Campos Neto: “Mercado de cartões no Brasil vai mudar muito”
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o mercado de cartões vai mudar muito nos próximos três ou quatro anos. Ao projetar como o sistema financeiro deve avançar no futuro, ele listou iniciativas que ainda não são realidade no Brasil.
Campos Neto defendeu, por exemplo, carteiras offline para pequenos pagamentos, mas ponderou que os bancos ainda não investiram nessa frente. Segundo ele, as pessoas poderiam transferir pequenas quantias e usá-las sem a necessidade de estarem conectadas.
O presidente do BC avaliou ainda que o Pix, ferramenta de pagamentos instantâneos, deveria ter menos cliques para cada transação e que poderá ter mais funcionalidades. Ele também mencionou a necessidade de carteiras digitais e afirmou que há duas empresas que estão trabalhando nessa frente.
“Depois de integrar todos os seus dados financeiros, suas transações, tudo o que você faz, será armazenado em uma carteira digital e então você poderá monetizá-la”, explicou. “E queremos adicionar muito mais recursos no Pix. As oportunidades são infinitas”, acrescentou. Segundo ele, o Pix já é mais popular que todos os outros meios de pagamentos no Brasil. Na semana passada, a ferramenta atingiu cerca de 170 milhões de transações em apenas um dia.
Mudanças nos juros do cartão de crédito vêm sendo alvo de discussões no governo e entre bancos e operadoras de “maquininhas”.
Ele afirmou ainda que o Brasil está desenvolvendo o maior sistema de open finance que existe. Trata-se de uma plataforma que permite o compartilhamento de informações de clientes entre as instituições financeiras. De acordo com Campos Neto, o objetivo é que os usuários possam, no futuro, comparar as taxas cobradas por diferentes instituições financeiras em tempo real.
Sobre o Drex, projeto de real digital, afirmou que deve estar pronto em até um ano e meio. Segundo ele, o projeto brasileiro é mais barato e simples pelo fato de ser apenas um token. Além disso, o real digital também pode se valer da regulamentação já existente e o BC não vai precisar criar novas regras.
Em sua avaliação, se for possível conectar moedas digitais de países, será possível ter o mesmo efeito de uma moeda comum. “A moeda digital trará muito mais eficiência para os bancos”, projetou. O presidente do BC admitiu ainda que o Drex não é um “bom nome” em algumas línguas, mas é tarde para trocar. “Alguns judeus disseram que Drex não é um bom nome. Mas não é Drek, é Drex”, explicou.
Campos Neto está em Miami, nos Estados Unidos, para receber o Prêmio Bravo Beacon of Innovation pelo Pix. A iniciativa reconhece a excelência e a liderança nos negócios e em políticas no Ocidente.
Apesar dos conflitos geopolíticos, houve melhora nas condições internas, diz Campos Neto
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, destacou nesta quinta-feira, 19, que nas últimas semanas houve uma mudança grande no cenário mundial, com efeito sobre o quadro econômico. Participante do 7º Encontro Regional da Fenabrave-MT, no Centro de Eventos do Pantanal, em Cuiabá, o banqueiro central ponderou, no entanto, que, apesar dos conflitos geopolíticos, houve melhora nas condições internas do Brasil.
“Temos tido notícias boas tanto no crescimento quanto na inflação”, afirmou Campos Neto sobre o ambiente doméstico.
Ele reiterou que o Brasil tem apresentado números qualitativamente melhores de inflação e que o País é um dos poucos com expectativas de inflação para 2023, 2024 e 2025 dentro da meta.
O presidente do BC reafirmou que os núcleos de inflação têm desacelerado bastante em países emergentes, mas que seguem em níveis ainda elevados em países desenvolvidos.
A resistência registrada na queda da inflação, pontuou, foi tema na última reunião do FMI.
Piora acentuada de percepção de risco dos EUA
O presidente do BC destacou que, à exceção de Israel, os Estados Unidos foram o país com a piora mais acentuada na percepção de risco país, com base no Credit Default Swap (CDS) de cinco anos.
“Isso mostra que o tema do fiscal, do endividamento e da política também é importante para o mundo como um todo, porque os EUA são o grande motor do mercado de capitais“, disse Campos Neto.
O banqueiro central argumentou, na sequência, que as distorções criadas por programas governamentais destinados a alguns setores no país estão atreladas a essa percepção de piora fiscal.
O presidente do BC ressaltou que a expectativa do mercado para a dívida pública norte-americana sofreu um revés. Apesar do aumento nos últimos dez anos, a perspectiva ainda era de retorno das quedas, agora, porém, o mercado espera um aumento grande da dívida, pontuou. “A projeção é que vá para 120% do PIB.”
Juros norte-americanos
Campos Neto lembrou também que, há cerca de três ou quatro meses, o mercado esperava uma queda grande dos juros norte-americanos em 2024. “Agora, basicamente, quase não se espera mais”, emendou o banqueiro central, que acrescentou que o mercado também vê 50% de chance de uma alta adicional de 0,25 ponto porcentual.
Os juros americanos em nível elevado, ressaltou, drenam a liquidez que seria destinada ao mundo emergente. “Quando vemos uma empresa americana boa, com classificação boa, emitindo título de dívida pagando 7,5% ou 8% por sete anos, isso é um problema. Se uma empresa boa americana paga 7,5% ou 8% drena liquidez que viria para o mundo emergente”, exemplificou Campos Neto.
Com Estadão Conteúdo