Em painel da primeira edição do Warren Institutional Day nesta segunda-feira (28), o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, destacou que a última decisão de juros realizada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em agosto “não trouxe muitas surpresas” e que ela é “muito mais técnica do que se pensa”.
O corte na taxa Selic de 13,75% ao ano para 13,25% foi o primeiro desde agosto de 2020. A decisão não foi unânime, mas chamou a atenção pela intensidade do ajuste, abrindo caminho para um maior afrouxamento monetário.
Segundo o presidente do Banco Central, a autarquia trabalha com regime de metas, um campo que é flutuante, dentro de uma ancoragem fiscal. De acordo com ele, a equipe técnica dá os guias que serão usados na reunião do Copom, e isso deve continuar nos próximos encontros.
“Em geral, o debate é muito mais técnico do que se pensa. Não tivemos grandes surpresas neste Copom. Eu me assustei com a forma como as pessoas se assustaram”, disse Campos Neto, repercutindo sobre a decisão.
Para Campos Neto, o Banco Central também tem procurado evoluir a forma como divulga a determinação de juros, pontuando que a diferença entre a comunicação sobre a taxa e a divulgação da ata acaba gerando certo ruído. “Temos visto como melhorar”, disse.
Sobre as perspectivas econômicas para os próximos meses no Brasil, Campos Neto alertou que se houver uma desaceleração sem aversão ao risco, é preciso ver como isso afeta as commodities. “Na parte de alimentos, vai depender como a desaceleração vai ocorrer. Alguns temas podem trazer esse cenário, como a promessa de freio fiscal”.
Economia internacional
Campos Neto chamou a atenção para a América Latina, citando países como México e Chile, que têm melhorado seus números de inflação. Entretanto, fez um alerta importante sobre a China, sobretudo devido à questão da crise imobiliária no país que tem se acentuado nos últimos meses.
“Há uma queda de juros bastante baixa, além do tema da inadimplência, que começou a pegar outros créditos. No geral, a atividade econômica tem projeção de crescimento caindo por lá”.
Enquanto isso, nos Estados Unidos, Campos Neto acredita que o país cresce, mas com custo fiscal. “Quando existe esse tipo de ação coordenada e todos os governos fazem uma coisa parecida tanto no fiscal quanto no monetário, temos dificuldade de dimensionar o efeito”, afirmou.
Agenda tecnológica
Sobre a agenda tecnológica, o presidente do Banco Central também chamou a atenção para os avanços em relação à inteligência artificial, e como isso tem sido observado de perto pelo Banco Central.
“Qualquer empresa que faz alguma coisa de inteligência artificial vale o dobro. Vai gerar grande inovação e ganho. A diferença entre as companhias que ganharam ou não com a inteligência artificial foram as que a usaram junto com o trabalhador, e não contra ele”, destacou.
Ainda nesta pauta, o presidente da autarquia citou a questão dos criptoativos, destacando que as pessoas estão cada vez mais procurando representar um ativo de forma digital, sobretudo pela facilidade de distribuição.
“Será que estamos indo para uma economia tokenizada? Nós, do Banco Central, achamos que sim. Entendemos que é importante estar nesse direcionamento, e isso vem de muito tempo”. explicou Campos Neto.