O mega-investidor norte-americano Warren Buffett admitiu pela primeira vez que pagou demais para a operação de fusão que criou a Kraft Heinz.
A declaração de Buffett chega poucos dias depois que sua holding de investimentos Berkshire Hathaway foi obrigada a registrar uma baixa contábil multibilionária em sua participação na fabricante de alimentos.
“Pagamos demais pela Kraft,” afirmou Buffett durante uma entrevista concedida ao canal de televisão CNBC, “uu estava errado, em um par de coisas, sobre Kraft Heinz”. Em 2015 o mega-investidor juntou as forças com a gestora brasileira de fundos de investimentos 3G Capital para comprar a Kraft e fazer sua fusão com a Heinz.
A 3G Capital é controlada pelos brasileiros Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. Lemann é amigo pessoal de Buffett.
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Entretanto, Buffett afirmou na mesma entrevista que não comprará nem venderá ações na Kraft Heinz. Ele anunciou que a Berkshire Hathaway não alterará sua participação na fabricante de alimentos.
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“Eu nunca deveria dizer nunca, com meus 88 anos, sobre o que outra pessoa poderá fazer, mas posso dizer que não tenho intenção de vender, não tenho a intenção de comprar”, declarou Buffett, em uma entrevista concedida à rede de televisão americana CNBC.
Mesmo admitindo o erro no cálculo do preço, o mega-investidor defendeu a gestão da Kraft Heinz das críticas em relação ao baixo investimento nas marcas. Buffett, que fez parte do conselho da empresa controlada pela 3G Capital, salientou que “viu muita inovação”. Entretanto, ele explicou que é difícil para novos produtos ganhar mercado e que a Kraft fez um erro estratégico pensando que detinha um poder de barganha com os varejistas maior do que possuía na realidade.
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O mega-investidor também acusou as novas tarifas alfandegárias impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, de prejudicar os negócios. Em particular, o aumento da tarifa de 10% sobre a importação de alguns produtos chineses. Segundo Buffett, “isso empurra os preços para cima, não há dúvida disso”.
Entenda o caso
As ações da Kraft Heinz desbaram na Bolsa de Valores dos Estados Unidos nos últimos dias. Uma queda iniciada na última quinta-feira (21), após a notícia de uma intimação recebida da Securities and Exchange Commission (SEC). Além disso, a negociação dos papéis foi influenciada negativamente pelo corte nos dividendos.
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Junto com seus resultados do quarto trimestre de 2018, a Kraft Heinz informou que foi intimada pela SEC em outubro passado. A empresa está sendo investigada pelo órgão de vigilância da Bolsa de Valores dos Estados Unidos. No específico, estão sendo analisadas as práticas contábeis da empresa.
Além disso, a Kraft Heinz anunciou uma corte de US$15,4 bilhões no valor das marcas Kraft e Oscar Mayer. Também foi anunciada uma perda no quarto trimestre, chegando a US$ 12,6 bilhões. E um corte de seu dividendo por ação para US$ 40 centavos. O mercado esperava um dividendo de US$ 62,5 centavos por ação. Segundo analistas, esse corte sinalizaria como a pressão sobre o caixa da empresa continua intenso.
No acumulado de 2018, a Kraft Heinz registrou um lucro de US$ 84 centavos por ação e uma receita de US$ 6,89 bilhões. Um resultado aquém das expectativas do mercado, que previa um lucro de US$ 94 centavos e uma receita de US$ 6,93 bilhões.
Após essas notícias, as ações da empresa acabaram sendo negociadas abaixo de US$ 38.
A Kraft Heinz salientou estar cooperando plenamente com a SEC e informou ter lançado uma investigação interna após receber a intimação. “A empresa está no processo de implementar certas melhorias em seus controles internos para mitigar a probabilidade de isso ocorrer no futuro e tomou outras medidas corretivas”, informou a Kraft Heinz.
A intimação da SEC seria relacionada às “políticas contábeis, procedimentos e controles internos” nas aquisições. Após a notificação, a Kraft teria modificado o “custo dos produtos vendidos” em US $ 25 milhões. Entretanto, a empresa considerou que o aumento era “imaterial para o quarto trimestre de 2018 e os trimestres já reportados de 2018 e 2017”.
A empresa informou que está aprimorando seus controles e procedimentos internos para evitar futuros casos similares.
Momento de tensão
A notificação da SEC chega em um momento turbulento da história da Kraft Heinz. Em abril do ano passado, Marcel Telles deixou o board da empresa. Além disso, os investidores estão se mostrando insatisfeitos com a gestão da empresa. E isso tudo aumentou a pressão sobre o CEO Bernardo Hees.
“Ainda acreditamos firmemente que nosso modelo está funcionando e tem muito potencial para o futuro”, declarou Hees em uma videoconferência com analistas e investidores. O CEO da Kraft Heinz salientou como a administração estava “desapontada” com os níveis de lucratividade. “Estávamos muito otimistas em entregar cortes de gastos que não se concretizaram”, afirmou o executivo.
Nesta segunda-feira (25) as ações da Kraft Heinz estão registrando fortes perdas na Bolsa de Valores de Nova York.