetória foi ilustrada em mangás, as histórias em quadrinhos japonesas.
A prisão de Ghosn provocou uma crise na aliança entre a Nissan e a Renault. A aliança industrial entre as duas montadoras foi criada em 1999, costurada próprio por Carlos Ghosn. Com a entrada da Mitsubishi Motors, se tornou o maior grupo mundial do setor automobilístico.