Uma disputa entre os sócios da Eldorado fez a fabricante de celulose desistir de emitir R$ 500 milhões em títulos de dívida.
A J&F, da família Batista, detém 50,6% das ações da Eldorado. Os outros 49,4% são da Paper Excellence, dos Widijaja. E eles não se entendem.
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A emissão havia sido aprovada na última quarta (6) em assembleia com os acionistas. A J&F votou a favor e a Paper Excellence, contra. Os Batista, então, acusaram a produtora de papel de atrapalhar a empresa, enquanto os Widijaja questionaram a transparência da operação.
A fabricante emitiu um comunicado na quinta (7), conforme publicado pelo jornal Folha de S.Paulo, agradecendo aos investidores nos Estados Unidos e na Europa por terem participado do roadshow e informando a desistência da emissão dos títulos. A Eldorado havia dito aos investidores que o objetivo da operação era reduzir o custo do seu endividamento.
“Por causa dos recentes acontecimentos, incluindo as ações tomadas pela Paper Excellence contra a transação proposta os níveis de preço dos bônus excederam os esperados pela companhia, por isso decidimos revistar o mercado mais tarde”, dizia o comunicado. A fabricante também afirmou que a emissão do bônus foi “transparente, consistente, completa e correta” e lamenta que “um de seus acionistas tenha se sentido desconfortável e tomado atitudes que afetaram operação que seria de extrema importância”.
No mesmo dia, a Paper Excellence obteve uma liminar que impedia a emissão de bônus. Conforme o argumento apresentado, a Eldorado não pode tomar novas dívidas enquanto a disputa entre os sócios não for resolvida pela arbitragem. O Tribunal de Justiça de São Paulo aceitou parcialmente a justificativa.
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Os protagonistas da disputa
A Paper Excellence é uma multinacional de direito holandês controlada pela família Widjaja, mesma dona da Asia Pulp and Paper (APP), fundada em 2007. Desde então, vem adquirindo fábricas no Canadá e na Europa, e produz hoje um total de 2,3 milhões de toneladas de celulose por ano. O grupo possui 5 fábricas no Canadá e três na França. O interesse estratégico da Paper Excellence era ficar sozinha na Eldorado. A empresa brasileira teria sido a base de sua expansão na América do Sul.
A J&F, por sua vez, iniciou um processo de venda de seus ativos após o escândalo de corrupção envolvendo seu fundador, Joesley Batista. A empresa de holding já vendeu a Vigor para o grupo Lala, do México, por R$ 5,72 bilhões, e também sua participação de 54,24% na Alpargatas por um total de R$ 3,5 bilhões. Além disso, a J&F anunciou em junho a venda de ativos do frigorífico JBS na Argentina, Paraguai e Uruguai à Minerva, como uma forma de cortar dívidas e levantar capital.
A empresa dos irmãos Batista fechou um acordo com o Ministério Público para pagar uma multa de R$ 10,3 bilhões durante um período de 25 anos.
Decisão nas mãos da Justiça arbitral
No fim de novembro, a Justiça decidiu em segunda instância não dar mais prazo para resolver o caso e também que a câmara de arbitragem tenha a palavra final. Ambos os pedidos foram apresentados pela compradora. Mas a abertura do processo arbitral abre espaço para pedidos de indenização dos dois lados.
A Paper Excellence, por exemplo, alugou um escritório para mais de cem pessoas, que está vazio até hoje por causa da disputa. Por sua vez, a J&F alega que também teve prejuízos em decorrência do litígio envolvendo a Eldorado.