O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a condução da política monetária ficou mais complexa diante do momento de incertezas em relação à economia brasileira.
A declaração de Campos Neto foi feita nesta sexta-feira (3). O presidente do BC participou do Finanças Mais, organizado pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), pelo jornal O Estado de S. Paulo e pela Austin Rating.
“A gente tem todos os choques externos, choques internos, a crise hídrica, além de um ruído eleitoral. De fato tudo isso dificulta muito a condução da política monetária”, disse Campos Neto.
“Mas o BC tem de pensar que a nossa missão é atingir a meta, entregar a meta de inflação, isso é o elemento mais importante para garantir a estabilidade com crescimento sustentável de curto, médio e longo prazo.”
Segundo Campos Neto, o descolamento da inflação em relação à meta na época em que a taxa Selic atingiu a mínima histórica, em 2,0%, é maior do que o observado hoje, quando o BC está em um ciclo de aumento de juros para perseguir a meta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2022.
“Com os dados que a gente tinha naquele momento, a desancoragem para baixo em termos de magnitude era muito maior do que ela é para cima hoje. A gente está num exercício de olhar para o outro lado, entendendo essa inércia, os diversos choques”, afirmou.
Campos Neto disse que a melhor forma de lutar contra as dificuldades de calibragem da política monetária é explicitar essas dificuldades e atuar com uma comunicação eficiente para o mercado.
O presidente do BC afirmou ainda que a diferença entre projeções de inflação do mercado e da autarquia parte de questões sobre ritmo de fechamento do hiato do produto e inércia inflacionária.
De acordo com Campos Neto, o Banco Central deve explicitar mais as suas visões sobre a trajetória do hiato do produto no próximo Relatório Trimestral de Inflação (RTI).
Cenário global é de alta da inflação, diz Campos Neto
O presidente do Banco Central afirmou ainda que surpresas para cima nos índices de inflação têm sido observadas em grande parte do mundo, com pressões disseminadas tanto nos preços ao consumidor, quanto nos custos de produção.
“O grande exercício agora é saber qual é a passagem dessa inflação que veio do produtor para o consumidor“, comentou Campos Neto.
“Existe um movimento de reprecificação de inflações para a frente, com as inflações mundiais subindo e algumas que estavam encontrando uma estabilidade voltando a subir recentemente, como Alemanha e Inglaterra.”
Gargalos vistos pelo BC
Campos Neto disse também que os gargalos na economia global, com produção limitada e demanda maior, têm piorado recentemente. O presidente do BC citou o fechamento de fábricas de carros no Brasil por falta de componentes como um sintoma deste problema.
Ele ressaltou que a escassez de semicondutores que atinge o setor automotivo é a pior desde 1996.
O presidente do BC também mencionou que a economia mais digitalizada, com maior demanda por equipamentos de trabalho eletrônico, pode criar uma mudança estrutural de demanda por bens.
Campos Neto afirmou ainda que a agenda de sustentabilidade tende a criar uma pressão de preços no curto prazo, batizada por ele de inflação verde, com aumento da demanda por alguns materiais.
Com informações do Estadão Conteúdo